Essa foi a pergunta feita pelo meu filho mais velho, aos 5 anos de idade. Pergunta difícil! Se eu dissesse que não, estaria mentindo. Se dissesse que sim, também não seria uma verdade absoluta. Antes de revelar o que respondi, quero contar algo que presenciei quando o Rafael era ainda bebê. Fomos a uma clínica para vaciná-lo. Ao nosso lado, na sala de espera, estava uma menina chorando, tinha uns 4 anos. Assustada e inquieta no colo do pai, disse: “Não quero vacina”.
Mãe de primeira viagem, fiquei imaginando qual seria a reação do homem. Ficaria quieto? Abraçaria a filha? Ou responderia o que manuais sugerem: que estava ali com ela, que era algo bom para a saúde mesmo que doesse um pouco, logo iria passar, etc… Mas fiquei chocada com o que ouvi: “A vacina não é para você, o papai é que vai se vacinar”. Muitas vezes queremos estar no lugar dos nossos filhos para lhes poupar o sofrimento, mas aquilo era uma grande mentira. E, mesmo que tivesse funcionado, o que não foi o caso, pois a menina não se consolou, instantes depois, a decepção da pequena seria ainda maior.
Chamaram o nome dela. Logo após, escutamos novamente seu choro, que agora soava com algo a mais. Seria a mágoa de saber que foi enganada? A insegurança de não poder confiar naquele que estava ali para deixá-la segura? Que vontade tive de falar com aquele homem, dar um “chacoalhão” nele. Claro que não o fiz.
O que eu queria ter dito àquele pai e digo para você hoje é: Não minta para o seu filho! Não estou aqui pedindo para abolirmos o Dia 1º de Abril; acabarmos com o mundo da imaginação e da fantasia que faz parte da infância; ou para sermos os “sincerões” que estragam surpresas ou outros momentos em que é preciso omitir informações ou poupá-los de detalhes. Mas, sempre que, em algum momento da vida dos meus filhos cheguei a cogitar falar uma mentira, mesmo que fosse de “brincadeirinha” ou para preservá-los de alguma frustração, a cena da vacina pipocou na minha mente e me fez parar e refletir sobre o impacto das minhas palavras e ações.
Um estudo feito pela Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, e divulgado pela Superinteressante*, revelou que quanto mais os pais mentem, mais os filhos tendem a repetir esse hábito e a mentir para os próprios pais depois de adultos. O resultado mostrou que as mentirinhas também contribuem para o comportamento agressivo, intrusivo e o desrespeito às regras por parte dos filhos. “A desonestidade dos pais pode dificultar a confiança e promover a falsidade nas crianças”, diz o professor Setoh Peipei, líder do estudo.
Mais uma comprovação da importância do exemplo. E nós, mães e pais cristãos, sabemos bem em quem nos espelhar. “O próprio Cristo sofreu por vocês e deixou o exemplo, para que sigam os seus passos. Ele não cometeu nenhum pecado, e nunca disse uma só mentira” (1Pe 2.21-22). Várias passagens bíblicas falam sobre o assunto e nenhuma nos incentiva a mentir. Nos lembram que o amor se alegra com a verdade (Pv 12.17) e que para termos dias felizes não devemos contar mentiras (1Pe 3.10).
Depois de pensar bem na pergunta do Rafael, abri o jogo com ele, garantindo que sempre procuro dizer a verdade, pois é o correto a fazer e o que Deus espera de nós. Mas nem sempre consigo, afinal, nós, adultos, também erramos. Senti que a resposta foi bem aceita, ufa! Assim, continuamos construindo nossa relação com respeito, confiança, verdade, amor e muitas perguntas & respostas.
Aline Gehm Koller Albrecht*
Jornalista
*Assista a essa mensagem, em vídeo, no canal Youtube.com/AlineKoller
*Link da Superinteressante: https://super.abril.com.br/comportamento/mentirinhas-contadas-pelos-pais-faz-filhos-se-tornarem-mais-mentirosos/