E as provações?




“Alegrem-se
por isso, se bem que agora é possível que vocês fiquem tristes por algum tempo,
por causa dos muitos tipos de provações que vocês estão sofrendo. Essas
provações são para mostrar que a fé que vocês têm é verdadeira. Pois até o
ouro, que pode ser destruído, é provado pelo fogo. Da mesma maneira, a fé que
vocês têm, que vale muito mais do que o ouro, precisa ser provada para que
continue firme. E assim vocês receberão aprovação, glória e honra, no dia em que
Jesus Cristo for revelado.” (1Pedro 1.6,7 – NTLH)

 

 

Ao
abordar o tema das provações, via de regra, penso que gostaríamos que elas nem
existissem. Afinal, provações estão associadas a situações difíceis, como o
excesso de sofrimentos, por exemplo, quando a capacidade de superação de uma
pessoa é testada. Normalmente as provações envolvem a fé, os valores morais, os
princípios e convicções assumidos por uma pessoa. Então, provações são uma
prova, que, de certa forma, consegue dizer, quem, de fato, somos.

Pois
bem, ao falar sobre quem somos, começamos a tratar de nossa identidade, de
nossa fé, de nossos valores e nossa esperança. Entra aí a difícil, mas
importantíssima questão relativa ao sentido de nossa vida, sobre os porquês,
sobre os para quês, enfim, sobre os propósitos de nosso ir e vir. Penso que
poucas vezes refletimos a respeito disso de forma objetiva e consciente, porém
constantemente vivemos isso desafiadoramente na dinâmica do dia a dia. Certamente
todos(as) teríamos situações a relatar em que a fé e os valores oriundos desta
fé nos colocaram à prova e foi necessário decidir.

A
Bíblia fala a respeito das provações. O apóstolo Pedro aborda o tema de forma
bastante clara, onde, antes de tudo, fala da misericórdia de Deus, que “deu uma
nova vida pela ressurreição de Jesus Cristo” (1Pe 1.3) a todos os que creem. Segundo
o apóstolo, é esse Cristo que “enche o coração do crente de uma esperança viva”,
que muda tudo, dando identidade, sentido e motivação para fazer e realizar.
Porém, segundo o apóstolo, as provações virão, já que os valores cristãos não
são os mesmos dos que não creem em Cristo.

Primeiro,
penso que é preciso destacar o que temos; e, por causa da misericórdia de Deus,
temos em Jesus Cristo uma “nova vida”, que enche o nosso coração de uma
“esperança viva”, em palavras do apóstolo (1Pe 1.3). Por causa de Cristo,
portanto, como cristãos, somos cheios de vida, porque fomos plenificados de
esperança pela fé. Temos razões e muitos motivos para ir e vir, para fazer e
realizar, porque dinamicamente e diariamente somos motivados à vida, por causa
de nosso Senhor Jesus Cristo. Isso não significa dizer que diária e
constantemente estaremos motivados e animados, pois certamente ainda lidamos
com os resíduos de nossa natureza pecadora, mas significa dizer que temos como
seguir, com perseverança, superando os desafios diários e buscando fazer o
melhor dentro de nosso contexto e circunstância de vida.

Segundo,
é preciso que estejamos conscientes de que, como cristãos, somos diferentes.
Nem melhores, nem piores, mas diferentes do que as demais pessoas. Somos
diferentes, por causa da fé, para fazer a diferença para o lado da vida, da
esperança, do amor, do respeito, da alegria, ou seja, de tudo aquilo que
enalteça a vida, a respeite e glorifique como dom de Deus. Temos aí um desafio
e uma oportunidade diária de exercitar a fé, pois, infelizmente, nosso contexto
de vida é inundado por situações e realidades de sofrimento, dor e lágrimas,
que, em muitas situações, são abafadas e silenciadas por uma sociedade que
exige “vencedores”, sorrisos e poses de elegância.

Então,
creio que todos concordamos que temos muitos desafios e oportunidades, pois,
infelizmente, estamos rodeados por situações onde imperam o preconceito e a
exclusão, onde pessoas são sufocadas e silenciadas por contextos de opressão
econômica e cultural, com imensas dificuldades de fazerem ouvir a sua voz, na
busca de oportunidades de dignidade e vida. Possivelmente seja necessário um
olhar mais atento, um ouvido mais apurado, para que de fato consigamos ouvir o
lamento dos que “estão à beira do caminho” (Lc 18.9-17), em palavras de Jesus. Mas
esse é o exercício, esse é o desafio, mas, acima de tudo, essa é a oportunidade
de realização, de plenificação de sentido e felicidade.

Possivelmente
a maior das provações seja viver a fé cristã e assumir o que ela propõe, numa
relação de dependência e fé com Deus e de serviço amoroso e consagrado com o
próximo. Nessa dinâmica, como alerta o apóstolo (1Pe 1.6,7), muitas outras
provações virão, mas que servirão para firmar nossas convicções naquilo que
Deus ensina e propõe como objetivo de vida, como sentido e razão para o ir e
vir, para o fazer e realizar. Talvez seja essa a maior de todas as
aprendizagens necessárias e importantes ao longo de toda a existência e, como
sabemos, ela acontece no tempo de Deus, de acordo com os seus desígnios e
propósitos. Nela está a nossa salvação, que já aconteceu de forma plena e
completa na cruz de Cristo, mas que acontece de forma diária e constante nas
aprendizagens de salvação, livramento e liberdade que Deus opera em nossa vida,
por sua graça e misericórdia. Assim seguimos, agradecidos e alegres, mas também
conscientes e comprometidos com os propósitos da fé cristã, que redime, liberta
e motiva.

Pastor Eltton Zielke

Escola Fundamental Luterana Redentor

Igrejinha, RS

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