Conversando com Papai Noel

– Quem é você, Papai Noel?

Papai Noel – A minha história começou como Santa Klauss, bispo de Antioquia (também chamada de Constantinopla e Istambul), na hoje Turquia, onde me tornei conhecido como sábio, com muito carinho e cuidado dos menos favorecidos, tanto de minha paróquia como das vizinhanças. Fui eternizado como o “bom velhinho”, gerente da fábrica de brinquedos e piloto de trenó, entre outros adjetivos.

Hoje, uma das pessoas que me representa no Brasil é o Martinho Krebs, pastor emérito da IELB, músico (organista, cantor, regente e compositor), administrador empresarial e consultor de Recursos Humanos.

– Como surgiu a ideia e a oportunidade de ser Papai Noel?

Papai Noel – Nos idos de 280 A.D., eu era padre e me chamava Nicolau, e um dia soube que um pai muito pobre estava por “vender” uma de suas filhas para conseguir recursos para sustentar a família por mais algum tempo. Compadecido com as dificuldades daquela família, coloquei algumas moedas de alto valor num saquinho e o joguei pela janela dentro daquele pobre lar. Com esse gesto, evitei a terrível venda. Passei então a distribuir sacolinhas com dinheiro ou bolachas nas casas pobres, e se portas e janelas estivessem fechadas, jogava-os pela chaminé ou pendurava-os nas árvores próximas à porta. As famílias se acostumaram com os presentes distribuídos sempre à noite a ponto de os pais mandarem as crianças cedo para a cama, no aguardo das surpresas na manhã de Natal.

Martinho Krebs – Meu cunhado se tornou Papai Noel nas festas natalinas do Hospital de Clínicas e dali para as redes de shoppings. Ele me convidou a assumir estas vagas, já que aguardava ser chamado por alguma paróquia (igreja). Antes de aceitar o desafio, aconselhei-me com o então presidente da IELB, dizendo que, para cada pessoa que viesse falar comigo (como Noel), perguntaria: “O que você quer ganhar na Noite do Menino Jesus?”.

Quais são as alegrias e as dificuldades desta função?

Papai Noel – Atender os congregados e as famílias da região com amor e fraternidade, cuidando das necessidades materiais e espirituais de cada ser humano, além de trazer alegria e entusiasmo a meu sacerdócio, levou-me a ser nomeado bispo e canonizado “Santo”. Em 303, o imperador Deocleciano quis me tornar um deus. Neguei-me a aceitar isso, pelo que fui preso, com todos os meus paroquianos que também só aceitavam o único e verdadeiro Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Fiquei a pão e água até que o novo imperador, Constantino, libertou-me e devolveu-me o bispado de Mira, até a minha morte, em 6 de dezembro de 343.

Martinho – Como Papai Noel, posso lembrar a cada ano, a pelo menos 13 mil pessoas, as virtudes da bondade, do respeito e do entendimento familiar. Jovens, crianças e adultos se mostram receptivos à mensagem do amor de Deus e do amor entre as pessoas. Pacientes de hospitais, doentes terminais e pessoas com diferentes limitações ficam na fila de crianças e outros adultos em busca de palavras e gestos de acolhimento.

Ajuda muito dominar algumas palavras em Alemão, Inglês, Espanhol, Italiano e Francês. Há também inveja de colegas, descrença de debochados, exigências de marqueteiros, atritos da equipe que atua junto ao Papai Noel. Estou particularmente vivendo alguma repulsa ao meu trabalho por defender a não violência, aconselhando crianças a mudar seus pedidos de armas de brinquedo. O comércio desenfreado sabe ser agudo e cruel. E o bom velhinho deve dar o que as crianças pedem. Mesmo que custe muito. Que custe a consciência, a moral e os bons costumes.

– Qual é a mensagem às pessoas, em especial, às crianças em relação ao Natal?

