A origem dos luteranos no Brasil

A vinda dos luteranos ao Brasil coincide com a data do início da imigração alemã: 25 de julho de 1824

       Apesar do decreto do rei D. João VI, “que todos os colonos deveriam ser de religião católica, (Schaeffer) introduziu grande maioria de evangélicos, que foram melhor assistidos por seus próprios pastores do que os católicos” (Hunsche, Carlos H. & Maria Astolfi: O Quadriênio 1827 1830 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul, p.313). Schaffer, alemão, estava a serviço de D. Pedro I e foi o criador da primeira corrente emigratória alemã para o Brasil (Hunsche, p.17).

      Em 1886 (19 e 20 de maio), após várias tentativas, sob a liderança do pastor W. Rotermund, os protestantes se organizaram num sínodo, chamado de Sínodo Rio-Grandense. Um dos fundadores, pastor Brutschin, propôs que o “Sínodo se confessasse como sendo um Sínodo Evangélico Luterano. Sua proposta não foi aceita e o Sínodo passou a ter um caráter mais reformado que luterano” (Rehfeldt, Mário L.: Um Grão de Mostarda – A história da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. V.1, p.25).  “Este Sínodo não quis assumir uma clara posição confessional a fim de permitir que todos os imigrantes, luteranos ou reformados, pudessem ser aceitos como membros” (Buss, Paulo, “Como a nossa Igreja chegou ao Brasil”, em: Lar Cristão 1983, p.80). Apenas em 1968, o Sínodo Rio-Grandense se uniu com outros sínodos de Santa Catarina, Paraná e região do Brasil Central e formou a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, conhecida como a IECLB – assumindo o nome “luterano”.

      Para entendermos melhor essa história, temos que voltar até a época da Reforma. Concomitantemente com a reforma realizada por Lutero na Alemanha, Zwinglio e Calvino realizaram uma reforma na Suíça. Lutero e Zwinglio chegaram a se encontrar para tentar unificar os seus pontos da Reforma; mas não concordaram em todos os pontos e cada um foi para o seu lado, formando, posteriormente, o grupo dos luteranos e o dos calvinistas ou reformados. O rei da Prússia, Frederico Guilherme III, era calvinista, e a esposa, luterana. Por motivos políticos e também para exercer mais domínio sobre a igreja, o rei decretou a chamada União Prussiana, em 1817, por ocasião do 3° Centenário da Reforma. Muitos luteranos que queriam permanecer fiéis à doutrina redescoberta por Lutero não se conformaram com essa união forçada entre as igrejas e decidiram abandonar a pátria e imigrar. Muitos vieram ao Brasil, outros foram aos EUA, Austrália e outros países, em busca de liberdade religiosa.

      Além disso, fortes influências filosóficas, como o racionalismo iluminista, estavam afetando a igreja, tirando a Bíblia do centro da fé e colocando a razão acima de tudo. Também o pietismo, que valorizava mais as atitudes de vida do que a doutrina pura, levou a um descaso de muitos pela fidelidade doutrinária luterana conforme exposta no Livro de Concórdia de 1580.

      Um grupo considerável de alemães imigrou para os Estados Unidos, em busca de liberdade religiosa, e fundou, em 1847, o que hoje é conhecida como a Lutheran Church – Missouri Synod. Este Sínodo, quando tomou conhecimento da situação de alemães luteranos no Brasil, que não tinham pastores suficientes para serem assistidos, decidiu, em sua Convenção em 1899, mandar um prospector (missionário) ao Brasil para ver a real situação dos alemães luteranos. O pastor Broders foi enviado em 1900. Sua primeira impressão, ao visitar a região de Estância Velha e Novo Hamburgo a convite do pastor Brutschin, não foi das melhores. Posteriormente, ele fez contato com luteranos da região sul do estado, na colônia de São Pedro, interior de Pelotas, encontrando o patriarca Gowert, luterano fiel e versado na Bíblia e nas Confissões Luteranas. Gowert sabatinou o pastor vindo dos EUA e o achou fiel às Escrituras. A partir daí, 17 famílias se organizaram em uma congregação em 1º de julho de 1900, sob a liderança do pastor Broders. Havia várias igrejas luteranas livres na região, e o Sínodo Rio-Grandense ainda não atuava no sul do estado. Algumas dessas igrejas, sabendo da existência de um pastor luterano, se aproximaram e pediram atendimento também. A Congregação de São Pedro mandou aos EUA um chamado para um pastor residente. Foi enviado o pastor Mahler, que se mostrou excelente líder e empreendedor.

