Flores, pássaros e a misericórdia do Reino

Enquanto escrevo este texto, próximo ao fogão à lenha aqui de casa, lá fora a pintura é de um clássico dia de inverno candelariense. Não de céu azul e belos raios de sol para aquecer e alegrar o coração. Longe disso! O repertório mais visto neste inverno de 2022 foi o de dias cinzentos, de garoa leve e constante. Um convite para recolher-se. Para desfrutar de um home office aquecido, enquanto, nas ruas, só transita quem realmente precisa.

Quando você, leitor do ML, tiver acesso a este texto, é bem provável que a colorida primavera já esteja batendo à porta. Pedindo passagem para rasgar o tom cinzento. Aliás, os dias com menor incidência de luz solar estão relacionados também à depressão sazonal, especialmente nos países nórdicos, como Finlândia, Noruega e Suécia. Convenhamos. Um dia ensolarado de inverno é um colírio para os olhos. Já os dias cinzentos, eles nos fazem clamar pela colorida, perfumada e ensolarada primavera.

Na sociedade da informação, onde somos bombardeados com informações do acordar ao adormecer, a primavera nos lança um desafio. Desacelerar. Olhar as flores. Apreciar suas belezas e perfumes. Observar os pássaros. Ter olhos e ouvidos para apreciar seu canto ao final de uma tarde primaveril, antes de retirarem-se aos seus ninhos. E mais. Os pássaros e as flores sussurram uma mensagem que precisa ser ouvida. E que mensagem é essa? Há alguém cuidando de tudo. Absolutamente de tudo. Da florzinha do seu jardim. Do pássaro que canta perto de sua casa. De todas as ansiedades que consomem o coração.

Em Lucas, capítulo 12, Jesus convida a observar os corvos. Não semeiam. Não colhem. Não têm depósitos. E, mesmo assim, “Deus dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os pássaros?” Da mesma forma, Jesus convida a observar as flores do campo. Não trabalham. Não fazem roupas para si mesmas. São tão frágeis. Mas Deus as veste com uma beleza que nem mesmo Salomão, em sua glória e realeza, conseguiu igualar. “Então é claro que ele vestirá também vocês, que têm uma fé tão pequena!”

Cercados de pássaros e flores, guardemos no coração o recado de Jesus: “Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus, e Deus lhes dará todas essas coisas” (Lucas 12.31). O criador que cuida das cores e perfumes do jardim é o mesmo que nos dá o seu Reino, de presente. E, com ele, o perdão dos pecados, a salvação, a vida sem fim que há no nome daquele que reina neste Reino, Jesus. Neste Reino não há espaço para culpas e terrores, pois nele brilha a graça e a misericórdia de Deus. É prazeroso colocar este Reino em primeiro lugar. Ouvir sua Palavra. Alimentar-se na ceia. Festejar um batismo. É fortalecer-se em Cristo e acalmar as ansiedades, que, por sinal, não podem nem sequer encompridar nossa vida em um minuto. Pelo contrário, podem é encurtar a vida. Ou, ao menos, tirar a beleza dela.

Ouçamos o que os pássaros e as flores sussurram aos nossos ouvidos. Especialmente quando nos afogamos em nossas ansiedades e preocupações. Alguém está cuidando de tudo. Da simples flor do jardim. Do pássaro que canta despreocupado ao amanhecer. De nossas necessidades. De nossas culpas. De nossos medos. De nosso destino eterno.

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