O homem que não se curvou

História e ficção revelam o contexto religioso, político e econômico em que eclodiu a Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero.

Em um momento efervescente da história, o homem renascentista retorna ao passado greco-romano e forma uma visão crítica de seu mundo. Na Astronomia, Copérnico transfere o centro do universo da Terra para o Sol, enquanto Guilherme de Occam, nas ciências humanas, aparta a Teologia da Filosofia. É a era dos descobrimentos marítimos, tornando a Europa apenas um entre outros continentes.

Maquiavel oferece aos reis novas concepções para a política e o poder. Enquanto o lucro e os juros são condenados pela Igreja Católica como avareza, a burguesia comercial, em franca expansão, condena o trabalho feudal. A Igreja Católica, em contraparte – preocupada em governar o mundo –, institui a venda de indulgências com o intuito de captar novos recursos.

É nesse contexto histórico de mudanças que – tendo como mentor o monge agostiniano Martinho Lutero – eclode a Reforma Protestante, com três críticas básicas à Igreja Católica: o abuso da autoridade papal, o purgatório e o “mérito extra”, que favoreciam a prática da venda de indulgências. Lutero, na contramão de seu tempo, tira Roma do centro da cristandade ocidental e centraliza tudo em Cristo, construindo uma releitura da fé cristã, corrompida e obscurecida por doutrinas e tradições humanas.

O homem que não se curvou é um romance histórico que revela o cotidiano político, econômico, social e religioso em que eclodiu a Reforma Protestante, em 1517, até a excomunhão de Lutero, em 1523.

Autor: Decio Dalke
Dimensões: 16X23 cm
Número de páginas: 328

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Veja o Sumário deste livro.

1. Um dia glorioso………………………………………………………………………………………………………………7

2. O desabafo……………………………………………………………………………………………………………………13

3. As profecias………………………………………………………………………………………………………………….20

4. Perspectivas sombrias……………………………………………………………………………………………………24

5. Vozes de protesto………………………………………………………………………………………………………….28

6. João Tetzel …………………………………………………………………………………………………………………..35

7. O sonho do príncipe………………………………………………………………………………………………………43

8. O padre mercador …………………………………………………………………………………………………………47

9. Um padre preocupado……………………………………………………………………………………………………52

10. Convocação para um debate………………………………………………………………………………………….61

11. O arcebispo Von Hohenzollern……………………………………………………………………………………..68

12. A fúria de frei Tetzel…………………………………………………………………………………………………….72

13. A vingança de frei Tetzel………………………………………………………………………………………………78

14. Leão X aprova as teses…………………………………………………………………………………………………83

15. A revolta dos cavaleiros………………………………………………………………………………………………..91

16. Chamado por Roma…………………………………………………………………………………………………….98

17. Raposa Vermelha em defesa do padre…………………………………………………………………………..109

18. Perante o cardeal……………………………………………………………………………………………………….115

19. O amigo Espalatino……………………………………………………………………………………………………129

20. Um pouco de tranqüilidade…………………………………………………………………………………………133

21. O riso……………………………………………………………………………………………………………………….140

22. Um homem renovado…………………………………………………………………………………………………144

23. Encontro perigoso……………………………………………………………………………………………………..149

24. O outro lado da moeda……………………………………………………………………………………………….153

25. Encontro com o padre Lutero……………………………………………………………………………………..156

26. Exéquias imperiais…………………………………………………………………………………………………….161

27. Um encontro com Raposa Vermelha…………………………………………………………………………….163

28. O debate de Leipzig……………………………………………………………………………………………………169

29. Ódio…………………………………………………………………………………………………………………………178

30. Do cativeiro babilônico da Igreja………………………………………………………………………………….186

31. A bula do dr. Eck……………………………………………………………………………………………………….188

32. O sonho……………………………………………………………………………………………………………………195

33. Nova ameaça…………………………………………………………………………………………………………….201

34. Angústias………………………………………………………………………………………………………………….207

35. Preparação para o desenlace………………………………………………………………………………………..211

36. Fogo contra fogo………………………………………………………………………………………………………..215

37. A bula de excomunhão……………………………………………………………………………………………….221

38. A Alemanha se agita…………………………………………………………………………………………………..224

39. A dúvida do imperador……………………………………………………………………………………………….228

40. O núncio ataca…………………………………………………………………………………………………………..231

41. As queixas do duque………………………………………………………………………………………………….236

42. Convocação imperial………………………………………………………………………………………………….242

43. A conspiração prossegue…………………………………………………………………………………………….246

44. A viagem…………………………………………………………………………………………………………………..251

45. A chegada…………………………………………………………………………………………………………………257

46. A Raposa vira fera……………………………………………………………………………………………………..261

47. Na presença do imperador………………………………………………………………………………………….267

48. O dia seguinte…………………………………………………………………………………………………………..275

49. Estupefação………………………………………………………………………………………………………………278

50. A despedida………………………………………………………………………………………………………………283

Notas dos capítulos…………………………………………………………………………………………………………292

Leia parte do primeiro capítulo.

