Há alguns anos, um famoso programa de televisão, aos domingos à noite, tinha um quadro chamado “O Chefe Secreto”. A ideia era de que os grandes administradores de multinacionais se tornassem simples funcionários. Claro, sempre disfarçados. Ao invés de um terno fino e alinhado, um uniforme padronizado da empresa. Ao invés do escritório climatizado e com móveis finos, o trabalho pesado no chão de fábrica.
Com esse disfarce, o chefe secreto interagia e conhecia seu quadro de funcionários. Entre uma conversa e outra, acabava percebendo que aquelas pessoas não eram apenas mais um número na estatística da empresa. Eram pessoas cercadas de histórias, alegrias, sonhos e planos. O ponto alto do quadro era quando o chefe secreto tirava seu disfarce, ali mesmo, junto aos funcionários. Sua identidade era revelada. As reações eram as mais variadas. Alguns, incrédulos do que estavam vendo. Outros se alegravam pela experiência. Havia também os que se sentiam constrangidos, envergonhados. Mas, ao final, todos reconheceram a grandeza daquele ato. O inatingível e distante chefe, que era conhecido apenas por fotos e vídeos, agora estava bem ali, diante deles, conhecendo-os melhor e sentindo-se um deles.
Observando a ideia do quadro “O Chefe Secreto”, logo veio-me à lembrança aquele que desceu do mais alto céu e se fez um de nós. O início do evangelho de João, que não registra exatamente o nascimento de Jesus – como os demais evangelistas, nos convida a observar o Natal sob este olhar. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).
Deus se fez um de nós. Na manjedoura, está o Verbo com V maiúsculo, a Palavra criadora de Deus, que estava lá em Gênesis capítulo 1. O Verbo que fora anunciado, ainda no paraíso, para Adão e Eva como aquele que esmagaria a cabeça da serpente. O Verbo que fora anunciado por profetas e aguardado pelo povo de Deus, dentre calmarias e tribulações. Verbo que viria ao mundo como o Emanuel, Deus Conosco, do ventre da virgem que iria conceber. Este Verbo se fez carne e habitou entre nós. Deus veio a nós. A promessa se cumpriu. O Verbo se fez carne e é o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Sacrificado e ressuscitado ao terceiro dia, o Verbo é Senhor sobre toda a criação.
No Natal, os céus tocam a terra. E, nesta frase, não há nada de misticismo. Deus desce da glória divina e vem ser um de nós. Não como fiscal ou investigador, mas como Redentor. Como a única salvação para uma humanidade arruinada em culpas e com o coração quebrado pelo pecado. O Natal de Jesus é o Natal do resgate, da redenção, da salvação oferecida a todos, pela fé.
No quadro, “O Chefe Secreto”, era inusitado ver o poderoso chefão suando o uniforme em trabalhos pesados, mesmo sendo o mentor de tudo aquilo que ali estava. O nascimento de Jesus, o Verbo que se fez carne, está longe de ser algo inusitado. Porém, demonstra o amor de Deus em se tornar um de nós. Em viver a nossa vida. Sentir as nossas dores. Passar fome, sede, cansaço. Chorar diante da dor da morte. Sentir aflições. E, especialmente, beber do cálice da morte. Não por culpa própria, mas uma morte vicária, ou seja, em lugar de alguém. Foi por mim. Foi por você. Por nós.
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