Mychael Wilson Züge*
Vice-secretário do CD IELB
Enquanto eu refletia sobre como escrever esta devoção, qual linha seguir, que abordagem utilizar, ficou muito claro que realmente sempre devemos continuar estudando (como sinto que sei muito pouco). E enquanto eu pensava sobre como escrever, meu filho mais velho Matheus, pediu licença e me perguntou se ele poderia ir ver a Nina e a Pisa. Elas são duas cachorrinhas que são dos donos de uma padaria que fica na rua de casa. E enquanto eu respondia ao meu filho que ele podia sim, algo clicou na minha cabeça e ficou evidente que o tema proposto se aplica diariamente em nossas vidas. E ainda que por inúmeras vezes não prestamos a devida atenção a como em todos os momentos temos a oportunidade de ensinar e aprender. O fato de termos em nossas vidas o Matheus, diariamente vivenciamos várias situações em que podemos observar e render graças por causa da fé que Cristo nos dá.
Quando observo como Deus conduz as diversas situações que passamos por nossas vidas e por mais que sejam situações muitas vezes delicadas, pesarosas, nas quais sofremos, algumas vezes perdemos pessoas, outras vezes passamos por momentos que parece que estamos abandonados, não podemos perder a fé em Cristo. O Bom Pastor que cuida de nós. Obviamente todos aqui já passaram ou passam por situações em suas famílias ou de pessoas próximas nas quais é na fé em Cristo que encontramos esperança e alívio para nosso sofrimento. Todos aqui poderiam trazer exemplos do que eu estou falando. Vivemos as mais diversas situações. Algumas boas e outras nem tanto, mas com todas elas aprendemos, pois Deus também se faz presente em todas essas situações da vida.
Não quero comparar as situações dos irmãos aqui, mas neste momento em que tenho a oportunidade de trazer uma reflexão a vocês, tomarei a liberdade de falar sobre nosso filho Matheus e como diariamente ele nos fornece todo o tipo de alegria e a certeza de que pela graça de Cristo temos a nossa salvação.
Alguns talvez já saibam que o Matheus tem transtorno do espectro autista (TEA) de suporte 2, o que significa que numa escala que vai de 1 a 3, ele está no meio entre um grau leve (em que em muitas vezes nem se percebe qualquer diferença) e o grau mais severo (em que temos a situação mais delicada de falta de interação social, comunicação muito restrita).
Hoje ele está com 15 anos e basicamente desde os 2 anos de idade começamos a observar algumas diferenças comportamentais, que com a percepção por parte da escola e de outras pessoas, começamos a investigar junto com uma neuropediatra, até que quando ele tinha 5 anos tivemos o diagnóstico (que na verdade já esperávamos) do TEA. Não é um diagnóstico fácil de se ouvir, porque basicamente significa destruir todas as expectativas que eventualmente criamos para nossos filhos. E como trata-se de uma condição irreversível, o que pode ser feito é atenuar os impactos, tornar a vida mais ‘normal’.
Estudamos muito, oramos mais ainda e pedimos força para Deus. E Ele jamais nos desamparou. Não preciso negar que muitas vezes é bem difícil, que muita dor toma conta de nossos corações, assim como muita ansiedade e muita angústia, principalmente se começarmos a pensar em como será a vida adulta do Matheus (e eventualmente como seria ou será quando não estivermos mais por aqui).
Mas toda a força que Cristo nos dá sempre nos sustentou. E com todas as terapias e trabalho desenvolvido por pessoas incríveis, hoje o Matheus estuda numa escola ‘normal’, com um professor de apoio e pode conviver com todos os demais colegas neuro típicos. Nossa família toda também fez e continuamos fazendo terapia para tanto estarmos mentalmente saudáveis, mas também para termos percepções diferentes para compreender reações diferentes.
Especialmente este ano tem sido um ano de muitas ações de graças: no Domingo de Páscoa tivemos a bênção de ter nossos dois filhos confirmando sua fé. Nosso filho mais novo Miguel de 13 anos (neuro-típico, mas que possui altas habilidades), seguiu o fluxo normal da instrução e acompanhei a instrução deles mediando as atividades para o Matheus. Muitas vezes a mente do Matheus é algo inexplicável e não conseguimos prever o que se passa nela. Mas ao mesmo tempo em diversas oportunidades, ouvimos o que ele compartilha conosco e apenas agradecemos a Deus pela oportunidade que Ele nos deu. Um exemplo disso foi quando depois de estudar na instrução o sacramento da Santa Ceia, o Matheus disse que não queria tomar o vinho, porque ele sabe que é uma bebida alcóolica e não é certo crianças ingerirem bebidas alcóolicas. Mais ainda porque em nossa família temos pessoas que já tiveram problema com bebida e o Matheus presenciou situações muito complicadas. Que já não são fáceis para uma criança comum, mas para ele foram mais difíceis. Assim, foi necessário um trabalho adicional para ele compreender que a quantidade de vinho da Santa Ceia não lhe faria mal.
