Mais uma oração para este tempo de pandemia

Bondoso Deus, nós seguimos isolados uns dos outros, seguimos sem prever o fim dessa pandemia e sem saber para onde correr. Parece um pesadelo o que estamos vivendo… Um pesadelo do qual não vemos a hora de acordar.

Mas nós não vamos acordar, não é Senhor? Não existe essa possibilidade, porque o que estamos vivendo não é um sonho ruim. É pior. É real. O coronavírus segue infectando, contagiando, adoecendo, internando, assassinando. Muitas pessoas estão sofrendo de verdade, Pai, e nós estamos com medo, preocupados e tristes.

Tem um bailarino que não vai mais dançar no Teatro Municipal, um médico que não vai mais operar no hospital Miguel Couto. Uma igreja perdeu seu pastor, uma sala de aula está sem seu professor, uma empresa lamenta a ausência de seu colaborador. Morreram avós, quase que simultaneamente, sem a chance de verem seus netos se formarem na faculdade. Pais deixaram áudios agoniados antes de serem entubados. Muitos morrem sem conseguir leito nas UTIs. Os hospitais estão abarrotados de pessoas distantes dos seus seres queridos. Quem segurou a mão dessas pessoas nos seus últimos fôlegos, Senhor? Algum anjo teu o fez? Dize-nos que sim, por favor!

Estamos devastados, Pai. Em alguns lugares, faltam tubos de oxigênio, remédios e EPIs. Estão faltando caixões em funerárias e lotes em cemitérios. Nós pensávamos que estávamos seguros. Como foi que nos enganamos tanto?! Não há segurança nesse mundo caído e quebrado. Fomos flagrados mal preparados para lidar com o sofrimento e com a realidade da morte.

Estamos divididos, ó Santíssima Trindade. Tu que és a perfeição da diversidade na unidade deves estar decepcionada com a gente, não é verdade? Estamos em guerra um com outro. O ódio dentro de nós está sendo provocado. Nossas ansiedades estão controlando nossa fala e nossa escuta. Estamos desesperados por salvação, por respostas, por controle. Ao invés de lamentar diante de ti como o salmista fazia, vociferamos contra alguém, somos insensíveis com a fraqueza, a dor e o ponto de vista do outro. Queremos culpados.

Estamos suscetíveis. Isolados, presos a – quando muito – frias conexões virtuais, nossos nervos estão à flor da pele. E é desse jeito, nesse turbilhão de emoções, que nós viemos ao Senhor. Não pedimos tua ajuda, suplicamos por ela. Não solicitamos, nós te imploramos. Sabemos o que o Senhor pode fazer. Conhecemos os relatos. Ponderamos com as histórias e oramos: De novo, Senhor. De acordo, a tua santa vontade, faz de novo.

Te lembras de José? Tu o resgataste do buraco, Senhor. Faz o mesmo com a gente. Tira-nos desse buraco. Te lembras dos hebreus no Egito? Tu protegeste seus filhos do anjo da morte. Nós também temos filhos, Pai. De novo, Senhor. E Sara? Te lembras das orações que ela fazia? O Senhor as ouviu. E Josué? O Senhor se lembra dos temores dele? O Senhor o inspirou. As mulheres diante do túmulo do teu Filho? O Senhor ressuscitou suas esperanças. As dúvidas de Tomé? O Senhor acabou com elas. Faz de novo, Senhor. Ah, faz de novo.

O Senhor fez do cativo Daniel um conselheiro do rei. O Senhor pegou o Pedro pescador de peixes e o tornou em Pedro, o pescador de gente. Por causa do Senhor, Davi foi de liderar ovelhas para liderar o exército e a nação de Israel. Faz de novo, Senhor, porque precisamos de conselheiros hoje, precisamos de missionários, precisamos de líderes. Faz de novo, Senhor. Continua fazendo.

Acima de tudo, faz de novo o que o Senhor fez no Calvário. O que nós estamos vendo a cada telejornal, o Senhor, de certa forma, viu na Sexta-feira Santa. Injustiça, solidão, apavoramento, discípulos perplexos, mulheres chorando, o mal rindo. O teu Filho foi contaminado com o vírus do nosso pecado, o vírus que está na raiz de todos os demais vírus, e, por causa daquele vírus, houve silêncio, houve dor, houve tragédia, houve caos, houve morte.

Mas o Senhor não hesitou! E depois de três dias numa cova escura, o Senhor rolou a pedra, estremeceu a terra e tornou a sexta-feira de trevas no mais brilhante dos domingos. Que o poder da ressurreição, que desde o nosso batismo o Espírito Santo trouxe para cada um de nós, nos encha de dínamis para enfrentar qualquer coisa. Faz de novo Senhor… Páscoa todos os dias, Senhor.

Nós te agradecemos pelos sinais do teu reino. Nos diálogos de paz. Nas iniciativas de união. Nos projetos de amor. No irromper de fé em crentes e descrentes. Te agradecemos pelas curas e pelas conversões. Pelas vacinas e gestos de solidariedade entre amigos e estranhos. Teu Espírito tem trabalhado incessantemente por todo o mundo. Em muitos corações. Em nós.

E oramos nos unindo com cada uma das orações que estão sendo feitas. Quanto incenso dos teus santos está subindo até os céus! O inimigo tentou nos botar de joelhos e ele conseguiu. Só que ele não imaginava, entretanto, que nos ajoelharíamos diante de ti. É assim que estamos, ó Deus. De joelhos, diante de ti.

Kyrie Eleison! Tem piedade, Senhor, de acordo com teu abundante amor. Tem misericórdia de todos os que trabalham na linha de frente na contenção desta pandemia. Tem misericórdia de todos os que foram chamados para trabalhar, cada um com sua vocação sagrada, para que tenham sabedoria e energia para muito além de seus anos e experiências. Tem misericórdia das almas dos que partiram, tem misericórdia dos enlutados, tem misericórdia dos que permaneceram.

Perdoa-nos em nossos pecados, Senhor. Dê-nos a graça de perdoar a quem precisamos perdoar, a esperança para esperar o que precisamos esperar, a fé para confiar em quem precisamos crer e o amor para agir no que precisamos fazer.

Olha com bondade pela tua igreja, pela tua noiva. Por dois mil anos, o Senhor tem usado esta família imperfeita, e ainda assim, santa, para testemunhar o evangelho a este mundo quebrado. Continua usando-nos, Senhor, mais do que nunca. Em nome de Cristo. Amém.

Laerte Tardelli Voss

Rio de Janeiro, RJ

www.igreja-cristoredentor.org.br

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