Há várias formas de expressar a dor de um luto. O choro, a revolta, os questionamentos e até mesmo o profundo silêncio fazem parte deste doloroso processo. Mas há momentos em que o coração quer colocar para fora estes sentimentos, transformando-os em palavras. Ou ao menos tentando. E, quando um coração enlutado fala, surgem expressões de amor profundo, tais como “descanse em paz”, “vai fazer muita falta”, “levou um pedaço de mim”.
Mas há uma expressão que soa fora do tom, mesmo que brote das profundezas de um coração enlutado. Falo da surrada e popular frase “virou uma estrelinha e agora vai cuidar de nós lá de cima”. Tá bem, eu sei que ela é uma manifestação de amor e que a dor do luto pode ser tão alta que nem se perceba que o “virar estrelinha e cuidar de nós” é algo desafinado da fé cristã, fora do tom, destoante da orquestra como um todo. E, como pastor, com todo o carinho e respeito, quero lhes apresentar o que a Palavra de Deus diz sobre isto.
“Virar uma estrelinha no céu” não é, em si, a nota que desafina todo o acorde. Pessoas, depois de mortas, não se transformam em estrelas. Claro, há um sentido carinhoso nesta frase, pois ela foi muitas vezes usada para consolar crianças diante da morte. Sobre o que acontece depois da morte, a Palavra nos diz que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disso, o juízo” (Hebreus 9.27). Quem teve fé em Jesus terá o céu. Quem rejeitou Jesus e sua obra de salvação, terá o inferno. Ninguém será transformado em estrela, flor, nuvem ou anjinho. O Bruno continuará sendo o Bruno, no inferno ou no céu.
Mas o que mais soa desafinado aos ouvidos de um cristão é a expressão “cuide de nós lá de cima”. Mesmo que esta frase surja em um tom de amor, carinho e saudade, a verdade nua e crua é que quem morreu não tem capacidade de cuidar de ninguém. “Nunca mais tomarão parte naquilo que acontece neste mundo”, diz a Palavra em Eclesiastes 9.6 sobre os mortos. Por mais que esta seja uma enganosa forma de consolar o coração, quem já se foi não conseguirá cuidar de nossas aflições, dores e caminhos.
Agora, se a Palavra nos ensina que nem mesmo a pessoa mais amada na nossa vida é capaz de se tornar “uma estrela no céu que nos cuida”, a mesma Palavra nos apresenta aquele que morreu, mas que foi ressuscitado, que subiu aos céus, que nos traz salvação e cuidado. E se alguém pode ser chamado de “estrela no céu a nos cuidar” é ele, Jesus. E é bem assim que ele mesmo se intitula em Apocalipse 22.16: “sou a brilhante estrela da manhã” (Apocalipse 22.16).
Debaixo dos cuidados de Jesus, a brilhante estrela da manhã, podemos viver nossos dias, enfrentar nossas lutas, sorrir e chorar. Mesmo quando a dor do luto rasgar o coração, sabemos que sempre haverá alguém para cuidar de nossos piores pesadelos. O mesmo que se fez carne e habitou entre nós, que continua a habitar em nosso coração através do Batismo, da Palavra e da Ceia. O mesmo que nos traz perdão e salvação a cada novo dia e que, no fim dos tempos, ressuscitará a todos os mortos.
Então fica a dica: só há uma estrelinha no céu a nos cuidar: Jesus, a brilhante estrela da manhã.