Com certeza você sabe que temos muitas campanhas ao longo do ano que são identificadas pelo nome do mês acompanhado de uma cor, certo? Mas você já ouviu falar do Setembro Verde?
Esse título, na verdade, representa mais de uma causa, mas vamos tratar especialmente do mês da inclusão social. Talvez saibamos da importância desse tema e de como ele é tratado em lugares como escolas, universidades, hospitais, serviços de assistência social, serviços jurídicos e etc. Mas e nas igrejas? Como estamos trabalhando para incluir as Pessoas com Deficiências (PCD)?
“Nós todos reconhecemos que Cristo é para todos. Mas olhando para o nosso templo, todos podem vir e usufruir das bênçãos de Deus que nele são oferecidas?” – Liana Coliselli, em A Igreja em Movimento.
Ao refletirmos sobre esse tema, temos que partir do princípio de que cada um de nós enfrenta dificuldades, sejam elas explícitas ou não, e que, como cristãos, devemos desenvolver um olhar de amor e empatia em relação àqueles que precisam de nosso apoio e ajuda, como em Marcos 2. 1-12, onde Jesus cura um paralítico em Cafarnaum. Na ocasião nos é relatado que quatro homens conduziram o enfermo até Jesus, baixando o seu leito em meio a uma multidão. Nós estamos conduzindo as pessoas com deficiência a Jesus também? Estamos sendo a ponte que as leva até Cristo?
Jesus foi ao encontro daqueles que tinham dificuldades quando a sociedade não foi, nós, como suas testemunhas, devemos remover toda e qualquer barreira que impeça essas pessoas de ter acesso à boa notícia do Evangelho, acolhendo-as e incluindo-as, independentemente de suas condições.
“Pessoas com necessidades especiais cumprem um (ou mais de um) papel diferente na sociedade. O seu lugar é o lugar onde Deus está atuando por meio deles. Não sabemos quais são os planos de Deus para eles e carregamos suas cargas como parte de nossa própria vocação.” – Prof. Dra. Beatriz C. W. Raymann, em Lutero e a comunicação: o uso da mídia na proclamação do Evangelho.
Pessoas com deficiência possuem a sua própria vida, seus dons e maneiras de servir a Deus. Como Igreja devemos não só possibilitar o seu acesso ao Evangelho, como também incentivar o seu desenvolvimento no Corpo de Cristo. O Rev. Mario Lehenbauer em A Igreja em Movimento diz que “Todos estamos juntos na Igreja de Cristo, grandes e pequenos, fortes e fracos, para equiparmos o corpo de Cristo aqui na terra. Ele nos equipa – nos dá os dons que precisamos para realizar as obras que ele de antemão preparou para nós. (Ef. 2.10).” e diz ainda que “Todos os membros dessa Igreja tem o mesmo valor e são importantes e vitais para o desenvolvimento, crescimento e amadurecimento dela.”
Seguindo esses princípios nos perguntamos, como tornar nossas igrejas acessíveis?
O primeiro passo é ouvir, principalmente as famílias que convivem com essas deficiências. Ao nos mostrarmos dispostos e atentos a entender e aprender com cada um deles, estaremos efetivamente cumprindo nosso papel de instrumentos do Pai na vida dessas pessoas. “Venham a mim, e eu lhes darei descanso” (Mt. 11.28).
“Tornar-se uma congregação que recebe todas as pessoas é uma tarefa complexa e exigente. Requer paciência, persistência e vigilância. É necessário identificar barreiras e implementar soluções que levem a uma igreja acessível e inclusiva.” – Prof. Dra. Beatriz C. W. Raymann.
E que soluções podemos colocar em prática?
Primordialmente, devemos refletir nos nossos aspectos físicos. Nosso templo e demais dependências são acessíveis para pessoas com dificuldades de locomoção? Alguém com cadeira de rodas ou muletas consegue acessar o altar, salas, escritórios, banheiros, cozinha, estacionamento e demais dependências?
Uma pessoa com deficiência visual possuirá auxílio por meio de pisos táteis, antiderrapantes e corrimãos?
E quanto as Bíblias, são adaptadas (para braille, por exemplo)? E as de letras gigantes para pessoas com baixa visão? Será que nossos programas de culto nos slides atendem a todos? Será que é de fácil leitura pelos idosos ou pessoas com a visão limitada? E o som? Alcança a todos? Temos intérprete de LIBRAS? Usamos uma linguagem que também atenda as pessoas com dificuldades intelectuais?
E nos nossos departamentos? As reuniões ocorrem em lugares acessíveis? Nossos professores de Escola Bíblica e catecismo estão preparados para receber crianças com síndrome de Down ou autismo, por exemplo? E na Internet? Nossos vídeos são legendados? Temos a tradução para LIBRAS? Usamos linguagem simples que possibilite o uso de aplicativos de leitura de texto?
Calma! Sei que são muitos questionamentos e você pode estar pensando que na sua comunidade não há ninguém que necessite dessas adaptações. Mas será que realmente precisamos esperar?
Baseado nos conceitos que Liana Coliselli traz em A Igreja em Movimento: Não podemos pensar na acessibilidade ou na inclusão apenas porque algum membro está precisando ou porque as autoridades municipais exigem, mas porque algum ser humano precisa disso. Nossas comunidades não devem encarar a inclusão como uma obrigação a ser seguida, mas sim como uma oportunidade de fazer a diferença e tornar o Evangelho aquilo que ele é, PARA TODOS.
“Ao pensarmos e planejarmos igrejas acessíveis “é importante lembrar que elas, assim como nós, não são o centro desta ação, mas que é Jesus. Como cristãos, temos na nossa vocação o chamado em Cristo nos sacramentos e o chamado para ir ao mundo.” E neste mundo é que estão as pessoas com necessidades especiais. Isto significa que, como cristãos, não encontramos nossa identidade básica ou nos nossos relacionamentos essenciais de acordo com dons, habilidades, atributos, posses ou qualquer coisa em nós. Nós encontramos nossas identidade em Jesus.” – Beatriz Raymann apud Jack Preus – The Worlds We Construct: Bridging the Chasm between Us and Them.
Na Parábola da Grande Ceia (Lucas 14. 15-24), após receber vários ‘nãos’ de seus convidados, o anfitrião pede a seu servo que traga todos os pobres, aleijados, cegos e coxos (v. 21) e afirma que os seus convidados anteriores não provariam da sua ceia (v. 24). Raymann afirma que esse texto nos mostra como Jesus Cristo coloca, em palavra e em ação, as pessoas com deficiências dentro do círculo da unidade da Igreja Cristã. Como o Reino de Deus não é completo sem elas.
Cristo eliminou as barreiras que nos separavam de Deus. Nós também devemos eliminar as barreiras do nosso próximo afim de cumprir a vontade dele. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1 João 4.19).
Talvez não tenhamos todas as respostas, nem conheçamos todas as técnicas e normas que incluam cada pessoa e sua particularidade da melhor forma, mas Raymann conclui dizendo “muito mais importantes do que as ações e o conhecimento técnico (que são, sem dúvidas, de grande importância) são as atitudes: o sorriso, o abraço, a disponibilidade em acolher”.
Não esqueça: nossa missão é compartilhar o Evangelho. “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16.15. Leia em sua Bíblia: Tiago 2. 1-9
“Pessoas com necessidades especiais não são um desafio ou um problema. São uma benção.” – Prof. Dra. Beatriz C. W. Raymann.
Lara Silva – acadêmica de Jornalismo
Congregação Cristo, Teresina, PI