O privilégio de ter a Bíblia em tradução

Imagine-se ouvindo a seguinte mensagem: Shemá Iisrael adonái elohênu adonái ehád. Você conseguiria entender? Sabendo que se trata de um texto bíblico, possivelmente conseguiria identificar o termo “Israel”. Trata-se, de fato, de um trecho de Deuteronômio 6.4. Aparece tal qual se encontra em hebraico, apenas transcrito com letras de nosso alfabeto. Significa: “Escute, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR”. Se não tivéssemos uma tradução, teríamos de ouvir e entender esse texto em hebraico.

Imagine-se encontrando a seguinte inscrição: Oudéis dúnatai eipéin: Kúrios Iesous, ei me en pnéumati hagío. Você seria capaz de decifrar isso? Com certeza, será capaz de identificar o nome “Jesus”. Mas que texto é esse? Trata-se de um texto grego, em transcrição ao português. É uma parte de 1Coríntios 12.3. Significa: “Ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo”.

Que bom que temos a Bíblia em tradução. Traduzir significa transferir, passar de um lugar para outro. No caso de algo que está escrito, como a Bíblia, significa passar de uma língua para outra. A Bíblia foi e ainda continua a ser passada de uma língua para a outra. Isso começou já nos tempos bíblicos, ou seja, no tempo em que a Bíblia foi escrita. Já se vê algo como uma tradução no livro de Neemias, capítulo 8, versículo 8. Mas o processo de tradução fica bem claro no Novo Testamento. Jesus, ao que tudo indica, falou a maior parte do tempo em língua aramaica. Mas o que ele disse e o relato do que ele fez veio até nós, no Novo Testamento, em língua grega. E mesmo quando um evangelista registra alguma coisa em hebraico ou aramaico, logo acrescenta uma tradução. Mateus, por exemplo, traduz Emanuel (Mt 1.23), uma expressão hebraica. Ele diz que significa “Deus conosco”. Marcos traduz a frase aramaica talitha kum (Mc 5.41), que significa “menina, levante-se”. João traduz “Messias” (Jo 1.41), dizendo que significa “Cristo”. (Nós, hoje, fazemos o processo inverso: dizemos que Cristo significa Messias.) Ou seja, os evangelhos já surgem como um texto traduzido. Jesus falou aramaico, mas as palavras dele foram escritas em grego.

A Bíblia começou a ser traduzida ainda no período antes de Cristo. Claro, na época só existia o que chamamos de Antigo Testamento. Na região do Egito, os israelitas traduziram esta parte da Bíblia do hebraico para o grego. A tradução veio a ser conhecida como “Septuaginta”. E no tempo de Jesus, lá na Galileia, a Bíblia era lida em hebraico nas sinagogas, mas alguém fazia imediatamente uma tradução falada para o aramaico. E o que Jesus disse em aramaico foi registrado em grego, pelos escritores dos evangelhos. Depois vieram outras traduções, para o latim e tantas outras línguas. O primeiro Novo Testamento em português foi publicado em 1681.

Para nós, seria muito difícil, para não dizer quase impossível, ler e entender a Bíblia, se ela não estivesse traduzida. E será que Deus quer que a Bíblia seja traduzida? Teríamos de inverter a pergunta: Será que Deus poderia não querer? Deus se fez carne, um ser humano, em Jesus de Nazaré. Ele veio e se comunicou como nós o fazemos, falando a língua que as pessoas entendem. Na visão bíblica, não somos nós que vamos até Deus, mas ele vem até nós. E a tradução da Bíblia faz parte desse processo. Por isso, que bom que a Bíblia pode ser traduzida, foi traduzida, está traduzida ao português, e continua sendo traduzida em tantas novas línguas, ainda no dia de hoje. Traduções bíblicas, muito antes de serem problema, são privilégio e grande bênção!

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