Um nome com 70 anos de desafios

Ao longo da sua história, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, IELB, já teve outros nomes. O primeiro deles foi dado por ocasião da fundação do distrito brasileiro em São Pe-dro do Sul, RS, no dia 24 de junho de 1904. Como as atividades da igreja eram, em grande parte, em língua alemã, o nome dado também foi em alemão: Der Brasilianische District der deutschen evangelisch-lutherischen Synode von Missouri, Ohio und andem Staaten (Distrito Brasileiro do Sínodo Evangélico Luterano Alemão de Missouri, Ohio e outros Estados).

No ano de 1920, o distrito recebeu um nome em português: Synodo Evangélico Lutherano do Brasil. Em 1951, por decisão da 30ª Convenção Nacional, passou a denominar-se Igreja Luterana Brasileira. O principal motivo da mudança era que o povo brasileiro não iria compreender o nome “Sínodo”. Interessante que neste nome não constava o nome “Evangélica”, pois argumentava-se que o sentido original do termo não seria compreendido pelo povo. Para oficializar o nome, o assunto deveria voltar na convenção seguinte, que aconteceu dois anos depois.


E na Convenção Nacional de 1953, o nome foi alterado para o que temos até hoje, Igreja Evangélica Luterana do Brasil, IELB. Porém, só em 27 de janeiro de 1954 este nome foi registrado em cartório.

Com este nome, a IELB desafiava-se a sair do seu reduto germânico, ser uma igreja brasileira, falar a língua do país e levar o evangelho ao povo brasileiro. De fato, várias ações aconteceram, entre elas o avanço da Hora Luterana, que é nosso maior marco de comunicação do evangelho.

Setenta anos depois, somos desafiados a refletir em torno deste nome.

Igreja

Somos igreja. Porém, no universo de milhares de igrejas no Brasil, que igreja somos?

O termo igreja vem da língua grega, ekklesia, que significa reunião do povo. Nossa principal ação é nos reunirmos em culto para nos fortalecermos na Palavra e nos sacramentos. Também nos reunimos em grupos de estudo e departamentos.

Um dos nossos desafios é explicar ao povo o que é ser igreja e que a igreja vive do “reunir-se”. Se ela não se reunir em torno da Palavra, ela enfraquece e adoece.

A IELB é uma igreja que tem uma estrutura formada por congregações, o que faz dela um modelo congregacional. As congregações estabelecem, em seu meio, o Ministério Pastoral que visa a pregação do evangelho e a administração dos sacramentos – batismo e santa ceia. Para isso, chamam pastores. E as decisões administrativas são tomadas em assembleia de membros votantes. As congregações formam distritos, dos quais participam pastores e leigos. Os distritos formam o Conselho Diretor, composto pelos pastores conselheiros e líderes leigos. Por outro lado, existe a Convenção Nacional, formada por pastores e um membro representante de cada congregação, que é o órgão máximo da IELB.

Percebe-se que o poder administrativo da IELB está centrado na formação congregacional e não clerical, ou seja, de pastores. Essa estrutura, além de democrática, favorece a participação de membros nas atividades decisivas da igreja.

Essa estrutura nos desafia a ensinar mais a Bíblia e a doutrina ao povo e incentivá-lo a participar ativamente das ações da IELB.

Evangélica

O debate, por ocasião da adoção do nome IELB, – se o termo “evangélico” seria compreendido ou não pelo povo – nos persegue. Hoje esse termo está associado a confusões que envolvem enriquecimento em nome da fé, mistura do nome evangélico com campanhas políticas, participação de pastores e igrejas na polarização política. São atitudes que desagastam a imagem evangélica no Brasil. Por isso, às vezes, ouvem-se opiniões de que o nome “Evangélica” deveria ser excluído do nome da IELB. Isso seria lamentável, pois tiraria uma das suas maiores forças.

Melhor é aprofundar o significado do nome “Evangélica”, mostrar que o evangelho é a boa nova da graça de Deus e que temos o compromisso de anunciá-lo para o mundo.

Luterana

Somos luteranos em homenagem ao reformador Martinho Lutero. Não é um nome comum a todos os cristãos, como pode se entender pelos nomes da maioria das igrejas. Ele é um nome “nosso” por causa de Lutero. Este nome nos desafia a estudar a vida de Lutero, seus escritos e sua teologia e usar os meios de comunicação para torná-los conhecidos.

Do Brasil

Na ocasião em que a IELB adotou o seu nome, o Brasil tinha 54 milhões de habitantes e era formado por 22 estados e quatro territórios federais. A IELB estava presente em 10 estados brasileiros e tinha 65 mil membros.

Atualmente, o Brasil, além do Distrito Federal, tem 26 estados, com 214,3 milhões de habitantes. A IELB está presente em pelo menos um lugar em cada estado brasileiro e tem cerca de 240 mil membros.

Dizer que somos “do Brasil” não significa apenas dizer em que país moramos. Significa dizer que estamos inseridos nele, onde trabalhamos, estudamos, votamos, onde somos cristãos da IELB.

Porém, o Brasil tem proporções continentais e cultura diversificada. Ainda há metró-poles onde a IELB não tem qualquer presença. O desafio de sermos uma igreja “do Brasil” continua sendo grande.

David Karnopp
Pastor em Vacaria, RS

Referências Bibliográficas

Estatuto e Regimento da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Edição 2022.

BUSS, Paulo Wille. Um Grão de Mostarda. A História da Igreja Evangélica Luterana do Bra-sil. V.2, 1950-2000. Porto Alegre: Concórdia, 2006.

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias Relacionadas

Editora Concórdia ganha 3 prêmios Areté 2024

Foram reconhecidos os livros: Valores sólidos para um mundo líquido – Dez mandamentos, Estudos Bíblicos – Homens e Mulheres a Bíblia e O Mito da Geração Millennial

Veja também

Editora Concórdia ganha 3 prêmios Areté 2024

Foram reconhecidos os livros: Valores sólidos para um mundo líquido – Dez mandamentos, Estudos Bíblicos – Homens e Mulheres a Bíblia e O Mito da Geração Millennial

Ano abençoado na EBI de Três Lagoas

Programação que teve início após a Páscoa, finalizou após o Dia das Crianças, com “Feira Bíblica”

IELB sedia 1ª reunião de Jogadores Anônimos

Iniciativa da Congregação Cristo Vive, de São José dos Campos, SP, quer apoiar e disseminar a formação de grupos locais