Como está a nossa comunicação?

A comunicação constitui pré-requisito para a compreensão entre os seres humanos. Por esta razão, é fundamental que ela aconteça com efetividade. Para que atinja seu objetivo, deve alcançar um nível tal que garanta sua eficiência. Quem se comunica espera alguma reação à sua mensagem, ou seja, quer influenciar alguém ou algum grupo.

Como está nossa comunicação com as pessoas de um modo geral, com os irmãos na fé, com Deus? Estamos sensíveis à mensagem de Deus?

Conceito e componentes

A comunicação envolve interação simbólica (quando falamos, fazemos gestos, escrevemos, adotamos determinada postura) entre pessoas com o objetivo de influenciar e compartilhar informações. Em termos técnicos, identificamos nesse processo os seguintes componentes: uma fonte ou emissor, um recebedor ou receptor, a mensagem, um código e um canal. Esse processoacontece numa relação pessoa a pessoa, pessoa para o grupo (ou vice-versa), comunicação de massa (jornais, revistas, rádio, TV) e podemos incluir o diálogo do cristão com Deus ou de Deus com o ser humano através da mensagem bíblica.

Fonte e recebedor estão intimamente relacionados entre si. De acordo com David Berlo, existem vários graus de interdependência entre eles, conforme segue.

Nível 1: Interdependência física e definidora

Este nível engloba as formas mais simples do processo, não se constituindo em verdadeira forma de influência. Só existe comunicação por estarem presentes seus componentes: fonte, recebedor… Na realidade, a fonte não exerce influência sobre o recebedor. Se alguém fala, e o outro só faz de conta que ouve, temos uma comunicação de interdependência física e definidora.

Exemplo prático: se assistimos a um culto, mas a mensagem do pastor entra por um ouvido e sai pelo outro (não nos influenciando), estamos participando de uma comunicação de nível 1. Somos apenas presença física. Por definição, o pastor é a fonte, e nós, os recebedores. Não interagimos mentalmente com a mensagem.

Nível 2: Interdependência de ação e reação

A partir deste nível fica mais evidente o processo de comunicação, já que a mensagem da fonte produz reação no recebedor. Como vimos antes, a fonte tem por meta influenciar o recebedor. Neste nível, o recebedor reage à mensagem da fonte demonstrando concordância ou divergindo. No momento em que o recebedor reage, ele passa a ser fonte, ao mesmo tempo em que a fonte anterior passa a ser recebedor. Por isso afirmamos que a comunicação é um processo contínuo e progressivo.

A reação do recebedor à mensagem da fonte constitui o que se denomina de realimentação (feedback). O feedback permite à fonte avaliar o sucesso ou o insucesso de sua mensagem. Por outro lado, é importante que, no papel de recebedores, saibamos o quanto se faz necessário reagirmos com coerência à mensagem da fonte. Não devemos fazer de conta que a mensagem agrada quando, no íntimo, ela nos desagrada. A fonte só modificará a mensagem quando perceber que não está obtendo êxito no processo. Para aperfeiçoar a comunicação, precisamos reagir coerentemente com a mensagem recebida.

No exemplo da comunicação na igreja, os índices de audiência aos cultos podem ser interpretados como sucesso da mensagem se eles apresentam uma tendência crescente.

Se durante um culto os congregados demonstram atenção à mensagem do pastor, este feedback estimula o pastor a continuar apresentando a mensagem no formato em que elavinha acontecendo. Se, porém, as pessoas estão distraídas, isto exige que o pastor modifique algo na sua mensagem (alterando o tom da voz, lançando uma pergunta desafiadora que leve a pensar, fazendo uma rápida pausa, …) para voltar a ter o interesse dos ouvintes.

Um jornal ou uma revista (como o Mensageiro Luterano) não tem a mesma facilidade de realimentação (feedback), pois não conseguem avaliar direta e imediatamente a reação dos leitores. Logo, se quisermos que o Mensageiro continue como está ou que melhore algum aspecto, é essencial que nos manifestemos de algum modo com a editoria da revista. Também para o articulista o feedback torna-se necessário, para saber se a matéria teve ou não sucesso junto ao leitor. Cabe ao leitor ditar os rumos e a qualidade da Revista.

Na convivência diária, recomenda-se que o feedback atenda aos princípios de uma crítica construtiva. O primeiro passo consiste em destacar aspectos positivos do interlocutor, seja ele criança ou adulto; eu destaco os aspectos que me agradam na pessoa. O segundo passo envolve um ponto que eu gostaria que o outro modificasse. Por exemplo: eu não gosto que me trates de tal jeito. O último passo consiste em apresentar sugestões de melhoria.

As relações entre as pessoas (também entre cristãos) poderão aperfeiçoar-se através de um sadio processo de realimentação. A convivência será mais sadia, madura, cooperativa e fraterna a todas as pessoas. Bons relacionamentos humanos exigem observações cuidadosas dos outros às mensagens por nós emitidas.

No contexto da pregação, entendemos que a mensagem nem sempre deve agradar ao ouvinte. Se o pregador aponta para o nosso pecado, o objetivo da mensagem não é agradar, mas nos levar ao arrependimento através da ação do Espírito Santo (2Tm4.1-5).