   Em 1903 foi fundado um Seminário para a preparação de pastores, e em 1904 foi fundada a que hoje é a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, conhecida como IELB.

A IGREJA LUTERANA NA REGIÃO DE SANTA CRUZ

       A história mais ou menos se repete quando examinamos a história dos luteranos na região de Santa Cruz do Sul. Desde o início, 1849, imigrantes católicos e protestantes se instalaram em Santa Cruz. “Já em 1855 foi fundada a primeira Comunidade Evangélica na Picada Velha e a primeira capela, rústica, foi concluída em 1848. Em 1862 (2 de janeiro) foi constituída a Comunidade Evangélica de Santa Cruz, com o nome: Comunidade Evangélica Alemã em Santa Cruz.”  (Altermann, Felipe: Templo Memorial Restauração e Reconstrução, Cap.5). Note-se que não foi usado o nome luterano, mas, evangélico, provavelmente com o mesmo propósito de servir a todos os alemães não católicos, independentemente de sua linha confessional, isso é: luteranos, reformados, calvinistas, unidos – o que hoje é chamado de inclusão ou de diversidade.

      “Em 1866, foi realizado o primeiro culto na nova igreja, construída junto à Praça da Bandeira. O templo serviu à Comunidade até 1924, quando foi vendido, e a atual igreja foi construída na esquina da rua Venâncio Aires com a Sete de Setembro. A inauguração aconteceu no dia 30 de novembro de 1924, completando o seu Centenário neste ano.”  (Altermann, Felipe: Templo Memorial Restauração e Reconstrução, Cap.5).

    Ao mesmo tempo, novas comunidades se formavam nos núcleos em volta de Santa Cruz. A Comunidade Trindade, de Sítio, hoje Vila Progresso, foi fundada em 1902 (13 de agosto), por luteranos confessionais. É a mais antiga igreja luterana da região, completando, neste ano, 122 anos. Em 1905, pediu filiação ao recém-criado Sínodo Luterano, hoje IELB. Seguiram-se as congregações de Ferraz (1936) e de Sinimbu (1938). Em Santa Cruz, a Comunidade Evangélica Luterana da Santa Cruz foi fundada no dia 9 de setembro de 1948. O templo foi inaugurado em 1960, à Rua Carlos Trein Filho, 1244.

Imagino que um processo semelhante aconteceu também em outros lugares.

ALGUMAS DIFERENÇAS ENTRE AS IGREJAS LUTERANAS: IECLB E IELB

       Desde o princípio, a IELCB primou por uma maior flexibilidade na doutrina e na praxe, para acolher as várias linhas teológicas de protestantes (evangélicos) que haviam imigrado para o Brasil. Ela também tem especial atenção ao ecumenismo e à diversidade religiosa e cultural.

       A IELB, por seu lado, é mais conservadora e confessional, tanto no que diz respeito à doutrina como na praxe. Preservamos os princípios bíblicos da Reforma de Lutero conforme expostos no Livro de Concórdia de 1580. A salvação por graça, sem mérito humano, mediante a fé em Cristo – base da Reforma –, continua sendo o carro chefe da teologia.

      No princípio, havia muita rivalidade entre as duas igrejas. Hoje, há um convívio pacífico e algumas atividades conjuntas, como a edição das Obras Selecionadas de Lutero e o devocionário Castelo Forte, com meditações diárias, em que pastores e líderes de ambas as igrejas escrevem, sob a coordenação da Comissão Interluterana de Literatura (CIL). Para saber mais sobre essa parceria, acesse www.lutero.com.br

      A IECLB tem cerca de 630 mil membros, e a IELB, cerca de 250 mil. Grupos menores de luteranas livres completam cerca de 1 milhão de luteranos no Brasil.

Acesse aqui a versão impressa.

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