O jovem na igreja

Cristina e Marcos, dois jovens cristãos, fazem parte de uma congregação luterana no Brasil. Vivem, assim como a maior parte dos jovens em nosso país, cheios de dilemas e questionamentos sobre seu futuro. Por serem gêmeos, seguidamente são comparados pelas pessoas, quando os conhecem. No entanto, isso não os aborrece, pois, seus pais ensinaram que a verdadeira identidade se encontra na Palavra de Deus, a Bíblia. Assunto que causa ansiedade e confusão para muitos jovens de nossos dias, já que é um tema complexo dos tempos atuais.

“A grande parada”, na vida de Cristina e Marcos, é que ambos fazem parte de uma Comunidade onde a liderança tem uma visão muito clara da importância de acolher os jovens. Como isso aconteceu? Anos atrás, numa assembleia ordinária da Comunidade, foi trazida a ideia de se encerrar os trabalhos com os jovens, já que a maior parte dos jovens da igreja não vinham mais às reuniões com regularidade. Na época, uma senhora de cabelos brancos presos em forma de coque, pediu a palavra e disse: Gente, quando eu estava no ensino para a confirmação, decorei um versículo que o pastor explicou tão bem que nunca mais esqueci, e fez todo sentido para a minha vida. Posso dizer que o versículo me ajudou na educação de meus filhos. O versículo é: “Ensine a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele” (Pv 22.6). Foi a gota que faltava, pais e mães presentes naquela reunião entabularam um diálogo sobre a questão comum a muitas famílias cristãs: a dificuldade de levar os filhos e filhas a se interessarem pelas atividades da igreja, já que as ofertas da atual sociedade do espetáculo são muito aliciantes. Os jovens, na atualidade, têm enormes exigências sociais que, junto com sua formação escolar e acadêmica demandam todo o seu tempo. A partir disso, toca o alarme salientando a importância do acolhimento dos jovens pelos membros e lideranças da igreja.

“Eu sou caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Que acolhimento maravilhoso Jesus nos ensina na prática de vida, lembrando que tudo inicia quando somos batizados e acolhidos no povo de Deus. Esse acolhimento que Jesus ensina está presente no colo que recebemos de nossos pais quando temos medo de algo. Esse acolhimento que Jesus ensina está em receber os jovens de braços abertos nas igrejas, do jeito que são e do jeito que estão vivendo: sem julgamentos!

Os jovens de hoje precisam escutar e saber que são “queridos” na Comunidade – isso mesmo, que nós os queremos conosco na igreja! -, isso não é novidade só em relação aos jovens, mas em nossos tempos conturbados os mais jovens precisam experienciar o afeto e o acolhimento, tornado concreto, na “comunhão dos santos” (conforme o Credo Apostólico). Jesus ensinou isso de forma magistral, pois além de ensinar ele, literalmente, caminhava com os seus discípulos e convivia diariamente com eles. Jesus é o caminho, a verdade e a vida porque, em nossa existência diária ele caminha ao nosso lado de forma verdadeira e viva para que nós possamos ter forças para caminhar na verdadeira e autêntica vida. Isso ressalta o valor da convivência. A convivência é fundamental quando pensamos em COMUNIDADE, que, de modo simples, podemos entender como o lugar da comum unidade que, no caso de nossas Comunidades Luteranas, a comum unidade está em Cristo, o Salvador. A partir disso, fica clara a importância de tornarmos relevante e interessante para os mais jovens o estudo da palavra de Deus. Para auxiliar nessa tarefa, existem novas tecnologias de informação e técnicas pedagógicas facilmente acessíveis, que muito contribuem em termos didáticos.

Igualmente, é bom termos em mente que a Bíblia não ensina que sua relevância para o jovem – bem como para todas as pessoas – deve ser imposta por meio da força e moralismos, como dizemos: “goela abaixo”!; antes, a relevância parte de Marcos 12.30,31 e é anunciada por alguém que ama o jovem e fala para ele do perdão e da salvação em Cristo, com paciência e doutrina (2Tm 4.1,2).

Na Comunidade Luterana de Cristina e Marcos, os jovens são desafiados a relacionar os ensinamentos da Bíblia com a vida diária. A liderança da Comunidade está presente e apoia várias demandas que ajudam a criar um ambiente acolhedor.

Mas, não podemos esquecer de um importante personagem em toda essa história: a figura do pastor. Conforme os jovens: “o pastor é gente muito boa! Ele fala de forma amorosa e sabe muito, muito mesmo sobre a Bíblia. O papo dele é de comunicação não violenta e está sempre ocupado com o que é importante o pastor fazer (Atos 6)”.

Não faz muito tempo, no seu espaço chamado Juventude Luterana, o grupo de jovens da Comunidade está utilizando técnicas de gaimificação para apoiar o pastor no preparo dos estudos bíblicos. Isso foi ideia de alguns jovens e foram apoiados pela liderança da comunidade que pediu a colaboração dos jovens que estudam em cursos técnicos e na universidade da cidade. A partir desse projeto, os textos bíblicos estudados são postos em práticas pelos jovens luteranos na própria cidade, apoiando o trabalho da comunidade e seus projetos. Com isso, além do interesse e envolvimento dos jovens da congregação, outros jovens têm se interessado e vindo a participar do grupo de jovens.

Apesar de esta história não ser factual, ela é atual e necessária. Os jovens de hoje, como nunca no passado, são confrontados com a ansiedade e o medo, ocasionando depressão num mundo de complexidade extrema. O passado histórico da Juventude Luterana do Brasil (JELB) demonstra sua relevância, força e importância na construção da identidade cristã de tantas gerações, que através do batismo foram inscritas na Igreja de Cristo, e por meio do acolhimento nas reuniões dos jovens puderam estudar e aprofundar-se nas verdades eternas da palavra de Deus. Apesar de uma longa caminhada histórica, a JELB não é do passado, está presente e, com a graça de Deus, deve ser futuro longevo, para que muitas “Cristinas e Marcos” sejam agraciados com a convivência e acolhimento, cantados nas palavras: “Juventude luterana, forte em santa união, segue a Jesus Cristo, o Mestre, nosso fiel pendão!” (Hinário Luterano 299).

O mundo não precisa de uma nova palavra de Deus. A palavra de Deus foi, é e continua sendo a única fonte anunciadora do perdão e da salvação que temos em Cristo. Mas, a realidade e a maneira de nossa sociedade funcionar estão diferentes. Os jovens, como nenhuma outra faixa etária, estão expostos e fragilizados pela cultura que nos cerca. A IELB foi e, sob a bênção de Deus, precisa continuar sendo um local de acolhimento e de orientação para todos, mas com um olhar atento e amoroso para os jovens de hoje, demonstrando que as palavras que o jovem Timóteo leu na carta que recebeu de Paulo, o apóstolo, são válidas para cada jovem cristão nos dias de hoje. “Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza”. (1Tm 4:12). A partir disso, “Guia-nos na luta avante, para o céu, Jesus […] Guarda-nos em teu caminho, firmes e leais, para alcançarmos glórias celestiais” (Hinário Luterano 299).

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