Um grito de liberdade

Paulo vinha de uma sequência de interrogatórios. Foi interrogado por Agripa II, por Félix, por Festo – autoridades subordinadas ao imperador de Roma. Paulo era personagem incômoda. Foi preso em Jerusalém por ocasião de festejos que conduziam devotos de toda parte à Cidade Santa. Paulo aproveitou a oportunidade para levar donativos aos pobres da Palestina. Tinha motivos para mover-se cauteloso, cuidou de permanecer calado. Mesmo assim, foi reconhecido por gente dos tempos em que, conhecido como Saulo, perseguia os que eram do “Caminho”. Autoridades ligadas ao Templo não toleravam que um adepto se tivesse tornado discípulo do Crucificado. Paulo foi acusado de perturbar populações em todo o Império. Aos juízes, ele dizia que estava sendo perseguido por anunciar a ressurreição dos mortos. O que isso poderia interessar a administradores romanos? Paulo recordava seu passado farisaico, que os mortos ressuscitariam era doutrina de fariseus. A diferença se revelou aos poucos, os fariseus pregavam que os mortos ressuscitariam num futuro distante, Paulo anunciava a ressurreição já acontecida. O Ressuscitado de que ele era testemunha anunciava dias melhores. As exposições de Paulo iam de textos que falavam da criação até a visões messiânicas. Encontraria melhores juízes em Roma? Um juiz como Pilatos?

Questionável era o comportamento de Félix, governador corrupto, manteve Paulo atrás de grades, aguardava suborno para libertá-lo. Festo sentia o solo tremer, berrou – o que não se espera de um juiz – que Paulo estava louco. Não disse novidade, Paulo sabia que sua mensagem era loucura para gregos e para letrados de sua gente. O insuperável saber o teria precipitado no delírio, mania (Atos 26.24). Se o prisioneiro estava louco, por que Festo não o soltou? A cadeia não cura dementes. Mesmo algemado, Paulo sentia-se livre. Em certo momento do processo declarou desejar que todos fossem como ele, excetuando as correntes. Observação irônica! Acorrentados a ordenanças passadas e a vícios presentes viviam acusadores e juízes. Festo perdeu o controle ao ouvir as palavras corajosas e instruídas do réu, sentiu-se aliviado quando Paulo, cidadão romano, apelou ao supremo tribunal.

Paulo tinha uma mensagem que abalava Roma e o mundo. Nas termas faziam-se planos para ampliar o território, inventavam-se leis para governar povos subjugados. Paulo anunciava um mundo de outros valores: a abolição da escravatura, a remoção da diferença entre nacional e estrangeiro, a elevação da mulher aos privilégios que lhe eram negados. Delírios de Paulo: um mundo sem suborno, mundo em que homens que pensam não são perseguidos, mundo em que a morte não estilhaça, mundo em que a ressurreição é vivida, mundo que se regenera. Paulo tem diante dos olhos o Cristo que morre para renovar. Muitos foram os crimes praticados por pretensos seguidores de Cristo ao longo da história; viva permaneceu a força renovadora da mensagem do Redentor.

Não estamos no fim da história como querem alguns letrados apressados. Vivemos na esperança. Lamentamos o sacrifício dos que morrem por sonharem com dias melhores. Queremos que o mundo continue na rota da renovação, um mundo que não mate os que denunciam atos reprováveis.

Roma tratou Paulo melhor do que súditos do Oriente Médio. Em Roma Paulo aguardava julgamento em casa alugada sob a guarda de um soldado. Recebia e conversava com quem o visitasse. Escrevia cartas a grupos congregados por ele. O autor de Atos dos Apóstolos não nos informa o fim de Paulo. Foi absolvido? Chegou a pregar na longínqua Espanha como era seu desejo? Foi sentenciado à morte ao retornar? Conjecturas. A voz que proclamou a ressurreição dos mortos não silenciou. As cartas de Paulo oferecem esperança a leitores em toda parte.

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