Nível 3: Interdependência de expectativas

Para atingir este nível de comunicação exige-se, como pré-requisito, a empatia da fonte com o recebedor. Empatia implica que a fonte seja capaz de colocar-se no lugar do recebedor e, consequentemente, adequar a mensagem às necessidades e características da pessoa que irá recebê-la. Neste caso, a fonte emitirá a mensagem de modo a exercer plenamente a influência pretendida sobre o recebedor.

A fonte saberá, com antecedência, que terá êxito na comunicação, graças à condição de ser empática com o recebedor.

Sempre que uma mãe sabe, por experiência, como agir com o filho para obter algo, ela está no nível 3 de comunicação. Do mesmo modo, a mulher que conhece seu marido (e vice-versa) obtém dele o que deseja. Um bom professor, habituado a atuar numa determinada série, já domina as estratégias de ensino adequadas àquele contexto. Todos os exemplos evidenciam que a fonte alcançaêxito graças à empatia.

Quando a fonte fracassa, ela pode adotar dois caminhos. Ou ela responsabiliza o recebedor pelo malogro (ele não entende, tem limitações, não quer ouvir ou entender, …) ou revisa seu conhecimento do outro para adequar a mensagem às características da pessoa. No primeiro caso, o comportamento da fonte pode evoluir para a neurose, ou mesmo psicose.

Pastores e demais líderes da igreja atingem mais facilmente seus objetivos quando desenvolvem empatia em relação às comunidades. Para ter êxito é necessário conhecer as aptidões individuais (dons), interesses e conhecimentos próprios dos congregados. As mensagens dos cultos aumentam a probabilidade de atingir os ouvintes se o pregador conhecer melhor a plateia. Os estudos bíblicos poderão ter mais êxito se os temas vão ao encontro dos interesses dos participantes.

Nível 4: Interação

Existe interação em comunicação quando fonte e recebedor são reciprocamente empáticos. Empatia pressupõe ser capaz de prever perfeitamente o que o outro pensa, sente e deseja. A pessoa empática antecipa a reação do recebedor.  Na comunicação interativa, a fonte compreende o recebedor e prevê como ele iráreagir à mensagem ajustando-a com antecedência. E o mesmo acontece com o receptor da mensagem.

Somente relações envolvendo amizades íntimas ou um relacionamento conjugal verdadeiro, fraterno, com conhecimento mútuo permite alcançar parcialmente uma comunicação deste tipo. Nos casos em que um professor conhece bem seus alunos depois de uma longa convivência e, igualmente, os alunos conhecem e compreendem bem seu mestre, também pode observar-se um bom nível de entendimento entre eles, obtendo-se um relacionamento mutuamente satisfatório e favorável ao desenvolvimento cognitivo.

Em síntese: a interação constitui o nível mais elevado de comunicação entre as pessoas e, como tal, deve ser buscado por todos. Isso vale particularmente entre cristãos, tanto nos relacionamentos interpessoais quanto com Deus. Isso é possível?

Da parte de Deus já está acontecendo. Por essa razão, a mensagem bíblica alcança o êxito que vem obtendo em todos os tempos. Deus nos conhece, compreende e quer nos salvar. Sendo onisciente, ele antecipa nossos pensamentos, desejos e ações. Sua mensagem vai direto ao ponto. Lamentavelmente, muitos se recusam a ouvir a mensagem salvadora.

A nossa comunicação com Deus tende a ser muito falha, pois só compreendemos aquilo que nos foi revelado na sua Palavra. Além disso, o pecado limitou severamente esse processo.

Considerações finais

A análise do tema permite destacar algumas ideias e conclusões:

·     A comunicação com as pessoas e com Deus é essencial para o desenvolvimento pessoal, interpessoal e para o crescimento na fé.

·     Nesse processo, alternamos nosso papel de fontes e recebedores de mensagens.

·     Podemos e devemos aperfeiçoar a comunicação no contexto da convivência cristã.

·     Estar atento ao outro e reagir coerentemente à sua mensagem constitui um passo decisivo na qualificação das trocas entre as pessoas.

·     Submeter-se à vontade de Deus corresponde à forma esperada de reagir à mensagem da Palavra.

·     Apenas com um maior conhecimento e compreensão do outro nos comunicamos verdadeiramente com ele. A empatia possibilita o êxito de nossa mensagem.

·     As pessoas que recebem nossa mensagem são participantes ativas do processo de comunicação. Seu feedback precisa ser imediato, honesto e construtivo. Comunicar-se dessa forma traz benefícios tanto à fonte quanto aos recebedores.

·     Espera-se que os líderes da igreja, na qualidade de fontes, desenvolvam empatia com os recebedores. Desse modo, aumentaremos a probabilidade de sucesso na comunicação.

·     Nosso diálogo com os outros e com Deus sempre será falho, mas ele pode ser melhorado na medida em que aperfeiçoamos nossa empatia com eles.

·     Somente Deus está apto a interagir conosco através da mensagem bíblica, pois só ele é capaz da empatia perfeita. Cabe a nós buscar a melhoria da qualidade de nossa comunicação nos limites permitidos à natureza humana.

 

Bruno Edgar Ries

Psicólogo e Colaborador do ML

[email protected]

*Texto publicado no Mensageiro Luterano de setembro de 2016.

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