A Páscoa é feita mesmo de quantos dias? Um? Dois? Na igreja, são sete domingos! Sete domingos chamados “Domingos de Páscoa”. Podemos olhar cada um desses domingos de forma isolada, um a um. Muito melhor é ver esses sete domingos como um todo e examinar os textos bíblicos assinalados para cada um deles na sequência em que aparecem. Veremos que o quadro amplo é bem mais bonito. Sugiro que, além de se propor a ler o texto que segue de forma lenta, você aproveite a oportunidade e leia cada um dos textos bíblicos indicados.
Inicialmente, faço um rápido comentário sobre a primeira leitura e a leitura da epístola nesse período de Páscoa. Em vez de leituras do Antigo Testamento, temos Atos dos Apóstolos. E como epístola, textos do Apocalipse. Por que essa escolha? Quanto a Atos, esta é a única “chance” desse livro entrar no lecionário, porque não é evangelho e não é epístola. Também não está no Antigo Testamento. Assim, aparece como a “primeira leitura” do domingo. Sobre “por que Atos e Apocalipse no período da Páscoa?”, uma resposta simples é esta: são textos que mostram o que vem depois da ressurreição de Cristo. Podemos perguntar: “Como a história de Cristo continua?” E a resposta é que ela continua de duas maneiras: no céu (Apocalipse) e na terra (Atos). No céu, Cristo é Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse). (Note como no Apocalipse fala-se sobre o “trono de Deus e do Cordeiro” – Ap 22.1.) Na terra, Cristo continua sua obra (At 1.1) por meio do Espírito Santo na proclamação do evangelho até os confins da terra (Atos). Além disso, temas de Páscoa, vida e ressurreição aparecem nesses textos de Atos e Apocalipse. (Em alguns momentos vou marcar esses temas com itálico.)
Tomemos as leituras do evangelho. Como, nessa série de três anos, estamos no Ano C, o ano de Lucas, nada mais natural do que, no Domingo de Páscoa, ouvirmos a leitura de Lucas 24.1-12. Os outros textos desse domingo também trazem temas de Páscoa: Isaías 65.17-25: novos céus e nova terra; 1Coríntios 15.19-26: Cristo, as primícias dos que dormem.
A partir do Segundo Domingo de Páscoa, as leituras são tiradas do evangelho de João. Portanto, celebramos a Páscoa no ano de Lucas em companhia de João. A leitura do evangelho é João 20.19-31. Esse texto é lido todos os anos nesse segundo domingo de Páscoa, o que pode facilmente resultar num “Domingo de São Tomé”. Mas é bom esquecer Tomé por um pouco e focalizar o que o texto ensina sobre frutos da Páscoa. A partir da Páscoa temos paz (v.19), o dom do Espírito Santo (v.22), perdão dos pecados (o ofício das chaves – v.23), confissão de fé (“Deus meu” – v.28), vida em nome de Cristo, o Filho de Deus (v.31). Os textos que acompanham são Atos 5.12-20 (“as palavras desta Vida”) e Apocalipse 1.4-18 (Cristo, o primogênito dos mortos).
No Terceiro Domingo de Páscoa ouvimos sobre mais uma manifestação do Cristo ressuscitado. O texto é João 21.1-19 – “Jesus aparece a sete discípulos”. Encontramos mais frutos da Páscoa, especialmente o ministério pastoral (“Pastoreie as minhas ovelhas!” – v.16) e o seguimento a Jesus (“Siga-me!” – v.19). Os outros textos são Atos 9.1-22 e Apocalipse 5.1-14. Num mesmo domingo aparecem a restauração do apóstolo Pedro (Jo 21) e o chamado do apóstolo Paulo (At 9). Apocalipse 5.6 relata que “no meio do trono, (havia) um Cordeiro que parecia que tinha sido morto”. “Estive morto, mas eis que estou vivo para todo o sempre”, diz Jesus (Ap 1.18).
No Quarto Domingo de Páscoa lê-se, todos os anos, um trecho de João 10. Este é o Domingo do Bom Pastor, que – acredite! – é um domingo de Páscoa. Neste ano de Lucas, lemos João 10.22-30. Note o seguinte tema de Páscoa em João 10.28: “Eu dou a vida eterna às minhas ovelhas”. Os outros textos para esse domingo são Atos 20.17-35 (Paulo, pastor de Cristo, descreve o seu ministério) e Apocalipse 7.9-17 (o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida).
A partir do Quinto Domingo de Páscoa, nosso olhar se volta para frente, para as festas da Ascensão e do Pentecostes. Em três domingos, teremos trechos do que Jesus disse ao se despedir dos discípulos em João 13 a 17. (Estas são as únicas palavras de despedida que temos, visto que não nos foi relatado o que Jesus disse a seus discípulos durante os 40 dias entre a Páscoa e a Ascensão – veja Atos 1.3.) No evangelho para esse domingo (Jo 16.12-22), Jesus anuncia que irá para o Pai (v.17 – Ascensão) e promete o Espírito da verdade (v.13 – Pentecostes). Os textos que acompanham são Atos 11.1-18 (v.18: pela ação do Espírito Santo, gentios recebem o arrependimento para a vida) e Apocalipse 21.1-7 (v.3: a morada Deus entre os seres humanos – pelo seu Espírito).
O Sexto Domingo de Páscoa dá início à semana da Ascensão. No evangelho (João 16.23-33), mais uma vez Jesus anuncia que irá para o Pai (v.28 – Ascensão). A igreja, que permanece no mundo, passará por aflições, mas não tem nada a temer: Jesus venceu o mundo (v.33).
No Sétimo Domingo de Páscoa, que é o domingo depois da festa da Ascensão, lê-se todos os anos um trecho da Oração Sacerdotal de Jesus, em João 17. Estando à direita do Pai, o que o Cristo exaltado, nosso intercessor, pede? Uma resposta vem de João 17: “Peço também por aqueles que vierem a crer, a fim de que todos sejam um” (v.20-21). A primeira leitura (At 1.12-26) lembra que, antes mesmo do Pentecostes, narrado em Atos 2, já havia “igreja”. Tanto assim que ela escolheu um apóstolo! O texto de Apocalipse 22.1-6,12-20 parece concluir esse período litúrgico com chave de ouro: “Vem, Senhor Jesus!”
Sete domingos de Páscoa! Belíssimos textos, com uma abundância de temas pascais.
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