Em 2023, a empresa americana Carhartt entrevistou mais de mil pessoas das gerações Z e millennials a respeito da sua visão de trabalho. A pesquisa afirmou que 46% dos entrevistados preferem trabalhar com algo que impacte diretamente a vida de uma pessoa do que ficar o dia preso em um escritório analisando dados. A ideia é chegar ao final do dia e saber que sua vocação fez a diferença para alguém.
Observando essa tendência, confesso que logo me veio à mente o ser pastor. Pastor lida diretamente com pessoas. Ouve histórias, desabafos, segredos. Vê lágrimas. Cuida de situações dolorosas. Alegra-se com momentos mais especiais de uma pessoa. Mas também está ao lado nas dores mais profundas. E, claro, também precisa estar sentado no escritório, alimentando-se de boa teologia e produzindo bom conteúdo com a Palavra de excelência que há entre nós, que é a Palavra de Deus. Já que a IELB celebra o Dia do Pastor em 10 de junho, cabe uma reflexão sobre esse tema.
Semear essa Palavra tem ganhado desafios interessantes. Na sociedade das verdades líquidas, onde tudo é relativo e volátil, é desafiador falar da Verdade absoluta que é Cristo. Sem falar no estilo de vida “espiritual desigrejado”, em que pessoas afirmam crer em algo, mas querem distância de templos e denominações. Como pastorear nesse contexto?
A pandemia alavancou a sociedade da hiperconexão. Frente a isso, o ministério pastoral precisa se reinventar. Perceber que o púlpito não está mais restrito àquele dentro do templo, mas também nas telas, nos áudios, nos vídeos. Essa hiperconexão força o pastor a ser praticamente um camaleão, adaptando sua forma de comunicar. Novos tempos pedem novas estratégias. Em meio a conteúdos duvidosos, com teologia rasa e cheia de autoajuda, a boa teologia precisa estar nas redes e fisgar corações.
Frente a tantos desafios, digo com o coração cheio de fervor: como é bom ser pastor! Mesmo que a sociedade convide a uma reinvenção constante, o ser pastor sempre será um presente de Deus. O ministério pastoral coloca o pastor dentro de lares, famílias, histórias e dilemas. Não para agir em seu próprio nome. O ministério pastoral não coloca a pessoa do pastor como mensagem. O mensageiro jamais será a mensagem. A mensagem é Cristo. E sob o chamado de Cristo para exercer o ministério da reconciliação, o pastor impacta pessoas.
Relembre alguns momentos marcantes da sua família. O pastor lá estará. Mesmo que discreto, ou com uma fala mansa e tímida, mas lá estará o mensageiro do Senhor. No batismo dos filhos. No dia confirmação. Na primeira ida à ceia do Senhor. Na cerimônia de casamento. Mas como nem tudo é festa e alegria, resgate também aquelas dores que não esqueceremos. Provavelmente, lá estava o pastor. Na conversa com o casal que estava prestes a separar-se. Com o filho que buscou ajuda no lugar errado. Visitando a vovó acamada. Indo ao hospital para a última visita ao vovô. Conduzindo a cerimônia de despedida das pessoas que mais amamos nesse mundo. Orando em um lar com um vazio à mesa. Lá estava o pastor. Falando, consolando. Segurando suas próprias lágrimas. Mas lá estava o pastor. Impactando vidas, famílias, histórias. Não por sua competência, mas porque ele sempre falará em nome daquele que o chamou.
Você já pensou em impactar vidas daqui à eternidade? Você já pensou em ser pastor? Lembre-se. Ser pastor é um presente de Deus.
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