Miguel Bergmann, pastor em Cariacica, ES
“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.” Essa frase é atribuída a Joseph Goebbels, ministro da propaganda do regime nazista. O conceito implícito nessa frase é de que a repetição constante de uma afirmação pode influenciar a crença das pessoas, que passam a aceitá-la como verdadeira, mesmo que seja falsa. Basta observar as recentes mudanças culturais para perceber que essa tática é usada pelo mundo para tornar aceitável aquilo que é errado e, assim, manter as pessoas escravas do pecado.
A intenção deste texto não é criticar a repetição, mas ressaltar sua importância. Atualmente, muitos educadores têm aderido à repetição como estratégia para transmitir e fixar conteúdo. O renomado psicólogo suíço Jean Piaget, em sua teoria construtivista do desenvolvimento cognitivo, destaca que a repetição é essencial para a aquisição de conhecimento, pois as crianças precisam de múltiplas oportunidades para explorar e interagir com os objetos e conceitos antes de internalizá-los. Também o educador americano Benjamin Bloom, conhecido pela Taxonomia de Bloom, defende que a repetição é fundamental para a consolidação do conhecimento, permitindo que os alunos se movam de níveis mais baixos, como a memorização, para níveis mais altos, como a aplicação e a análise.
A repetição é tão importante que, antes mesmo de qualquer teoria moderna, o próprio Deus a ordenou ao seu povo. O livro de Deuteronômio registra: “Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração. Você as inculcará a seus filhos, e delas falará quando estiver sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se” (Dt 6.6-7). Essa ordem vale também para nós. Cabe, primeiramente, aos pais criar os filhos na disciplina e admoestação do Senhor (cf. Ef 6.4), para que desde a infância conheçam as Sagradas Letras, que podem torná-los sábios para a salvação pela fé em Cristo (cf. 2Tm 3.15). A função da igreja é consolidar a base familiar através do ensino das doutrinas fundamentais da igreja cristã.
Nesse processo, a repetição assume um papel importantíssimo como estratégia de ensino. Não uma vã repetição, mas uma revisão contínua das verdades bíblicas no intuito de transmiti-las e fixá-las na mente e no coração. No passado, usou-se muito a memorização, que tem sua importância, porém, não garante que haja compreensão. A repetição constante garante tanto a memorização como o domínio e a aplicabilidade das verdades cristãs. Como pais e como igreja, precisamos dedicar tempo ao ensino dos nossos pequenos. Os pais, lendo a Bíblia com seus filhos, ensinando-os a orar, falando-lhes do amor de Deus. As professoras de escola bíblica, dedicando-se no preparo e aplicação das histórias bíblicas. Os pastores, no comprometimento com um ensino de qualidade nas aulas de ensino confirmatório. Repetindo continuamente a Palavra de Deus às nossas crianças, as protegeremos daquelas repetições maliciosas que querem afastá-las da fé cristã.
A técnica da repetição não apenas é comprovadamente eficaz, mas foi ordenada pelo próprio Deus. E se até os inimigos da fé a usam para nos afastar de Deus, muito mais eficaz ela é quando aplicada à Palavra de Deus, pois temos como aliado o Espírito Santo, aquele que inspirou as Escrituras. Portanto, não hesitemos em repetir, sempre de novo, a Palavra de Deus aos nossos pequeninos.