Pastor Elmer Adolfo Roll

Escrever uma “redação” sobre o tema “Sou eu mesmo”, para mim é coisa inédita. Como fui solicitado a isso, vou tentar encontrar algum momento ou lance que possa ser de alguma forma interessante. Minha vida inteira, que já se entende por pouco mais de 80 anos – antes, durante e após – a atividade ministerial na IELB, creio trazer alguma lembrança a ser escrita.

Nasci durante o período da última guerra mundial (1940), numa localidade rural então praticamente anônima e com meia dúzia de moradores: Passo Santana, Cerrito, RS (na época pertencia a Canguçu), distante a 100 metros de uma igreja, que é identificada como Igreja Queimada. Essa igreja havia sido construída há dois anos e dela restaram apenas as paredes e a torre. Houve várias famílias da congregação vivendo sob ameaças e tendo que se refugiar no mato. Mas tudo foi superado, e alguns anos após, tudo foi reconstruído pela Comunidade São João. Havia ao lado um salão multiuso, que serviu durante vários anos como casa de culto e escola, a qual frequentei por cinco anos. Fui batizado nesta Congregação pelo pastor Herbert Koennig.

No início de 1953, esteve nessa região um grupo de 10 estudantes do Seminário Concórdia, com apresentações teatrais. Foi nessa ocasião que o professor Edmundo Arndt sugeriu que eu também fosse para o Seminário. Após longas conversas acabou convencendo meus pais, Eduardo e Emma Emília, como a mim mesmo, a ir ao Seminário, já acompanhando o grupo de estudantes no seu retorno. Para mim tudo era assunto desconhecido e inédito, sem saber o que exatamente poderia acontecer comigo daí em diante; era uma repentina saída de casa, longe da família e com um futuro imprevisível. Eu tinha 12 anos de idade. Felizmente, os estudantes conversaram muito comigo, me animaram e me orientaram em muitas coisas. O estudante Davi Flor me levou ao estádio da Baixada (bairro Moinhos de Vento) para ver o Grêmio jogar e assim praticamente me vestiu com a camisa tricolor. Fui confirmado na Congregação Concórdia, de Porto Alegre, pelo pastor Werner Karl Wadewitz.

Ao completar o curso ginasial, tive a intenção de ingressar no curso de pedagogia. Mas o amigo e diretor do Seminário, professor Otto A. Goerl, me convenceu a seguir no colegial e depois em Teologia. Além de estudar português, latim, alemão, francês, matemática, doutrina, agora ainda acrescentar grego e hebraico não estava previsto, mas tudo foi acontecendo naturalmente. Para o ano de 1962, fui designado pela Comissão Missionária a fazer meu estágio na Congregação Ressurreição, de Imbituva, PR, onde seria auxiliar do pastor Gustavo Scholze e também atenderia a escola do Aterrado Alto, a uns 10 quilômetros da sede. Ao chegar em Imbituva, de uma Convenção da IELB, o pastor me informou que acabara de receber chamado da Congregação Concórdia, de Porto Alegre, RS, e que provavelmente o aceitaria. Isso significaria que eu ficaria só, por tempo indeterminado. O pastor Scholze saiu e logo no tempo quaresmal fiquei em grandes apuros: tive os cultos dominicais, cultos quaresmais às quartas-feiras, de 100 a 120 jovens nas reuniões, servas, escola, também 10 sepultamentos, 10 casamentos e algumas tarefas a mais – tudo até a Páscoa. Só após a Páscoa as atividades foram diminuindo. Apenas em junho houve a instalação do pastor Otto R. Lanz. Meu companheiro de moradia e assuntos gerais era o professor Waldemar B. Fritz, hoje residindo em São Paulo, SP. Em janeiro de 1963 houve um Congresso Geral da JELB em Imbituva.