Papai Noel – Quem é comportado, obedece pais e professores, não briga com os irmãos e deixa de chupar bico ganha presentes e tem suas preferências atendidas: bonecas e carrinhos, roupas do Homem-Aranha, computadores e tablets, celulares mais sofisticados, retorno de pais separados, entre outras. Crianças desobedientes antigamente eram chicoteadas ou ganhavam varas de marmelo; hoje são ameaçadas de serem “sequestradas” pelo bom velhinho. Os adolescentes querem passar de ano ou no vestibular. Adultos pedem o amor do consorte de volta, compreensão da família, saúde e ânimo para a vida, patrão mais tolerante e “mão aberta” ou somente a ajuda do marido nas tarefas da casa. Coisas muito materiais, mediatas e palpáveis. “Dinheiro pra dar e vender.”

Martinho – Sabendo que cada pessoa que se aproxima, só ou acompanhada de familiar ou babá, na verdade é um(a) filho(a) amado(a) de Deus e alvo do seu amor incondicional, não há como esquecer que somos enviados a compartilhar e testemunhar este amor. “Insta, quer seja oportuno, quer não”, lembra o apóstolo Paulo. Os que simpatizam com o Papai Noel e voltam várias vezes por temporada, oportunizam conversas e conselhos mais elaborados, detalhados e profundos. Entre as “não crianças” também há contatos, empatia, amizade e exemplo aos funcionários que interagem com o Papai Noel: noeletes, supervisoras, seguranças, gerentes de marketing, funcionários das lojas.

– Você acha que o Papai Noel pode ir à igreja para entregar presentes às crianças?

Papai Noel – Minha origem filantrópica dentro da igreja foi sendo esquecida depois que a figura do Papai Noel foi adotada por uma megaempresa que alterou as cores e vestimentas do Santa Klaus e sugere apenas prazer e alegria físicos. Neste sentido, não há como me admitir dentro da igreja logo após o programa de Natal: cânticos, mensagens, versinhos e pregação vão ser esquecidos assim que o Papai Noel entregar os pacotinhos.

Martinho – Sinto-me honrado em ter participado de um devocional dirigido pelo pastor Egon Kopereck no Advento do ano passado. Na ocasião, vestido e falando como Papai Noel, lembrei que: a) O Papai Noel é um ouvidor das necessidades pessoais; b) recebe pedidos por alimentos, ferramentas, medicamentos, conselhos e tudo mais que refere às carências de qualquer pessoa; c) o bom velhinho nem sempre pode dar o que lhe pedem, mas certamente pode dar um sorriso, um ouvido atento e um abraço (Jesus nasceu no Natal para ser o Deus Conosco ao abraçar o mundo, na cruz, vertendo sangue inocente pelos pecados de todas as pessoas, para torná-los filhos e filhas abençoados do Pai que nos ama e nos ensina a pedir “Pai nosso”).

Diante disso, creio que o Papai Noel pode entrar na igreja, sim, desde que aponte para Cristo (nosso Senhor e Salvador), lembre a fidelidade do bispo Santa Klauss e reforce toda mensagem de amor, distribuição de presentes e manifestações de comunhão daquele que é o presente divino a todo mundo (Cristo para todos).

– Qual o recado aos leitores do Mensageiro Luterano?

Papai Noel – Sou Santa Klauss e desejo a todos um Feliz Natal! “Ho, ho, ho!”.

Martinho – Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a Vida Eterna.

Tenho consciência de que o meu “testemunho do amor de Deus” não é a principal razão da minha contratação para ser Papai Noel. Mas a minha convicção de fé e a minha formação cristã e teológica não me permitem silenciar esta dádiva.

*Texto publicado na edição de dezembro de 2013.

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias Relacionadas

Ações de Graças em todo tempo

Célia Marize BündchenPresidente da Região Catarinense “Graças dou por esta vida.” Assim inicia um belo hino que certamente todos nós gostamos de...

Veja também

Ações de Graças em todo tempo

Célia Marize BündchenPresidente da Região Catarinense “Graças dou por esta...

No coração, a guerra. Na Bíblia, a paz

Assista à reflexão do pastor Paulo Teixeira, secretário de Relações Institucionais da SBB, baseado em 2Co 5.18

Aos aflitos

Ao corpo de Cristo pertencem pessoas que se lembram de nós que se aproximam de nós com afeto. A presença do Criador em suas criaturas afasta o medo. João nos garante que podemos caminhar com absoluta confiança, mesmo em época de crise.