Participava mensalmente de um grupo de pastores evangélicos na Cidade do Cabo, África do Sul, quando fui pastor lá por sete anos. Um dos temas que foi muito debatido durante certo tempo, foi a intenção do governo em interferir nas leituras bíblicas e pregações da igreja, no que diz respeito ao homossexualismo. Rumores corriam que, se um pastor se recusasse a fazer um casamento homossexual, ele poderia ser penalizado. Mudou o governo, parou esta conversa, pelo menos por enquanto.
Na mesma época, ouvi que uma confeitaria nos Estados Unidos foi multada e ameaçada de ser fechada porque se recusara a fazer um bolo para um casamento homossexual.
Os direitos dos LGBT foram exigidos em muitos países, e o que há algum tempo era tabu, virou moda. Pessoas famosas se assumiram e declaram publicamente na mídia suas preferências. A questão de gênero entrou nos currículos escolares, e houve uma verdadeira onda varrendo o mundo com essas ideias. Quem ousasse dizer algo contra era considerado retrógrado, se não discriminado.
Isso foi ontem… Ah, se eu ousasse dizer algo contra!
Hoje leio uma reportagem sobre a opinião do Papa emérito Bento XVI a respeito do assunto. Transcrevo assim como li:
“Cem anos atrás, todo o mundo teria achado absurdo falar em casamento gay. Hoje, todo aquele que se opuser a ele é excomungado socialmente”, diz Bento XVI em um livro lançado esta semana na Alemanha (maio/2020). “O mesmo se aplica ao aborto e à criação de seres humanos em laboratório”, acrescenta o Papa emérito na entrevista que encerra a biografia Bento XVI – Uma Vida, com mais de mil páginas e escrita pelo jornalista Peter Seewald.
Bento também expressa seu temor “do poder espiritual do anticristo” e assegura que a real ameaça à igreja vem de “uma ditadura mundial de ideologias aparentemente humanistas”. (Fonte: VATICAN MEDIA/REUTERS)
Logicamente que ele já está sendo muito criticado, como era de esperar. Mas ele teve a coragem de dizer e de publicar o que cada cristão sincero na sua fé gostaria de dizer em alto e bom som, mas não diz com medo de “ser excomungado socialmente”, como disse o Papa.
Não chamo isso de discriminação, pois a igreja não deveria discriminar ninguém. Mas chamo isso de um alerta para que a humanidade abra os olhos para uma realidade que está se tornando comum e aceita cada vez mais até por famílias chamadas “de bem”. É sagrado dever da igreja chamar os pecadores ao arrependimento, e consolar os arrependidos com o perdão de Cristo.
O Papa fala também de “uma ditadura mundial de ideologias aparentemente humanistas”. Fiquei pensando no que está por trás desta afirmação. É interessante observar que pessoas, grupos e governos que exigem respeito à sua maneira de pensar, não respeitam o direito de alguém pensar diferente. No campo ético e político, desavenças surgem entre famílias e amigos por posicionamentos diferentes. Geralmente os da “nova guarda” (se assim os podemos chamar), não aceitam as ideias e atitudes da “velha guarda”. Não estou falando em idade cronológica, mas em termos de conceitos e princípios, como acima já mencionados. Se alguém se deixou convencer pelos modismos que andam por aí, siga seu caminho, mas respeite os que preferem viver e pensar do modo tradicional. Mas lembrem-se de que todos teremos que prestar contas a Deus. E se alguém está seguindo um caminho que é contrário à vontade de Deus, com certeza ele será achado em falta no dia do julgamento. Isso vale para todos nós, pois ninguém é perfeito. Mas se alguém deliberadamente segue ideologias anticristãs e se deixa dominar por estas ditaduras, ainda é tempo de repensar e voltar à graça de Jesus.
O Papa Bento XVI, mesmo tendo renunciado ao seu posto, continua sendo um líder religioso e político reconhecido mundialmente. Podemos, como luteranos, ter nossas críticas a ele. Mas temos que concordar que a sua opinião a respeito destes assuntos deve ser levada em conta diante do contexto em que nós nos encontramos e em que estamos educando os nossos filhos e netos.
Carlos Walter Winterle
Pretória, RSA