Um ano novo exige muito de nós, pois é uma oportunidade de vida, razão maior de tudo. Cada ano soa como um novo enigma que precisamos decifrar. Não podemos deixar de decifrar os anos. Do contrário, assim como no antigo enigma da esfinge, os anos nos devoram. Mas não podemos olhar para o ano novo como um determinante absoluto, como se ele fosse plenipotenciário e a nós bastasse realizar o que supostamente ele já tivesse definido. Os anos não são totalidades fechadas.
Também não devemos olhar os anos como se fossem cenários passivos. Eles não são. A melhor projeção é pensar num ano a partir de condições objetivas, com uma consciência efetivamente histórica. Desejo que 2021 seja um ano muito lindo, mas preciso agir nessa direção. Todos nós temos que definir prioridades, como nos ensinou Jesus em Mateus 6.33. Não se trata de começar somente mais um ano, mas de dar continuidade a um caminho de vida.
Quanta gente daria tudo para ter um ano a mais em sua trajetória! Para outras pessoas, forçadas a se moverem no mundo a uma velocidade quase irreal, os anos voam, parecem meses… os meses, por sua vez, passam como se fossem semanas… e cada semana parece um dia. Por isso é importante lembrar que, para o Senhor, um dia é como mil anos (2Pe 3.8).
Dizem que 2021 será um ano de grandes lutas e batalhas. Mas eu não sou soldado nem tenho apreço por metáforas bélicas. Também me dizem que será um ano de complexas odisseias. Disso eu gosto. Aprecio metáforas de viagens, como a de Odisseu. Pois o segredo da viagem é saber o ponto de partida, ter esperanças no ponto de chegada e calibrar bem a dinâmica da navegação, sem perder de vista a beleza do surpreendente na travessia!
Ah, outra coisa que é fundamental nas viagens: saber o que levar! Na poesia deste 2021, creio que três coisas teremos que levar na bagagem: 1. Fé: somente com essa dádiva poderemos seguir em frente; 2. Esperança, dos verbos esperançar e esperar, pois em Cristo esperamos novo céu e nova terra, a parousia. Sintoma inestimável de almas boas: 3. Amor, que destes é o maior, pois Deus é amor e demonstrou a força de seu amor ao nos dar Jesus.
Que em 2021 tenhamos sensibilidade na alma para acolher, para ter compaixão e empatia. Que seja um ano bem “simplesinho”, sem grandes arroubos. Que seja um ano comedido, ó bom Senhor, sem surpresas.
Os anos 20 de todos os séculos são sempre glamorosos, elegantes, chiques, clássicos. Os anos 20 do século 20 foram esplêndidos. Deram origem ao conceito de vintage, isto é, um estilo de vida, elegante, nobre, gracioso. Imaginem comigo: estamos nos anos 20 do século 21! Isso parece promissor. Quem sabe possamos, amada Igreja Evangélica Luterana do Brasil, ajudar a construir a era new vintage! Mais gentileza, mais apreço a bons conteúdos, mas tato com o próximo, mais cultivo das boas artes e, sobretudo, mais testemunho do amor de Jesus.
Falar coisas boas no meio das crises pode não ser fácil. De fato, 2020 foi muito complexo, enigmático, parece que durou uma década. Para muitos, foi o pior ano da educação, da cultura, da política. Mas precisamos lançar esperança para 2021, agindo para mudar esse cenário. Que cuidemos mais da saúde, saibamos amar, perdoar, doar, aprender e comemorar a cura.
Em especial aos queridos professores e educadores deste País, que souberam aceitar o desafio imposto pela pandemia no ano letivo de 2020 sem perder a esperança, a ternura, o sonho e a doçura, dedico as palavras desta página da Presidência da IELB. Pois, neste novo ano, a esperança se renova a cada manhã.
Desejo um ano de amor e de paz. Tudo o que for a favor da vida, da diversidade, da tolerância, da igualdade, da fraternidade, da justiça social, dos direitos humanos, do direito à educação. Feliz 2021, felizes projetos de humanização e de acolhimento! Que venham os demais anos da década de 20!
Joel Müller
Vice-presidente de Ensino da IELB