O ensino por competências na instrução de confirmandos

A ênfase pedagógica nas competências segue o enfoque nacional e internacional do final do século 20 e início do século 21. O objetivo é parear o conjunto de conhecimentos cognitivos (saber) com a capacidade de mobilizar esses conhecimentos (saber fazer).

Dr. Anselmo Graff
Professor no Seminário Concórdia, São Leopoldo, RS
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O ensino por competências não é novidade no Brasil. O termo já foi utilizado na Lei das Diretrizes Básicas (LDB) em 1996 (p.9): “Estabelecer, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a educação”. Hoje, a ênfase é maior, especialmente na Base Nacional Comum Curricular(BNCC), de 2017.

          A ênfase pedagógica nas competências segue o enfoque nacional e internacional do final do século 20 e início do século 21. O objetivo é parear o conjunto de conhecimentos cognitivos (saber) com a capacidade de mobilizar esses conhecimentos (saber fazer). O contexto escolar brasileiro é orientado a ensinar por competências, e com isso se pressupõe que os confirmandos estão familiarizados com esse tipo de abordagem.

          Uma face do contexto do Catecismo Menor de Lutero, recurso de instrução comum da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), está relacionada ao nível de instrução da população da época. Charles Arand afirma que a publicação dos catecismos foi um tremendo sucesso. No entanto, “a maioria das pessoas não o leu”, pois o analfabetismo era um impedimento na época e o uso da língua latina pelo clero demarcava quem tinha e quem não tinha acesso aos catecismos.

          Segundo Arand, o percentual de alfabetizados na época era de apenas de 5% e mesmo que a Reforma se expandiu para cidades em que a taxa de analfabetismo era menor, os catecismos não foram lidos por mais do que 30% da população.

          Quando o pastor Nicholas Hausmann pediu a elaboração de um catecismo, ele queria saber “que tipos de lições deveriam ser ensinadas para crianças pequenas e analfabetas”. Ou seja, esse contexto indica que é necessário um debate teológico/pedagógico sobre a metodologia que está sendo empregada para o ensino do seu conteúdo, especialmente no que diz respeito à simples memorização, apropriada na época em que havia um alto índice de analfabetismo.

E o ensino por competências? E se elas forem uma novidade, como a gente reage?

Em primeiro lugar, o ensino por competências não é uma metodologia oposta à da memorização, mas um facilitador na aprendizagem. Por exemplo: ao invés de memorizar a ordem dos 66 livros da Bíblia, o intuito é fazer com que o aluno “tenha competência” em localizar um livro bíblico.

Competência é definida na BNCC “como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana”. Ou seja, os estudantes devem aprender “[…] tanto os saberes quanto a capacidade de mobilizá-los e aplicá-los”. Em outras palavras, é “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”.

Como a gente reage quando se ouve falar em competências. Talvez de um dos três jeitos: a) Vou adotar; b) Não vou usar e seguir na minha metodologia; c) Vou ler, pensar, debater com pedagogos da congregação, a fim de que eu saiba o que e porque a gente faz o que se está fazendo.

Por um lado, o ensino por competências abrange questões essenciais na missão da igreja em ensinar, e elas não podem ser desprezadas como se fôssemos proprietários do saber. Por outro lado, reformas nas metodologias didáticas não podem ser acolhidas irrefletidamente, com o risco de não se compreender bem a ideia, sua prática e melhorias no processo de ensinar bem os confirmandos.

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