Quando me pediram para escrever neste espaço tão precioso de reflexão, me passaram mil temas pela cabeça. Mas aí, ouvindo as mesmas conversas de amigas, encontrei o assunto: a nossa eterna falta de tempo. Já escrevi sobre isso na revista Servas do Senhor e retomo do mesmo ponto: talvez não seja o tempo que nos falte, mas a forma como o gastamos.
A gente clama por mais horas no dia. Trabalho, família, lazer, cuidados pessoais e médicos, estudos… Nossa lista só aumenta, e o tempo disponível parece estar cada vez menor. Então começamos a ter pressa e ansiedade para dar conta de tudo.
Eu gosto de observar o que acontece comigo e ao meu redor, e vejo uma correria e uma falta de paciência sem tamanho. Quando a tela do celular tranca, xingamos. Se o sinal abre e o carro da frente não avança, buzinamos. Se o filho conta algo pausadamente, o apressamos. Os exemplos são muitos, mas o ingrediente é sempre o mesmo: a falta de tempo… ou será de paciência?
No livro A Terceira Medida do Sucesso, de Arianna Huffington, ela fala que nossa sociedade está acometida da síndrome da fome de tempo, ou seja, nossa cultura está obcecada com o tempo. Estamos sempre tentando poupá-lo, mas a sensação é de que ele nunca é suficiente. Temos agendas lotadas, sem intervalos, para economizar cada minuto. Usamos aplicativos para aumentar a produtividade. Cortamos tudo o que parece não produtivo da rotina para colocar algo que renda mais sucesso no trabalho.
Aceleramos tudo. Nossos computadores e celulares, nossos filmes, nossas orações, nossas refeições e nosso sono. Sim, dormimos cada vez menos e comemos cada vez mais rápido para, depois, gastarmos muitas horas em tratamentos médicos. Parece que quanto mais preenchemos nossa vida com dispositivos e estratégias para poupar tempo, mais apressados nos sentimos.
Mas como diz o ditado: a pressa é inimiga da perfeição. Cedo ou tarde essa correria desenfreada nos cobra a conta. Há estudos que mostram que pessoas apressadas e impacientes têm maior risco de ter hipertensão. A pressa também é aliada do ganho de peso, pois comer rápido significa comer mais, já que o cérebro leva cerca de 20 minutos para enviar sinais de saciedade ao corpo, ou seja, quem come devagar come menos. A criatividade também é prejudicada pela pressa. Um estudo publicado no Harvard Business Review mostra que, sob pressão, a criatividade acaba sendo morta.
Acredito que o velho e o bom equilíbrio precisa voltar a fazer parte de nossa vida. Que tal se, ao invés de fazer tudo mais rápido, fizermos na velocidade certa? Precisamos também rever a forma como lidamos com as tecnologias. Se os aparelhos eletrônicos nos escravizam e deixam ansiosos, que tal os deixarmos um pouco de lado? Troque o celular por um bom livro, ouça música ou dê uma caminhada. Aumentar o bem-estar dá uma sensação de que temos mais tempo disponível. E, por fim, suma com aquela lista de projetos e afazeres acumulada por meses. É libertador livrar-se de um projeto distante, demorado, e realizar ações a curto prazo e que estão ao alcance no momento.
E deixei para o final, o ingrediente mais precioso: tire um tempo especial do seu dia para ler a bíblia e orar. Em Eclesiastes 3.1-11, encontramos a certeza de que é Deus o Senhor do tempo, quem comanda e conduz tudo em nossa vida, de acordo com a sua vontade. Ele quem permite que algo aconteça ou não, no seu tempo. Quando lemos a Palavra de Deus ou oramos, é importante pedir sabedoria e paciência para compreender a sua vontade, que muitas vezes é bem diferente da nossa. Dessa forma, conseguiremos viver confiantes de que é Deus que está no comando de cada minuto de nossas 24 horas diárias.
Marcia Andréa Ruppenthal Otharan
Jornalista e membro da Congregação Santíssima Trindade, Joinville, SC