A permanência de um ciclo chamado ressentimento

Através das reminiscências, reflexos das dores, a pessoa perdura em uma contínua reprodução, resumidamente: o passado é tido como uma incessante sombra que aplaca a luz de uma perspectiva diferente para um futuro a ser erigido.

Artur Charczuk
pastor e psicanalista
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O ressentimento é um fato que não concorda em ser historicizado (um fato ou acontecimento na perspectiva histórica) na vida do indivíduo, que não aceita o tempo pretérito; destarte, é uma ferida em contínua revivescência. Por consequência, não ocorre uma ruptura entre o que passou e o agora, mas apenas ensaios frustrados. É o passado querendo encontrar sentido no presente, é um rancor não elaborado, geralmente provocado por algum tipo de desentendimento, uma ofensa, quem sabe uma traição, enfim. E o que aproxima as três situações citadas são os traumas produzidos. Através das reminiscências, reflexos das dores, a pessoa perdura em uma contínua reprodução, resumidamente: o passado é tido como uma incessante sombra que aplaca a luz de uma perspectiva diferente para um futuro a ser erigido. As memórias estagnadas regulam um sentimento que atribui ao outro a responsabilidade pelo sofrimento sucedido. O ressentido não consegue atribuir perdão para aquele que o vitimou, pelo contrário, ele vive em uma insistente queixa, permeada de fantasias criminatórias e cogitações vingativas.

A grande questão é que o ressentimento é um autoenvenenamento psíquico. Como a raiva, digamos assim, foi impossibilitada de exercer sua função contra o objeto, o seu teor se volta para o ofendido, produzindo o sentimento de culpa, isto é, usualmente é mais ou menos assim: eu deveria ter dito isso, deveria ter usado a palavra tal, a entonação de voz assim, etc. E o ciclo subsiste, o ressentimento vai sendo alimentado com a permanência.

JOSÉ E SEUS IRMÃOS: UM RESSENTIMENTO DE NÃO PERMANÊNCIA

Em uma contemporaneidade permeada pelo ressentimento e seus ciclos, é necessário um olhar mais acurado para o mesmo. Diante disso, podemos dizer o seguinte: “José beijou todos os seus irmãos e chorou, abraçado com eles” (Gn 45. 15). Como bem sabemos, os irmãos de José possuíam um grande ciúme dele, por conseguinte, o jovem foi vendido como escravo para uma caravana de ismaelitas. Seus primeiros anos no Egito foram difíceis, mas ele conquistou a confiança do rei e foi nomeado governador. Com uma seca que já se arrastava por dois anos, os irmãos de José foram para o Egito em busca de alimentação. E lá estava o governador do Egito, José.

Os conteúdos ressentidos estavam agitados, ávidos pela execução, mas não. José optou pelo perdão, ele abraçou e beijou seus irmãos. O perdão de José estava alicerçado no amor de Deus. Ele abraçou e beijou seus irmãos, porque Deus o havia amado primeiro. Sim, lidar com o ressentimento não é uma realidade fácil, por outro lado, a atitude de José é um exalo de esperança para o ser humano, ou seja, quando perdoamos, sabemos que Jesus nos perdoou primeiro. Com isso, abrace, perdoe o outro que o ressentiu, dado que você terá a boa notícia de um Deus que o abraçou primeiro, que o perdoou primeiro, Jesus Cristo.

REFERÊNCIA

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Nova Almeida Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.

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