Artur Charczuk
pastor e psicanalista
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De fato, com o passar dos séculos, a medição do tempo mudou, a posição do Sol não é mais o senhor tempo. A Revolução Industrial foi um período de grandes mudanças sociais, econômicas, tecnológicas e, claro, do tempo. Máquinas a vapor, a eletricidade e seus avanços, a produção em massa, o uso do telefone e outros. Tanto que a mesma Revolução trouxe o tempo das fábricas, permeado por relações de trabalho, de descanso, de alimentação –uma relação entre a industrialização e o tempo.
E o tempo foi passando e o ser humano foi ficando cada vez mais tecnológico. Na verdade, ele sempre precisou do tempo para se desenvolver, ou seja, sempre precisou se relacionar com o tempo. Afinal de contas, sejam nas criações mais simples até as mais sofisticadas, o ser humano precisou de tempo para fazer. Falo sobre o tempo porque me perguntaram sobre ele.
Esses dias, antes da aula de estudo confirmatório, um confirmando me perguntou: “Por que o tempo está passando tão rápido, pastor”? Confesso que fiquei um tanto surpreso com a pergunta dele, afinal de contas, é um jovem nascido na era digital, com a tecnologia encrustrada em seu dia a dia. Por outro lado, ser da geração alfa não é uma tarefa fácil, dado que eles estão expostos aos sintomas da ansiedade.
A tecnologia coloca o sujeito em uma realidade de estímulos constantes, provocando uma maior sensibilidade, o chamado estresse. Com toda a carga tecnológica que o ser humano recebe hoje em dia, falta tempo para pensar sobre o tempo. Essa afirmação pode parecer redundante, mas é o que está acontecendo: falta tempo para pensar sobre o tempo.
Como já citei, a humanidade está vivendo em uma realidade praticamente digital: notificações constantemente, informações que não cessam, acumulação de tarefas que precisam ser feitas o quanto antes e assim por diante. A sensação que dá é de que o tempo está se esvaindo, terminando rapidamente. Outro aspecto para se observar são as pressões do mercado: o sujeito precisa ser produtivo, criativo, engajado, ou seja, ele não tem tempo para parar e tudo faz de uma maneira acelerada. Agora virou mania, ou quem sabe necessidade, de ouvir os áudios na velocidade 2 do whatsApp. Também assistir a vídeos, onde as informações são fornecidas em um curto espaço de tempo, ou ver filmes longos de forma acelerada.
Existem influencers que mostram seu dia a dia, já fazendo coisas antes das 9h da manhã, como uma forma de, digamos assim, driblar a escassez do tempo. Embora cada ser humano possua um tempo particular para ver, compreender e concluir, ele precisa se adequar ao tempo cronológico e à quantidade que o mesmo tempo oferta. As exigências do mundo atual atropelam o tempo pessoal do sujeito, oferecendo apenas experiências intensas de velocidade, de pressa, do “para ontem”.
A pessoa mal pode se apropriar de suas experiências do cotidiano. O que ela recebe é uma sujeição de ser apenas uma expectadora de sua própria vida. Sendo assim, parece que ter tempo, diante de um mundo imediato, é um ato de resistência. É como se os ponteiros do relógio fossem espadas afiadas, cortando o escasso tempo do indivíduo.
O tempo cronológico é burocrático, imperativo e precário. Por que o tempo está passando tão rápido? É bem provável que poderia ser colocado aqui inúmeras respostas, mas podemos ver o reflexo desse tempo dos ponteiros e segundos: ansiedade, insegurança, depressão, síndrome de burnout, esgotamento e outras coisas.
ENSINA-NOS A CONTAR OS NOSSOS DIAS
É o Salmo 90, versículo 12: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio”. Poucos são os dias do ser humano – eis uma verdadeira compreensão acerca da natureza humana. O homem através de sua tecnologia, aumenta ou suprime o tempo. Ele se angustia, se desespera, pensa ser o dono do mundo com seu aparente tempo.
Pensar sobre o tempo é saber que ele, antes de mais nada, é criação de Deus. Assim sendo, por entre os minutos, segundos e dinâmicas temporais, é chegado o momento do ser humano buscar refúgio no tempo perfeito, isto é, Jesus Cristo. É no Salvador que entendemos que não é uma questão de tempo, mas de confiança, refúgio, descanso. O único tempo que podemos entender é que pouco são os nossos dias.
As estações são testemunhas fiéis sobre o assunto tempo: as folhas secam, as flores murcham, os galhos ficam quebradiços. Assim é a vida, assim é a realidade humana. O homem precisa confiar na eternidade que a cruz providencia, concedendo salvação e perdão.
O tempo passa? Sim, mas a mensagem de Jesus Cristo, essa não. Vivamos no tempo, mas com fé na eternidade.