Ao retornar ao Seminário, o ano passou rápido. A formatura ocorreu em 8 de dezembro de 1963, em culto na Congregação Cristo, em Porto Alegre. O primeiro chamado veio da Congregação São Paulo, de Boa União, Torres (hoje Itati), RS. A paróquia se achava vaga por um ano. Lá fui instalado e ordenado em 24 de fevereiro de 1964, pelo pastor Elmer Reimnitz. Meu casamento ocorreu em maio, com a jovem professora recém-formada Maria Letzow. Neste primeiro local, desde logo se manifestaram situações complicadas, como o isolamento da localidade, que era ao pé da Serra, sem meios de locomoção a não ser através do burrinho do sr. Antonio C. Witt, e que causavam cansaço e demora nas locomoções; não havia nenhum veículo no lugar. Lá foi recuperada a escola desativada e criada a escola Frei Martinho, única do local e com número elevado de alunos. Sua direção foi assumida por Maria, minha esposa. Mais tarde, chegou o professor Ulli Darci Arend, e o trabalho foi aumentando, e tudo foi bem-sucedido. Entre outros locais, na paróquia, foi criada a CEL Cristo Redentor, de Terra de Areia e que em pouco tempo construiu e inaugurou o seu templo.

A grande bênção em Boa União foi a boa frequência aos cultos, que dava a média de 250 pessoas por culto, incluindo os cultos quaresmais das quartas-feiras à tarde. E esta Congregação abasteceu praticamente todas as congregações da grande Porto Alegre com membros por transferência. Nesse tempo nasceu nossa primeira filha, Eunice. De Terra de Areia permanecem boas lembranças das famílias do seu Felisbino Gonçalves e Orlando Schwartzhaupt, e da menina Dilma que não cansava em servir bons cafés da manhã quando lá me hospedava.

Após quase cinco anos, recebi o chamado da nova paróquia de Realeza, PR, que estava ligada à paróquia de Capanema até então. Eram mais de 10 locais de atendimento, com as congregações e pontos com poucos membros. A Congregação São João, de Realeza, era uma congregação de passagem; muitas pessoas migravam até lá vindas mais do Sul, e, em pouco tempo, seguiam para mais longe: Mato Grosso, Paraguai, Rondônia, etc. Em Cap. Leônidas Marques havia uma comunidade de maior crescimento numérico. Estive por quase 10 anos em Realeza, e foi o local de nascimento de Mauro Ricardo e Natalie. As paróquias do sudoeste paranaense e as do oeste catarinense formavam um distrito da IELB: Iguaçu 1 e 2, do qual fui secretário distrital por vários anos e conselheiro por breve tempo. O que caracterizava as viagens era a poeira vermelha insuportável no tempo seco e barro sem limites na chuva; não havia um palmo de asfalto. Quando saímos, tudo estava asfaltado; outros tempos. Os perigos nas viagens eram constantes, mas as companhias dos anjos eram permanentes e seguras.

Após o ciclo em Realeza, recebi o Chamado conjunto das congregações Cristo, de Três Coroas, e Redentor, de Igrejinha, RS. Substituí, nessa ocasião, o pastor anterior, Milton Klagenberg. Minha dificuldade desde logo foi entender a linguagem “hunsrück”, em grande uso na região. As duas congregações se assemelhavam em número de membros filiados, e também administravam suas escolas paroquiais. Também integrava a paróquia a Congregação Sião, de Solitária. Além do trabalho e atividades corriqueiras nessas congregações, houve um fato inédito em Três Coroas, em 1982 – uma enchente sem precedentes que alagou a metade da cidade, invadiu a escola e a casa pastoral, que ficou imprópria para uso e aproveitamento. Os prejuízos foram praticamente totais na moradia; alguma coisa foi recuperada por doações no distrito, solicitadas pelo departamento de ação social da IELB (pastor Bruno F. Rieth). Pouco mais tarde realizou-se o desejo da Congregação de Igrejinha de separar-se de Três Coroas. Assim, as duas congregações isoladamente escolheram e chamaram seus pastores – as duas estavam vagas, visto eu ter declinado do meu chamado e ter liberado a livre escolha de ambas.

