Em Tempos modernos, filme de Charles Chaplin, Charlie, artista transformado em operário, ao executar tarefas impostas para sobreviver, circula, por inabilidade, nas engrenagens, a indústria farmacêutica oferece pílulas ao diretor exausto. Charlie e sua companheira, segregados, deixam a cidade rumo a lugar nenhum, para a arte e para o amor não há lugar, amar perturba a sociedade industrializada.
O século 21 anuncia robôs aconchegantes e sorridentes a corações solitários, corpos se contorcem automaticamente para seduzir pessoas carentes de afeto, imagens lascivas animam a noite de olhares anelantes, a máquina afasta palavras acolhedoras.
Entretanto, fomos concebidos em calorosos abraços de amor, concepções violentas afrontam. Desenvolvemo-nos no mar uterino ao movimento de ritmos, sons, raios luminosos e afagos. Lançados ao mundo, acolhem-nos braços aconchegantes, embalos tranquilizadores, sons familiares, somos conduzidos afetuosamente a decisões independentes e responsáveis.
Convém amar a mulher, adverte Paulo, amor, em lugar do borbulhante harém de Salomão. O harém degrada a mulher a objeto de prazer, de poder, de ostentação, uniões políticas alicerçam alianças, fortalecem tratados.
No amor, a mulher vale por si mesma, o amor humaniza, coloca os que se amam no mesmo patamar, Paulo recomenda ao que ama conferir à mulher atenções oferecidas ao próprio corpo, unidade psicofísica. Quem ama o corpo cuida da saúde, do desenvolvimento, o amor ao corpo celebra pacto de vida. Aproximar um corpo de outro não objetiva fundir, fusão significaria aniquilamento de individualidades, o amor a outro corpo brilha no respeito à diferença, no cuidado com a saúde, com o desenvolvimento, com o prazer do corpo amado sem prejudicar o próprio, o amor robustece os que se amam.
Amar significa criar valores que se renovam como os lírios do campo. O amor embeleza e perfuma a vida. Amor em lugar de rusgas. O amor conforta, condimenta a alegria de viver, a eleição alicerça uniões bem-sucedidas.
Considere-se o amor ao próximo, aceito o próximo como ele é, com seus méritos e limitações. Na presença do próximo, reconheço meus próprios limites. Por sermos limitados, colaboramos, levantamos juntos os braços ao que vive em alturas sem limites. Sabendo-me limitado, movido pelo amor, ofereço amparo, o amor não tem limites, o tempo de amar de que fala o Eclesiastes é de vida inteira, do visível o amor se levanta ao Pai que age no invisível. Como amar a Deus que não vemos se não amamos os que nos cercam? Em lugar da lei que aprisiona, a lei que liberta, a lei do amor.
Os escritores do Novo Testamento, ao se referirem a amor escrevem agape, termo que significa dádiva, não havendo dádiva, carência alguma será satisfeita, os movidos pela dádiva oferecem a outros o benefício recebido, o amor constrói, a dispersão aniquila. Deus fala a Jó porque o ama, Deus fala a carentes que não tem nada a retribuir, fala como Criador, lembra os alicerces que sustentam a vida. O amor nos vem de Deus e beneficia pessoas que vivem no lugar em que estamos, oferecemos o que recebemos sem aguardar retribuição. Cristo nos ofereceu a vida.