Nestes tempos estranhos, com gente mascarada, distante e isolada, encontrar forças para seguir adiante tornou-se enorme desafio no “novo normal”. É a expressão amplamente usada depois que o coronavírus impactou a sociedade global de um jeito que, dizem, não tem mais volta. O termo não vem de agora, é de 2009, para defender a tese de que o mundo nunca mais seria igual após a crise norte-americana em 2008. Mas os profetas da economia não previram o Covid-19, e agora falam de um “normal” completamente diferente. Será mesmo?
Um analista brasileiro de tendências sugere dez mudanças para o mundo pós-pandemia. Diz que haverá uma revisão de crenças e valores no comportamento das pessoas, e dá como exemplo a solidariedade em ajudar os outros em suas necessidades. Há quem diga o contrário, que as pessoas serão ainda mais distantes e frias com o sofrimento alheio. Só o tempo para saber quem está certo, mas a história tem mostrado que a humanidade sempre continuou do mesmo jeito após grandes crises, isto é, insensível e cruel com a desgraça dos outros. O analista de tendências também sugere que as pessoas vão mudar o seu absurdo estilo consumista, não só pela falta de dinheiro, mas pela consciência da falta dos recursos naturais e da preservação do meio ambiente. Também há grandes dificuldades em acreditar que o desenfreado consumismo vai deixar de existir numa sociedade que sempre buscou no ter o prazer de viver.
É evidente que muitas coisas vão mudar, e já mudaram. Mas são transformações superficiais. Salomão bem disse: “O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo” (Ec 1.9). Disse isso no contexto do famoso “tudo é ilusão”, numa terra assolada com guerras, ganância, destruição, maldade, assassinatos, fome, opressão, injustiças. Um mundo de ilusão que não tem mais jeito na crença de muita gente, como foi o caso do ator Flávio Migliaccio, que tirou a própria vida, amargurado com a “humanidade que não deu certo”. Na carta que deixou para a família antes do suicídio, lamentou que foram “85 anos jogados fora com tipo de gente que acabou encontrando”. O ator, apesar de tudo, tinha um bom motivo para continuar vivo, mesmo quando a Bíblia tem alertado para não confiar nas pessoas (Sl 146.3) e o Criador esbravejado lá do céu sua tristeza por ter feito os seres humanos (Gn 6.6).
O motivo para seguir adiante, por isso, pode até funcionar por algum tempo na crença deste “novo normal” – esperança na capacidade humana em se reinventar após as crises. Isso possui tempo de validade, como tudo neste mundo. O que funciona mesmo é a novidade de vida, que não depende de cataclismos e crises, mas da “nova natureza, criada por Deus, que é parecida com a própria natureza dele” (Ef 4.24). Infelizmente, uma inovação que sempre foi rejeitada como estranha, caduca e anormal. Paulo, no entanto, foi enfático: “Aquilo que parece ser a loucura de Deus é mais sábio do que a sabedoria humana” (1Co 1.25).
Por isso, se hoje este “novo normal” apregoado pela inteligência terrena começa pelo distanciamento social e segue por um mundo dependente da tecnologia para interagir, Deus continua o mesmo com seu antigo e constante jeito, isto é, bem próximo da humanidade – apesar dos pecados e maldades dela. Tudo isso graças à misericórdia divina que dura para sempre. E quando lembramos que este Deus subiu aos céus para um dia voltar e entregar um novo céu e uma nova terra, então essa certeza nos enche de forças para levantar de manhã e seguir adiante.