Um dia glorioso

18 de abril de 1521

O silêncio pode ser juiz sobre a vida e a morte. A sentença será dada pela manifestação ou hesitação. Nada prejudica mais um homem do que se refu­giar no silêncio, ocultar-se no temor ou transmudar-se em covarde no intuito de ocultar a natureza dos fatos.

Quando a boca que deveria se manifestar é calada por ditames externos, todos compreendem a razão. Porque o medo castiga mais do que chibatadas. Quando o motivo vem do fundo do coração ou de uma alma angustiada, e nas faces se revela em conotações de grande receio, poucos são os que compreendem. Poderá alguém questionar o silêncio de Jesus perante Herodes? 1 Deus manteve silêncio às súplicas de Saul. 2 O que o levou a procurar uma necromante, encontrando a morte por essa ofensa. Ele e toda sua família.

O silêncio pesa, angustia, asfixia, esmaga, deprime, escandaliza. Ele sabe. De pé em frente ao imperador. Foco de visão para duas centenas de pares de olhos, tem consciência de que tudo poderá ser perdido, falando. Calando-se, manifes­tará aquilo que os inimigos mais aguardam; a prova de sua covardia. Rompendo o silêncio, poderá estar assinando sua própria sentença de morte. Todavia, nada poderá ser feito para evitar o clímax; a assembleia impacienta-se a cada segundo em que ele suporta, nos ombros, o peso de uma simples palavra.

O silêncio torna-se prefácio de uma quietude celestial. Para si. Mas é preciso falar. Defender aquilo que há três anos, ou mais, levando em conta seus primeiros passos na descoberta da cruz soterrada sob os escombros das obras humanas, levou-o a agir.

Não é mais possível retardar o que lhe pedem.

Então respira fundo e apruma seu corpo de 38 anos; doente, mas não tanto que pudesse furtar-se à convocação imperial; tenso, não em demasia que possa ser impedimento à resposta que provoca ansiedade geral. Mesmo nos olhares daqueles cujos rostos se colaram às vidraças do lado de fora da câmara municipal.

Engolindo a saliva, o dr. Lutero fixa os olhos no jovem imperador de 21 anos, puxa a respiração e deixa fluir de seu coração o que já lhe sufocava a garganta:

Sereníssimo imperador! Ilustres príncipes, grandiosos senhores! não mostra arrogância, que é vaidade dos homens; nem medo, que é reflexo de falta de confiança em Deus. Sua voz, sempre clara, invade a sala e cada palavra é reco­lhida da mesma forma que um camponês junta o milho debulhado. Sabe que está sendo por todos ouvido. Mesmo pelos que estão do lado de fora, junto às janelas. Ninguém quer perder o mínimo detalhe da audiência. Compareço, hoje, diante de vós, segundo a ordem que me foi dada ontem, e suplico, pelas misericórdias de Deus, a vossa majestade e vossas altezas augustas que ouçam com bondade a defesa de uma causa que, estou certo, bem certo, é justa e verdadeira. Se, por ignorância, eu faltar aos usos e às conveniências das cortes, perdoai-me, porque não fui educado em palácios de reis, mas na obscuridade de um convento, de um claustro.

De soslaio, no meio da assembleia imperial, procura a figura de seu príncipe protetor. São tantos rostos desconhecidos, mesmo que no dia anterior já os tivesse visto.

Ontem, perguntaram-se duas coisas da parte de sua majestade imperial: a primeira, se era eu o autor dos livros cujos títulos foram lidos. A segunda, se eu queria revogar ou defender a doutrina que tenho ensinado. Respondi sobre o primeiro artigo, e persevero nessa resposta. Quanto ao segundo, compus livros sobre matérias as mais diversas. Alguns existem em que tratei da fé e das obras de uma maneira tão pura, tão simples e tão cristã, que mesmo meus adversários, longe de terem o que dizer, confessam que esses escritos são úteis e dignos de serem lidos por piedosos corações.

Vestígios de impaciência começam a transparecer. O preâmbulo poderia ter sido sintetizado.

A bula do papa, por violenta que seja, o reconhece. Se, pois, eu fosse retratar, o que faria?… Infeliz! Só, entre os homens, eu abandonaria verdades que, com vozes unânimes, meus amigos e meus inimigos aprovam, e me oporia ao que o mundo inteiro se gloria de confessar… Em segundo lugar, compus livros contra o papado, nos quais ataquei aqueles que, por sua falsa doutrina, sua má vida e seus exemplos escandalosos, devastam o mundo cristão e perdem os corpos e as almas. As quei­xas de todos aqueles que temem a Deus não os põem em relevo? Não é evidente que as leis e as doutrinas humanas dos papas enlaçam, atormentam, martirizam as consciências dos fiéis os representantes da Igreja mostram-se insatisfeitos com as observações; o inquisidor começa a dar mostra que achou mais um para o fogo enquanto que as extorsões revoltantes e perpétuas de Roma engolem os bens e as riquezas da cristandade, e, particularmente, desta nação ilustre?

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