Estivemos na cidade de Genebra (Suíça) no último mês de maio, participando de uma conferência chamada Uniting and Reconciling Our World (Unindo e Reconciliando nosso mundo). Representantes de 37 países passaram 4 dias refletindo sobre os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), apontados pelas Nações Unidas (ONU) como o que o mundo precisa alcançar para encontrar a tão desejada paz.
Entre os ODS (17 objetivos e 169 metas), ideais como: erradicar a pobreza, manter meio ambiente sustentável, ter saúde, dignidade, educação, cultura, acesso à moradia, a lazer, etc. Igualdade de gênero, salários razoáveis. Governos justos, instituições fortes, fim de guerras, e, enfim, paz. Bonito, não?
Porém, uma ausência muito significativa se faz sentir: a religião não foi considerada como protagonista nesse grande diálogo do mundo globalizado – na verdade nem como coadjuvante. Falamos sobre esse tema em nosso livro Agenda 2030 ONU e a liberdade religiosa? (Editora Concórdia, selo Ao Leitor, 2022). Por que será que os líderes mundiais resolveram deixar a fé religiosa de lado? Será que a religião não tem mais relevância no mundo atual?
O Pew Research Center (Califórnia, EUA) mostra um aumento da religião considerando como horizonte o ano de 2050, quando diminuirá o número de pessoas que não confessam nenhuma religião, cristãos e muçulmanos terão quase o mesmo número de fiéis, ambos aumentando o número, resultando em um novo quadro demográfico da presença religiosa, ainda maior que 2010, o ano-base. A África subsaariana responderá por 1 a cada 4 cristãos no mundo, e o Brasil terá 100 dos 215 milhões de habitantes professando a fé sob diferentes tradições evangélicas. Deixaremos de ser o maior país católico do mundo na próxima década e meia.
Isto é, a religião continua sendo um fato social indiscutível e essencial à humanidade. A modernidade não conseguiu “matar” Deus e, muito menos, a pós-modernidade. E, por outro lado, os aportes da religião são essenciais nessa conversa sobre o chamado bem comum. Apenas a crença religiosa (usamos aqui um conceito jurídico) e sua expressão apontam a bússola moral da transcendência. Esta responde às perguntas existenciais: Quem sou eu? De onde eu vim? Por que eu estou aqui? Para onde eu vou?
No caso dos cristãos, sabemos exatamente que o mundo não caminha para uma paz mundial nesta dimensão da existência. Justamente por conta disso, nossa esperança não está (ou não deveria estar) em espectros políticos, seja nacional ou globalmente. A liberdade religiosa é um elemento importante para justamente continuarmos a testemunhar da graça que nos foi outorgada mediante a fé que recebemos pelo batismo e/ou pela pregação da Palavra.
Assim sendo, temos realmente muito a contribuir. Afinal, a moralidade cristã é um dos pilares do que conhecemos como “civilização ocidental”. A boa notícia? Parece que alguns atores na ONU querem conversar. Sabem que atingir as metas sem a religião a bordo será impossível. E, justamente porque a política é uma “arte do possível”, o diálogo com demais atores sociais pode chegar a compromissos comuns razoáveis, sem, no entanto, negociar o que é essencial. Como diria Lutero, “a paz, se possível, a verdade, a qualquer custo”.