Estas palavras são uma confissão – e também uma prece – do idoso patriarca Jacó. Ele estava de saúde muito frágil. Por isso, reunindo seus filhos, deu-lhes conselhos finais, abençoou-os e deu recomendações sobre seu sepultamento junto aos fiéis que o precederam no Senhor. De repente, exclamou: “A tua salvação espero, ó Senhor”.
Mas o que nos chama a atenção é que, em meio às bênçãos que concedeu aos filhos, Jacó fez esta exclamação: “A tua salvação espero, ó Senhor”. Ela expressou sua fé na vinda do Messias, do Salvador. As riquezas do Egito e o poder do filho José não enganaram Jacó na fé no Deus Eterno. Em sua alma estava fincada a “escada do céu”, sobre a qual pairava o próprio Senhor Deus, que lhe foi o constante refúgio em suas jornadas peregrinas, e que lhe prometera: “Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra” (Gn 28. 14). Porque Jacó creu que o futuro Jesus Cristo seria esta bênção, sua alma teve o anseio pelo cumprimento desta promessa. Temos, por isso, na confissão de Jacó uma das profecias mais importantes sobre a salvação de todas as famílias da terra. Mas não só isso. O idoso profeta Jacó também soube que sua peregrinação terrena, em breve, alcançaria os portais da eternidade. Longe de entrar em desespero, ele esteve preparado para partir e, como diz o apóstolo Paulo, pronto para “estar com Cristo”.
Com essas palavras, o patriarca deu aos filhos o testemunho inquestionável de que ele estava firme em sua confiança e esperança no Salvador, que o próprio Deus Eterno havia preparado e lhe prometeu, e que, séculos depois, cumpriu enviando Jesus Cristo. Também nos deu provas de que os fiéis do Antigo Testamento creram no mesmo Salvador Jesus Cristo em quem nós cremos. Igualmente testemunhou que a salvação vem do Senhor, ou seja, que é Deus que amou tanto ao mundo que deu seu Filho único à morte, para que este salvasse o mundo. Jacó foi fiel na fé em seu Salvador. Mesmo vivendo séculos antes do advento e natal de Jesus, ele, quando viu a escada do céu e o Senhor descendo sobre ela, ouviu o evangelho do amor redentor de Deus e os cantos dos anjos, tal como aconteceu com os pastores dos campos de Belém.
Queridos leitores, em especial, os idosos. São muitas as recomendações, para nós idosos, por estarmos enfraquecidos, precisamos ficar reclusos no lar. Lembremos, que Jacó, por causa de sua idade, também esteve retido à sombra de sua barraca de pastor de gado. Mesmo quando precisou ser levado pelos filhos e famílias para o Egito, onde havia comida para ele e seu povo e seu gado, Jacó, pelo que a Escritura deixa transparecer, não mais saía de sua tenda. Mas foi esta tenda que ele transformou num santuário ao Senhor. A este convocou seus filhos. Foi ali que ele lhes pregou sobre sua fé inabalável no Salvador Jesus, quando exultou: “A tua salvação espero, ó Senhor”. Esta confissão foi um marco fincado pelo idoso patriarca. Seus filhos e famílias, sempre que recordavam esta confissão, viam este marco, e por ele podiam orientar sua própria fé e os rumos de suas vidas.
Nossa fraqueza física e, consequente reclusão ao lar, não são motivo de pânico. Pois, fomos batizados e, desde então, somos da mesma família espiritual da qual Jacó é um dos patriarcas. Mais do que Jacó e seus filhos, que nem tinham as Escrituras Sagradas por escrito, nós “desde a infância sabemos as Sagradas Letras” que nos tornam “sábios para a salvação pela fé no Salvador Jesus”. Porque temos o evangelho, nós já não mais esperamos pelo Natal do Salvador, como precisou Jacó, mas cremos que aquele “Natal na estrebaria de Belém” é o atestado, dado pelo próprio “menino Jesus”, que a salvação que Jacó almejou, já nos envolve no amor redentor do Senhor. – Contudo, ainda temos participação na confissão e prece de Jacó, e dizemos com este idoso patriarca: “A tua salvação espero, ó Senhor”. Isso porque conhecemos e cremos nas palavras e na promessa do misericordioso Bom Pastor Jesus, quando afirmou: “Eu voltarei, e vos receberei para mim mesmo, para que estejais onde eu estou”. Nós não tememos o poder da morte, mas cremos na vida eterna com Cristo em companhia de todos os patriarcas e fiéis no paraíso celeste.
Acaso poderá haver algo que impeça que nós, cristãos idosos, celebremos – e com imensa alegria – o Natal do Salvador? Ou que nos consolemos com a mensagem do evangelho do nascimento de Jesus? Que o adoremos, como o fizeram os pastores de Belém? Que, acompanhando os “magos do oriente”, demos ao mundo testemunho ousado que nós sempre adoramos ao nascido Rei? Sim, queridos cristãos idosos, com o patriarca Jacó, nós também festejamos o Natal com a prece: “A tua salvação espero, ó Senhor!”
Com estas palavras em mente, iniciamos cada dia. Nós confiamos a vida de nosso corpo frágil e de nossa alma redimida aos cuidados do Senhor, orando com o piedoso Dr. Lutero: “Nas tuas mãos me entrego de corpo e alma, bem como todas as coisas. Esteja comigo o teu santo anjo, para que o inimigo maligno não tenha poder algum sobre mim.” – Sempre concluímos com “amém!”, porque colocamos toda nossa confiança nos ensinos do Senhor.
Com esta fé no gracioso Salvador, carregamos com paciente confiança e esperança as fraquezas da nossa idade, porque sabemos que nossa final redenção ou salvação se aproxima. Ela já nos ilumina. Então Jesus nos erguerá consigo para a eterna celebração do cumprimento de nossa prece: “A tua salvação espero, ó Senhor!”. Benditos, no céu, viveremos o eterno louvor do Natal do Salvador.