O império das trevas e o Reino do perdão

Quando nascemos, já nascemos mergulhados em um império. Bem na definição pejorativa do termo, definindo império como aquele que estende seu poder sobre um povo que não é seu, que age além de suas fronteiras. Algo que, quem sabe, a horrenda invasão russa à Ucrânia nos auxilie a entender.

O império ao qual me refiro é aquele que assola toda a criação, desde o Éden. É o império do terror, da culpa, do medo. É o império da morte, que estende seus braços para agarrar cada nova vida que surge na criação, mesmo não sendo sua. Como diz a Palavra: “Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte, assim também a morte passou a toda a humanidade” (Rm 5.12).

Pertencer a este império não é opção ou escolha. Simplesmente, pertencemos. Até mesmo o bom cidadão, que paga seus impostos em dia, também está entrelaçado a ele. A força deste império agarra nossa vontade, nosso ser. Corrompe tudo. Até mesmo nossa forma de amar, amando dentro de pequenas bolhas mergulhadas em indiferença.

A grande bandeira ostentada pelo império das trevas é a morte. Nele, a morte reina, mesmo em vida. É morte que vai muito além da morte biológica. É morte em tom de condenação e castigo. Este é o império no qual nascemos. Ele nos suga, nos sufoca. Nossa força, razão e sabedoria não são capazes de nos libertar do império das culpas.

Porém, há alguém que nasceu fora deste império. Um bebezinho que não foi agarrado pelos braços da culpa. Ele não pertencia ao império das culpas, mas ao Reino onde perdão e misericórdia se renovam a cada manhã. O nome dele, todos sabemos. Jesus. Aquele que fora anunciado a José como o Salvador do povo, e, a Maria, como o Filho do Deus Altíssimo. O verdadeiro homem e verdadeiro Deus é o nascido fora do império das culpas.

Os dois períodos litúrgicos que embalam nossas vidas neste mês de abril nos convidam a manter o olhar fixo no Libertador. A Quaresma, como uma música em tom menor, nos oferece a cruz. E, nela, o nascido fora do império das culpas. Esta poderia ser a epopeia do império da morte. O próprio Filho de Deus morto! Mas a Palavra nos lembra: “o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). A morte do Redentor foi, na verdade, a libertação do império das culpas. Libertação selada e festejada no tempo de Páscoa, com canções festivas e vitoriosas, dignas da coroação de um Rei. O Salvador ressuscitou! Eis a essência do Reino do perdão: “por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos” (Rm 5.19).

No batismo nos foi dada esta libertação do império das culpas. Fomos tirados dos braços do império da culpa e colocados sobre os braços de Cristo, no Reino do perdão. Na ceia, somos renovados neste pertencimento ao Reino da misericórdia. Ao ler e meditar na Palavra do Senhor, somos fortalecidos neste Reino onde não há mais culpas, pois elas já foram pagas. Isto é graça de Deus!

Mesmo que carreguemos marcas do império das culpas, como dores e aflições, somos lembrados em mais uma Páscoa de que já estamos dentro do Reino que emana vida, perdão e consolo. Logo este Reino será revelado em toda sua doçura. Enquanto não chegar este dia, fortaleçamo-nos nesta confissão: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1.13-14).

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