Outro exemplo, lembro de uma situação que aconteceu quando ele tinha 7 anos, quando ele tinha um pouco mais de maturidade, explicamos para ele que os pais de sua mãe já haviam falecido há muito tempo. Minha esposa e sua irmã foram criadas por seus tios, quando seus pais falecerem num acidente de carro quando elas ainda eram crianças. Logo depois que o Matheus entendeu a situação, ele abraçou a mãe e com uma serenidade fora do comum disse “Mammy, eu queria que você morresse, para que você pudesse ir pro céu para ficar com seus pais.” Por mais chocante que essa frase pareça, quando prestamos mais atenção, podemos observar que para o Matheus os pais de sua mãe estão no céu e que se sua mãe morresse ela iria para o céu. Essa convicção, essa confissão de fé dele sempre nos emocionou muito.
De forma geral, o que aprendemos ao longo desses anos é que quanto mais rotina conseguimos trazer para o dia a dia do Matheus melhor ele consegue se organizar. E essa rotina envolve dialogar muito com ele, explicando e dando significado para as diversas situações que acontecem (ou podem acontecer). Ou seja, ter uma rotina de ir para a escola, fazer suas tarefas de casa, fazer suas tarefas da escola, tomar seus remédios, vitaminas etc. o auxilia a ser organizar e se tornar menos dependente de nós.
Enfim, eu poderia compartilhar inúmeras situações com vocês, mas acredito que para o paralelo que quero trazer, já seja suficiente.
Por mais que o Matheus tenha dificuldade com aprendizado com instruções ‘normais’, não há como negar que aquilo que ele aprende, ele não esquece. E isso que eu entendo que podemos pensar para nós. Tudo o que aprendemos estudando a Palavra de Deus nós não esquecemos (ou não esquecemos completamente). E esse conhecimento é fundamental para nossas vidas (e não apenas para nossa salvação), mas por todo o tempo que Deus permite que passemos aqui.
Obviamente quanto mais estudamos e aplicamos aquilo que aprendemos, mais podemos compartilhar com os outros aquilo que sabemos. E percebam que estou falando de não apenas o conhecimento da Palavra de Deus, mas também de ‘qualquer’ conhecimento. Mas com certeza, as diversas oportunidades que temos de estudar a Palavra de Deus não devem ser desperdiçadas.
Pois cremos que o Espírito Santo, que nos deu a fé, também nos preserva na fé. Fé que confessa Jesus como Senhor e Salvador. É o Espírito Santo que trabalha em nossas vidas. É Ele quem aponta Cristo. É Ele quem “promove” Jesus – sua vida e obra. “ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo” (1Co12.3).
“O ensino da Palavra é o fundamento seguro para nossa vida e salvação”. Como propõe o tema dessa reflexão. Essa Palavra de Deus deve estar diante de nós. Diante dos nossos olhos. Em nossos ouvidos. Ela é viva. Ela é eficaz. Transforma vidas. Consola. Dá esperança. Estudar, meditar, ruminar essa Palavra é dar oportunidade de Deus nos fortalecer na Rocha, que é Cristo.
Atualmente temos várias formas de aprendizagem, vários métodos, enfim, com a evolução de tecnologias temos várias oportunidades de continuarmos buscando conhecimento e principalmente sabendo como cada um de nós tem mais facilidade de aprender, podemos fazer da melhor forma.
Então destaco aqui a importância de continuarmos buscando esse conhecimento. Até para criarmos alguns “filtros” e assim, não seguimos ensinamentos falsos ou falsos caminhos. Paulo, em leituras de cultos passados, escreveu a Timóteo, fazendo um importante alerta: “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, se rodearão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas (2Tm 4.3-4). Estar firmado em Cristo e em Sua Palavra faz toda a diferença. E como Paulo escreve em sua carta aos colossenses: Portanto, assim como vocês receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, estando enraizados e edificados nele, e confirmados na fé, como foi ensinado a vocês, crescendo em ação de graças.
Que possamos continuar relembrando essas palavras de Paulo, estudando a palavra de Deus, mantendo nossa fé e dando graças pela oportunidade que recebemos de continuarmos em Cristo.
* Mensagem compartilhada no Conselho Diretor da IELB em novembro de 2025. Mychael é casado com Aline Priscila B. Züge. Pai de Matheus e Miguel. Foto da Família na confirmação dos Meninos, em abril 2025!


