Gerusa Mass
Psicóloga
Nas últimas semanas, minha família passou por uma sequência de acontecimentos relacionados a cuidados com a saúde, incluindo procedimentos cirúrgicos. Em dias assim de fragilidade, de convalescença e de recuperação, seja no ambiente hospitalar ou em casa, muitos sentimentos costumam vir à tona. No silêncio das horas de repouso e resguardo, muitas reflexões acerca de questões importantes referentes à vida e às relações costumam brotar na mente do ser humano. Nesse contexto, pensei e percebi o quanto o olhar com empatia para aquele que sofre, faz toda a diferença.
O termo empatia diz respeito à capacidade de se colocar no lugar do outro, de perceber suas necessidades e acolher os seus sentimentos. É um ato de despir-se de si mesmo para receber o que vem do outro. Na Psicologia, especialmente a partir da abordagem teórica da Gestalt terapia, a empatia é entendida como um encontro verdadeiro, ou seja, quando um indivíduo se dispõe a olhar o outro como ele de fato está no momento, incluindo suas dores, seus medos, suas dificuldades. É não julgar e não tentar apressar o outro para sair logo da condição em que se encontra, como a conhecida expressão “Isso logo passa”, mas colocar-se ao lado do outro, amparar, pelo tempo que for necessário.
Mas em tempos de pressa, de agenda cheia, exaltação do individualismo, de onde virá o movimento da empatia? A empatia é um ato de amor. A empatia não nasce apenas do esforço humano, mas no caso dos cristãos, tem sua origem em Cristo. Ele nos amou primeiro e mostrou o verdadeiro significado de cuidar, tendo feito isso conosco de forma plena e sacrificial. É um amor ativo, que percebe as necessidades reais do indivíduo e se antecipa a elas, assim como Cristo fez e faz conosco.
Mas como colocar isso em prática em nossa vida quotidiana? Tendo em vista que o verdadeiro cuidado nos move em direção ao outro, então muitas vezes não basta dizer “Estou aqui se você precisar” a uma pessoa que está fragilizada e não tem condições de pedir ajuda ou ir ao encontro. Perguntar por curiosidade, mandar uma mensagem por obrigação ou dirigir falas genéricas soa educado, mas muitas vezes não supre a real necessidade. É claro que no contexto cristão, pode-se ajudar o outro orando por ele e, para a pessoa fragilizada, saber que tem pessoas que se importam com ela, intercedendo por ela, certamente é confortador. Mas para alguém que está numa situação vulnerável, é necessário também que alguém se aproxime dela.
Uma visita breve, uma oração dirigida junto da pessoa, um prato de comida quentinha a aquecer o corpo e a alma, enfim, algum gesto que expresse “eu vim até você”, “eu me importo com você”. Isso comunica valorização e pertencimento. A expressão do cuidado se dá em detalhes. E quando este cuidado não chega? Nesses casos, a amarga e profunda solidão é experimentada por aquele que se questiona se afinal é importante para alguém. Às vezes, as dores provocadas pelo silêncio das pessoas que se afastaram, doem mais do que aquela vinda do procedimento médico.
Em Jesus nós temos o verdadeiro e maior exemplo de empatia. A bíblia relata que ele se aproximava dos que sofriam. Ele se movimentava em direção às pessoas, olhava nos olhos, tocava, chorava junto, conforme nos mostra o relato da morte de seu amigo Lázaro: “Quando Jesus viu que ela chorava, e que os judeus que a acompanhavam também choravam, agitou-se no espírito e se comoveu. E perguntou: – Onde vocês o puseram? Eles responderam: – Senhor, venha ver! Jesus chorou” (Jo 11.33-35 NAA). Essa passagem nos mostra o quanto, a partir do afeto verdadeiro, ele realmente se envolvia.
Esse mesmo Cristo chama os seus a também se envolverem e a se movimentarem para o encontro do outro. Na verdade, Ele ordena que sejamos empáticos uns com os outros, ao dizer em Gálatas 6.2: “Levem as cargas uns dos outros e, assim, estarão cumprindo a Lei de Cristo”. Muitas vezes pensamos não saber como fazer para aliviar a dor do outro, mas a verdade é que é preciso olhar de perto para o outro, ouvi-lo, entender do que ele precisa e então, capacitados por Deus, podemos ser instrumento ativo de amor na vida de alguém que sofre. A Gestalt terapia entende que o contato humano promove cura. E a partir da fé nós entendemos que quem sustenta esse contato é o próprio Deus, de quem provém todo o cuidado. Então quando somos empáticos com o outro, movimentando-nos para o encontro e o cuidado, estamos sendo a expressão da graça de Deus na vida dessa pessoa.
Se você que lê esse artigo vive um bom momento e se encontra bem nos vários âmbitos da vida, que bênção! Mas creio que você já tenha passado ou passará por momentos difíceis e ao seu redor certamente há pessoas passando nesse momento por necessidades e sofrimentos, como desemprego, conflitos familiares, enfermidades, luto, ansiedade, desesperança, entre outros. Que possamos perceber as pessoas e nos colocar junto delas. Que sejamos aquele que abraça e não aquele que desaparece quando a dor chega. Que sejamos a voz de Deus a consolar de perto, a expressar às pessoas que elas não estão sós.
Que o barulho da correria não cale dentro de nós a voz de Cristo a encorajar-nos para o cuidado com o outro. Que mesmo em meio aos tantos compromissos e distrações, não percamos a sensibilidade de enxergar como Ele enxerga e agir como Ele age. Que a pressa do mundo não nos roube o desejo de olhar com ternura para o outro. E que Cristo levante cada vez mais pessoas para cuidarem e estarem presentes!


