Existem pessoas que gostam de carros ou motos. Para elas, não é difícil perceber a diferença entre carros que parecem quase iguais. A diferença de um ano para outro, por exemplo. Para quem só se preocupa em saber como se liga o automóvel, essas pequenas diferenças não têm maior importância.
Mais ou menos assim é com a Bíblia. Quem não é muito chegado, pode pensar que as bíblias são todas iguais. E, até certo ponto, elas são iguais. Hoje, é claro, existem tantos tamanhos e tantas capas que a gente fica cada vez mais se perguntando: Qual é a diferença? Quando comprei a minha primeira Bíblia, no século passado, todos os exemplares eram mais ou menos iguais. A Bíblia era um livro de uns cinco centímetros de lombada, quase quadrado, de capa preta.
Deixando de lado a questão do formato, será que as Bíblias são iguais quanto ao texto? Não. Existem pequenas diferenças de tradução entre elas, incluindo as edições da Sociedade Bíblica do Brasil. É disso que trata o presente artigo.
A primeira Bíblia que comprei era um exemplar da Almeida Revista e Atualizada. Era a única Bíblia que estava à venda naquela livraria. Mal sabia eu que existia, como ainda existe, uma edição mais antiga: a Almeida Revista e Corrigida. E hoje, é claro, temos também a Nova Tradução na Linguagem de Hoje. E uma nova atualização da Atualizada, a Nova Almeida Atualizada.
A Bíblia de Almeida tem esse nome porque Almeida é o sobrenome do primeiro tradutor da Bíblia completa (ou quase completa) para a língua portuguesa. O nome do tradutor é João Ferreira Annes de Almeida. Ele era pastor protestante de nacionalidade portuguesa. Foi pastor na pequena vila de Batávia, na ilha de Java, uma região que, hoje, faz parte da Indonésia. Publicou o Novo Testamento em português no ano de 1681, ou seja, mais de 340 anos atrás. O texto inicial de Almeida teve de ser atualizado e corrigido. Isto explica o nome Almeida Revista e Corrigida. Esta é uma edição mais antiga da Bíblia de Almeida, com um português que, às vezes, nos soa esquisito. Podemos dizer que é um português de outro tempo, de trezentos anos atrás.
Por volta de 1950, o texto do antigo Almeida foi atualizado, aqui no Brasil. Esta é a Almeida Revista e Atualizada. Agora o português já soa mais bonito. É uma Bíblia mais fácil de ler, porque os revisores se preocuparam com a sonoridade do texto. Mais fácil ainda de ler é a Nova Almeida Atualizada, que foi lançada em 2017. Além disso, uns vinte e cinco anos atrás foi publicada a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, que diz tudo de forma simples, mais ou menos como um escritor brasileiro de nosso tempo escreveria a mensagem bíblica.
Nada melhor do que fazer um teste, para comparar as diferentes traduções. Tomemos o texto de 1Timóteo 5.3, que traz o desafio extra da distância cultural. Em tradução bem literal do grego, Paulo escreveu: “Viúvas, honra as realmente viúvas”. Na Almeida Revista e Corrigida, de três séculos atrás, isso foi traduzido por “Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas”. Na Almeida Revista e Atualizada (meados do século passado), o texto ficou um pouco mais elegante: “Honra as viúvas verdadeiramente viúvas”. Viúvas que são verdadeiramente viúvas? Será que poderia haver “falsas viúvas”? A Nova Tradução na Linguagem de Hoje (começo do século 21) nos ajuda: “Cuide das viúvas que não tenham ninguém para ajudá-las”. A Nova Almeida Atualizada (2017), por manter-se na tradição de Almeida, preserva parte da linguagem antiga, mas deixa o texto mais compreensível, nos moldes da NTLH: “Honre as viúvas que não têm ninguém para cuidar delas”.
Percebe-se que as diferenças entre uma e outra edição da Bíblia são, em geral, diferenças quanto à maneira de expressão. As palavras mudam, mas o significado é essencialmente o mesmo. Quem tiver paciência para ler com cuidado e começar a refletir sobre o que leu, chegará à conclusão de que isso é, de fato, assim.
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