O caráter intergeracional da fé

O primeiro passo para transmitir a fé aos nossos filhos é viver essa fé e viver dessa fé

Charles Samuel V. Ledebuhr
Pastor
Eunápolis, BA

Entre 2002 e 2003, um estudo encabeçado pelo sociologista da religião, Christian Smith, entrevistou adolescentes de 45 estados tentando determinar o perfil religioso do adolescente norte-americano. O resultado foi publicado em um livro chamado Soul Searching (Oxford University Press: 2005). Uma das descobertas da pesquisa foi que, independentemente da religião que o adolescente seguia, a religiosidade predominante parecia ser uma crença genérica em ser uma boa pessoa, fazer o que o faz feliz e Deus estará contente com você. Smith chamou isso de Moralismo Terapêutico Deísta. Mas outro detalhe muito interessante descoberto pela equipe de Smith é de onde eles tiravam essa crença: dos seus pais. Não é que os pais estivessem se esforçando para transmitir essa crença genérica aos filhos. É que essa crença genérica já era a dos pais, e os filhos simplesmente a estavam absorvendo, mesmo quando os pais achavam que estavam passando algo mais consistente aos filhos ou que não estavam passando nada.

Smith e sua equipe precisaram percorrer 45 estados, fazer mais de 3 mil telefonemas e entrevistar presencialmente 267 adolescentes para descobrir o que a igreja fundamentada na Bíblia já sempre devia saber: filhos foram “programados” por Deus para absorver naturalmente a fé de seus pais, seja ela qual for. Sabe quando diz nos mandamentos que Deus vai visitar a iniquidade dos pais nos filhos até a 3ª e 4ª geração, mas estender misericórdia até mil gerações daqueles que o amam e guardam seus mandamentos (Êx 20.5-6)? Deus não castiga uns pelos pecados dos outros nem ninguém será salvo pela fé de outro. É que netos e bisnetos ainda podem sofrer as consequências de repetir a iniquidade que aprenderam vendo em seus pais e avós. Ou ser abençoados por ter absorvido deles a fé salvadora em Jesus.

É uma preocupação de pais cristãos como transmitir a fé para seus filhos diante do bombardeio de influências negativas que vem do mundo. Mas esquecem que têm uma “vantagem” sobre esse mundo: seus filhos foram “programados” por Deus para serem mais influenciados por seus próprios pais ou aqueles em sua vida que ocupam esse lugar (no caso daqueles que são criados por avós, tios, etc.). Mas o que os filhos vão naturalmente absorver é a fé que seus pais realmente têm, não a que eles dizem ter. Não adianta nada bater ponto todo domingo de manhã na igreja e viver como se aquela horinha semanal não tivesse nada a ver com o resto da vida.

Além disso, pais precisam realmente se fazer presentes na vida dos filhos. Os pais têm essa “vantagem”, mas, se a negligenciarem, os filhos vão naturalmente procurar substitutos de quem absorver a fé. Podem ser outras pessoas mais velhas na família ou vizinhança, professores ou, pior, na internet. A coisa com os influenciadores digitais é que eles realmente influenciam.

O primeiro passo para transmitir a fé aos nossos filhos é viver essa fé e viver dessa fé. Devoções familiares diárias, o exemplo de uma vida cristã mesmo que contracultural e um culto que se estende à vida da semana são coisas que nossos filhos podem absorver naturalmente só por crescer conosco nesse ambiente. Como Deus quis que a fé tivesse esse caráter intergeracional (passasse naturalmente de pais para filhos), o primeiro passo se quisermos que essa seja a fé de nossos filhos é que ela seja, de fato, a nossa. Aquela que for a fé que predomina em nossa vida é a mais provável de ser também a de nossos filhos.

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