Entre razões e emoções

São 6 horas da manhã, e o rádio-relógio desperta me chamando para ir à escola. Parece estranho dizer isso, pois já tenho 38 anos, mas essa foi uma das lembranças que recordei nas últimas férias quando fui visitar minha mãe. O rádio-relógio digital da mamãe nos acordava às 6 horas da manhã sintonizado numa estação de rádio local. Hoje o rádio-relógio dela está guardado numa caixa. Você sabe quem inventou o primeiro relógio digital?

No ano de 1961, Thomas Bromley construiu o primeiro relógio digital no galpão de sua casa. Talvez o primeiro relógio digital do mundo! Conforme seu filho, ele era engenheiro durante o dia e inventor durante a noite. Sabe-se lá quantas noites levaram até que viesse a existir o Digitron Eletric Clock. Bromley manteve a patente do projeto durante três anos, mas optou por não a renovar. Um ano após o término da patente, os japoneses começaram a fabricar um relógio praticamente idêntico e o venderam aos milhares. Enquanto isso, Bromley mantinha seu protótipo em seu galpão. Após a sua morte, seu filho David vendeu o protótipo num leilão e disse: “Estava sempre no armário da casa da minha mãe. Ela morreu há alguns meses, e eu e minha irmã sentimos que só queríamos encerrar”.

Quanta coisa guardamos no armário e em caixas velhas, não é mesmo? Objetos que não usamos, mas que nos trazem boas lembranças. Na caixa da minha mãe ainda está o rádio-relógio da família. No galpão do Bromley não há mais o protótipo. Há coisas que precisamos guardar durante um tempo e coisas de que precisamos nos desfazer. E há coisas das quais não podemos abrir mão!

Jesus nos diz: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.19-21).

Sabemos que, no sentido do texto, o tesouro é algo que pensamos sobre alguma coisa, um grau de importância que temos sobre algo nesta vida. Pode ser uma história ou um objeto. Isso nos parece bem racional, podemos dizer assim. O que talvez poucas pessoas saibam é que nossos pensamentos têm influência direta sobre o nosso coração. Cardiologistas afirmam que emoções podem precipitar eventos cardíacos. Vivemos como no limite entre a razão e a emoção. E como dizia uma música secular: “Entre razões e emoções, a saída é fazer valer a pena”. Mas como fazer valer a pena esta breve vida que Deus nos deu? Uma vida em que o tic-tac do relógio está sempre à nossa volta?

O segredo está nas palavras de Jesus que lemos há pouco. A história de Thomas Bromley nos mostra que objetos vêm e vão nesta vida. Inclusive este artigo que estamos lendo neste momento. Objetos, muitas vezes, ficam guardados em caixas para apenas relembrar uma história. Mas “onde está o teu tesouro (aquilo de maior valor), aí estará também o teu coração”.

E Jesus nos dá uma direção: “ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam”.

As histórias desta vida são escritas e apagadas, objetos marcam lembranças nas memórias de quem as guarda, mas o tesouro de Deus marca uma vida por toda a eternidade. O relógio faz tic-tac e o coração faz tum-tum, mas o coração está previamente inclinado de emoções por aquilo que a pessoa tem maior valor e que os ponteiros do relógio não podem segurar. Deus nos conceda um coração inclinado à sua Palavra e aos sacramentos, que nos trazem a eternidade. Um tesouro gratuito que nem o tempo, nem uma emoção podem destruir. É bom ter lembranças, é bom recordá-las, mas ajuntar tesouros no céu vale a pena e faz bem ao coração! E entre razões e emoções, a saída é fazer valer a pena! Não é mesmo?

Franco Thomassen

Pastor em Erechim, RS

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