Um dos traços de nossos tempos

A preocupação excessiva com o posterior é geradora de sofrimento emocional

Não é à toa que as pessoas, hoje, estão mais ansiosas, dado que um dos traços da contemporaneidade é querer encontrar o sentido do presente no futuro. Claro, os tempos atuais definem o ser humano a partir de suas potencialidades, quer dizer, não tanto o que ele é, sua humanidade, com suas perdas e medos; mas o que ele pode produzir, realizar. Na verdade, a cartilha moderna do proceder humano em sociedade afunila a vida e sua amplitude. Consequentemente, o indivíduo fica atrelado ao que está para vir e não percebe o que já veio. E como a contemporaneidade exige um olhar fixo para o horizonte, para o mundo das previsões, o sentimento de incerteza é predominante. A incerteza gera uma construção mental de múltiplos cenários, uma infinidade de variáveis possíveis. Os mesmos cenários são apenas o profundo desejo pelo controle, evitar qualquer tipo de dano colateral. Controlar o futuro seria, pensemos assim, um tempo presente que está para vir, uma vez que o sujeito já saberia o seu desfecho. É o desejo de encontrar o presente no futuro; entretanto, sabemos que não é assim. A preocupação excessiva com o posterior é geradora de sofrimento emocional. Ela pode inibir, paralisar o ser humano para a vida; em síntese, ansiedade moderna.

Quando escrevo sobre paralisar, quero falar o seguinte para você: o futuro não pode entravar o presente. O futuro não pode ser tido como um drama permeado de incógnitas; no entanto, a pessoa precisa olhar para o chão que ela pisa. Eu estou falando do presente, esse tempo que apresenta a vida tal como ela é, com alegrias, tristezas, de experiências múltiplas. O tempo presente pode ser apontado por muitos como uma espécie de terra árida, já que ele pode ser uma surpresa repentina, pode ser duro, suave ou fugaz. O presente mostra um ser humano contínuo, minutos e segundos escoam sem cessar, pois a vida escapa por entre os seus frágeis dedos. Podemos até refletir um pouco mais acerca do traço da contemporaneidade aqui abordado: o ser humano que vive sob uma cultura que abandona o presente e sua transparência para se abrigar no alento de um futuro idealizado.

O bom futuro brota de uma vida presente intensa, com objetivos saudáveis, metas que visem o cuidado para com a vida e com o próximo. Saber que a vida não está nas mãos humanas, mas está sob os cuidados de Deus, de Jesus Cristo. O ser humano está imerso em um mundo cheio de preocupações, sintomas. São tantas dúvidas, tantos medos, um imediatismo desenfreado… em resumo, é o homem querendo ser o senhor de todas as coisas. O Filho de Deus tudo tem em seu controle, somente ele pode decidir o que é melhor para a humanidade. Diante de uma contemporaneidade com suas complexidades, Jesus irrompe para anunciar seu plano salvífico que está muito além do tempo dos homens.

Artur Charczuk

[email protected]

pastor e psicanalista em São Leopoldo, RS.

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias Relacionadas

Ações de Graças em todo tempo

Célia Marize BündchenPresidente da Região Catarinense “Graças dou por esta vida.” Assim inicia um belo hino que certamente todos nós gostamos de...

Veja também

Ações de Graças em todo tempo

Célia Marize BündchenPresidente da Região Catarinense “Graças dou por esta...

No coração, a guerra. Na Bíblia, a paz

Assista à reflexão do pastor Paulo Teixeira, secretário de Relações Institucionais da SBB, baseado em 2Co 5.18

Aos aflitos

Ao corpo de Cristo pertencem pessoas que se lembram de nós que se aproximam de nós com afeto. A presença do Criador em suas criaturas afasta o medo. João nos garante que podemos caminhar com absoluta confiança, mesmo em época de crise.