Ao final do ano de 1982, fui contratado pela IELB, Departamento de Ensino, a fim de me dedicar especialmente às questões da Escola Dominical. Também eram assessores no momento, Astomiro Romais e Martinho L. Hoffmann, na área da comunicação. Meus chefes foram os pastores Horst Kuchenbecker, primeiro, e depois Oscar Lehenbauer. Foram 12 anos e meio de atividades, que incluíram traduções diversas, a produção das Lições Concórdia, Nova Vida em Cristo, o Batismo na Vida – tradução e autoria, colaboração na Pasta do Líder de Escola Dominical, criação e, após, produção do Jornalzinho dos Professores da Escola Dominical, criação da UPLED – União dos professores da Escola Dominical, congressos nacionais no Espírito Santo e em Marechal Rondon, PR, colaborações eventuais no Mensageiro Luterano, revista Igreja Luterana, Lar Cristão, Castelo Forte, cursos de professores, etc. Dispensados dos serviços da IELB, os assessores seguiram seus próprios caminhos. Já aposentado pelo INSS e me tornando emérito na IELB, prossegui com traduções de artigos de diversas revistas por muito tempo, reunindo materiais de qualidade e depositados em pastas e arquivos. Já se utilizaram deles os estagiários ultimamente vindos a Pelotas. Minha esposa atuou como funcionária do Centro Administrativo da IELB por 20 anos, no setor de arquivo e como auxiliar da secretaria.

Moramos por 14 anos em Canoas, onde colaborei nos cultos da Congregação Ressurreição eventualmente, também como secretário, por nove anos, sendo pastor Welton Raatz. Nessa época, participamos da primeira comissão e fundação da OBEM, juntamente com os pastores Edvino E. Wide e Bruno F. Rieth. Após isso, mudamos para Pelotas, bairro Laranjal. Com a iniciativa do pastor Dari Knewitz, desde logo colaboramos com cultos, estudos e com a criação de uma nova congregação neste local. Esta foi fundada em 2018, denominada Congregação Sião. Desde o início dos trabalhos como ponto de missão da Congregação Da Ressureição, de Pelotas, em 2015, venho sendo seu secretário. Hoje dispomos de um belo patrimônio: templo, salão multiuso e moradia pastoral em excelentes construções.
Na família, conto com a esposa, Maria, e a filha, Eunice (fonoaudióloga), junto em casa; Mauro Ricardo (teologia, administração), diretor da Escola San Pablo, em Montevidéu, Uruguai, e sua esposa Natália, com as filhas Martina e Sofia; e Natalie (administração), trabalhando em São Paulo, SP, bem mais longe.

Na minha vida, nada do que houve nos anos passados haverá de novo. Em um dia e num momento, tudo mudará, no além – junto do Senhor, meu Deus. Aleluia! Nos dias restantes, nada melhor do que considerar as palavras de Eclesiastes 12.1-8 e do salmo 90.17. (Elmer A. Roll)

Pastor Elmer Adolfo Roll
Nascimento: 09/04/1940, em Passo Santana, Cerrito, RS
Filho de Eduardo Roll e Emma Emília Gowert Roll
Formatura: 08/12/1963
Ordenação: 23/02/1964, em Boa União, RS
Casamento: 16/05/1964
Esposa: Maria Letzow Roll, nascida em 12/07/1944
Filha de Carlos Luiz Letzow e Erna Pieper Letzow
Filhos: Mauro Ricardo (pastor), Eunice e Natalie.

Locais em que serviu:
Imbituva, PR – Ressurreição – Estágio – 1962
Três Forquilhas, Boa União, RS – São Paulo – 1964-1967
Realeza, PR – São João – 1968-1977
Três Coroas, RS – Cristo – 1978-1982
Porto Alegre, RS – Administração IELB – 1983-1994
Emérito desde 12 de abril de 2000
Mora na Praia do Laranjal, Pelotas, RS

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