“O intuito desta não é fazer nenhum testamento ou edital ou coisa parecida, mas, sim, uma maneira de confessar um pensamento contido dentro de mim, pelo qual gostaria de expressar etapas que tentarei descrever com maior transparência e clareza possíveis. Quero fazer colocações de meu entendimento sobre o que é CONVENIÊNCIA, COMPETÊNCIA, CONVIVÊNCIA E CONVICÇÃO.
Começarei a falar sobre o que classifico de conveniência: nascido de família de classe média tradicional em minha cidade, Teresópolis, RJ, tive, por conveniência de minha família, a orientação para militar na Igreja Católica, uma vez que amealhava grande parte do núcleo da sociedade, como políticos, socialites, etc. Cheguei, inclusive, a auxiliar no ofício de celebração da missa.
Isso se deu até os 14 anos, quando por competência, já que tive o direito de opção, ingressei em um grupo espírita cardecista, me aprofundando no estudo e conhecimento espírita. Após um período de farto aprendizado, veio o desejo de saber um pouco mais, e ingressei em outro grupo, que se denominava umbandista. E através de longo período e estudos, conheci também quimbanda, xêto, nagô e outros afro-abrasileirados.
Ainda nesse período, passei por experiência que só bem depois pude entender, e que chamo aqui de período de convivência. Comecei namoro com uma jovem, com a qual estou casado há 42 anos, presenteados com um casal de filhos de sangue, três de coração e cinco netos. Ao mesmo tempo, a irmã de minha esposa namorava um rapaz, Norberto Berger, gaúcho de nascimento e luterano de berço.
Pois bem, por que classifico esse período de convivência? É que só agora entendo por que, mesmo tendo de berço orientação religiosa e privando de minha amizade, quase todos os dias após o namoro, caminhávamos até o centro da cidade, que naquele horário já não tinha mais condução. Por ser uma cidade do interior, as atividades cessavam mais cedo, e, assim, íamos conversando até que chegássemos próximos de nossas casas, e cada um seguia para seu descanso.
Só hoje compreendo porque Norberto – atualmente meu cunhado, compadre e irmão de fé – nunca havia me convidado para frequentar sua igreja. Uma vez que, sabendo de minhas convicções religiosas, o Senhor Deus – que preparava para mim um outro momento – não tocou o seu coração para que fizesse tal convite (sabedoria divina), até mesmo quando por ele convidado fui padrinho de um de seus filhos.
E a vida seguia em frente, até que minha esposa, após a morte de sua irmã mais nova, tornou-se membro da IELB, na Congregação Penha, no Rio de Janeiro. Eu a levava para assistir ao culto e aos estudos bíblicos, assim como à reunião das servas. No entanto, não entrava para participar de qualquer evento, usando, para tanto, o artifício de sempre que a levava me vestia de bermuda, camiseta e chinelos, achando que assim não seria convidado a entrar, por achar que em uma igreja evangélica se escandalizariam com a minha entrada com aqueles trajes.
Até que um dia, ao chegar para buscar minha esposa, encontrei o pastor oficiante na porta. Ele me convidou a entrar e esperar, uma vez que a reunião se estenderia um pouco mais. Retruquei, colocando a condição de minhas vestes. Recebi do mesmo a resposta de que na casa de Deus eu podia entrar até como “vim ao mundo” e que tudo dependia apenas do meu coração (palavras santas de sabedoria). Adentrei então na paróquia, me sentando em um dos bancos, onde, por instantes, em silêncio, passei a me questionar porque, ao invés de me irar por estar naquele lugar, apenas sentia dentro de mim felicidade. Aí entendi que esse era o momento que o Criador havia guardado para mim, e começava ali a fase da convicção, e, por isso, hoje me conclamo como um cristão evangélico luterano convicto.
Termino esse meu relato com um agradecimento a ti, de coração, meu pastor”.
Testemunho de Antônio Carlos Ramos da Rosa, Rio de Janeiro, RJ