Nossa reação diante do reino de Deus

A quaresma é caracterizada como um período de reflexão sobre o significado da morte e ressurreição de Jesus por toda a humanidade. É tempo de olhar para o cumprimento da promessa de Deus em salvar o ser humano, perdido por causa de seu pecado. Parar, refletir e redirecionar a vida nas atitudes, numa transformação, para viver de modo diferente e melhor, é o desejo de todas as pessoas, especialmente dos cristãos, pois sabem da origem do perdão dos seus pecados e do amor de Deus revelado em Jesus. Então, ao percebermos a manifestação do reino de Deus diante de nós, qual tem sido a nossa reação? É sobre este assunto que eu me proponho a responder nas linhas que seguem.

Um texto lido nas igrejas no domingo que antecede o início da Quaresma é o da transfiguração de Jesus, registrado nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. O fato acontece da seguinte forma: Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João para um alto monte e ali foi transfigurado diante deles. Transfigurar significa mudar a forma. O evangelho diz que suas vestes se tornaram resplandecentes. Neste episódio também apareceram Moisés e Elias, que falavam com Jesus. O momento era tão especial que Pedro teve a ideia de construir umas cabanas para que ficassem ali e prolongassem esta experiência. De repente uma nuvem os envolveu e ouviu-se a voz de Deus, que disse: “Este é o meu Filho amado, a ele ouvi”. Após isso, ficaram somente Jesus e os discípulos.

Numa análise teológica ou doutrinária do texto, destacamos:

Vida após a morte

Com a presença de Moisés e Elias conversando com Jesus, torna-se clara a ideia da vida após a morte. Estes personagens não são fictícios, mas reais. Estão no paraíso, junto de Deus. Apesar de alguns grupos religiosos não acreditarem nisso, para nós, cristãos, a vida após a morte é real. Assim também cantamos: “Estamos no mundo, mas dele não somos, aqui nós vivemos distantes do lar; a nossa morada de paz se reveste, a pátria celeste é o nosso lugar” (HL, 389,1).

Comunicação do Pai e do Filho

Este assunto é interessante, porque nós também o encontramos em outros textos bíblicos. Por exemplo, por ocasião do batismo de Jesus, a Trindade estava presente, e lá também se ouviu a voz de Deus, “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). Ainda, podemos voltar um pouco mais no tempo, em Gênesis, quando Deus decidiu criar o homem e a mulher, ele disse: “Façamos o homem à nossa imagem” (Gn 1.26). Aqui temos a ideia de comunicação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Trindade).

Glória de Deus

O brilho das roupas, o quadro da transfiguração, tudo aponta para a manifestação da glória de Deus. Por isso, Pedro ficou maravilhado com o que viu.

Céu, lugar da presença de Deus. A ideia que percebemos no texto da transfiguração é como se ali fosse o céu, presenciado pelos discípulos. O céu, assim como para Elias e Moisés, é o nosso destino. Aqui estamos apenas de passagem, pois a nossa verdadeira morada é o céu. A partir daí vemos que o texto também aponta para a ressurreição de todos os mortos. Se Jesus voltar depois da nossa morte, podemos ter a certeza absoluta que iremos ressuscitar e também o nosso corpo irá desfrutar da eternidade.

Por que Moisés e Elias? Talvez algumas respostas possam ser porque Moisés morreu, conforme o relato bíblico, mas não se sabe onde foi sepultado (Dt 34). Elias foi arrebatado, ou seja, não passou pela morte física (2Rs 2.1-9). Outra resposta poderia ser porque Moisés representa a lei e Elias representa os profetas. E os dois, neste encontro, estão falando com Jesus. Pode também indicar que há uma ligação de Jesus com as profecias do AT, ou que ele é o resultado do cumprimento da profecia. Nada mais interessante a ser observado quando se inicia a quaresma. Jesus veio ao mundo por causa do amor de Deus por todas as pessoas. Jesus veio para salvar a todos dos seus pecados, cumprindo assim com a promessa de Deus em enviar um Salvador.

A reação de Pedro indica a sua maravilhosa experiência. Pedro tem o desejo de prolongar esse momento. Ele propõe fazer três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias. Pedro viu a glória de Deus. Pedro sentiu-se acolhido no reino de Deus. Diante disso, perguntamos: Qual a nossa reação diante do reino de Deus? O seu reino se manifesta de muitas maneiras. Vejamos alguns exemplos disso:

No batismo – quando uma criança é levada à pia batismal, não somente os pais, padrinhos e amigos se alegram. Há uma grande festa nos céus. Os anjos de Deus se alegram. Uma criança faz parte do reino de Deus através da água que é aplicada, juntamente com as palavras “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e Espírito Santo”. Que experiência maravilhosa é esta pela qual já passamos! Alguns há mais tempo; outros há pouco. Como responder a isso?

Na palavra – lida e anunciada, Deus está presente. É através dela que somos ensinados nas verdades cristãs. Seja de púlpito, em devoções particulares ou em nossas leituras, Deus está falando conosco!

Na Santa ceia – através do pão e do vinho recebemos o corpo e o sangue de Jesus para perdão dos nossos pecados e o fortalecimento de nossa fé, anunciando e testemunhando a morte de Jesus até ele retornar para nos buscar para juntos vivermos com ele lá no céu, face a face.

Na absolvição – que maravilha quando ouvimos: “Os teus pecados estão perdoados”! É como um bálsamo em nossas feridas.

No cuidado de Deus – dia após dia somos cuidados por Deus. Nem sempre temos consciência disso, mas de manhã, de tarde ou à noite, Deus está conosco, cuidando da gente, nos livrando e nos protegendo, como Pai amoroso.

Nas respostas às nossas orações – “Invoca-me no dia da angústia, eu te livrarei e tu me glorificarás” (Sl 50.15). Esta é a promessa de Deus em ouvir e atender às nossas orações.

Diante de toda esta manifestação do reino de Deus em nós, como reagimos? Quais tem sido as nossas respostas? Neste período da Quaresma, somos convidados a fazer as nossas reflexões a respeito de tudo isso, e que tenhamos sabedoria para refletir, entender e agir de forma diferente, contribuindo para uma vida melhor tanto na nossa relação com Deus e também com o nosso próximo. Eis algumas sugestões de ações de como isso pode acontecer:

– Na participação dos cultos e atividades de nossa igreja (sejam presenciais ou on-line) – somos privilegiados por ter oportunidades tão especiais para louvar e adorar ao nosso Deus.

– No testemunho da nossa fé em Jesus, seja através de nosso falar bem como também quando usamos as redes sociais. O nosso testemunho alcançará muitos para Jesus.

– Nas ofertas e contribuições, não somente financeiras, mas também os nossos dons e talentos, todos eles são consagrados ao Senhor.

– No compromisso de andarmos juntos, como parceiros, dentro do reino de Deus. Famílias e igreja, todos na mesma direção, em servir a Jesus.

– Nas nossas relações com o nosso próximo e com Deus. Não há espaço para a maldade, até porque ela não nos leva a nada.

Enfim, a partir dessa nossa relação com Deus, vamos “construir cabanas”, não literalmente, mas vamos proporcionar o bem-estar entre todas as pessoas. Queremos prolongar essa experiência com Jesus enquanto aqui estivermos, usufruindo de toda bondade e misericórdia de Deus em nossa vida até chegar o dia em que estaremos, assim como Elias e Moisés, diante de Deus, no céu. Que a reflexão nesta quaresma nos leve para perto de Deus.

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