Os discípulos estavam perplexos. A popularidade do Mestre crescia, vinha gente de Jerusalém, da Galileia, da Samaria, da Idumeia, de Tiro, de Sidom; formaram-se grupos, pessoas que não se conheciam procuravam Jesus. O profeta tomou um barco, afastou-se alguns metros do litoral para comunicar-se com todos; em outras ocasiões falava de lugares elevados. A multidão não permitia que Jesus e seus auxiliares tratassem de assuntos pessoais. Os discípulos queriam algumas horas para descansar, para refletir, para se alimentar. Não lhes restava tempo nem para comer um pedaço de pão. O relato é de Marcos (3.20-27). Como estar com os outros se não temos oportunidade de estar conosco mesmos? Movemo-nos entre a vida pública e a privada. Ficamos aflitos com tarefas que perturbam horas de descanso. Os sobrecarregados são acolhidos, enfim, por Maria, mãe de Jesus, em companhia com parentes próximos. A família de Maria tinha aumentado muito, Jesus tinha escolhido discípulos, tinha criado laços afetivos entre pessoas de várias idades, dedicadas a diversas profissões, havia entre eles até um cobrador de impostos, Mateus.
Jesus sentiu que o momento mandava ficar com a multidão. O motivo de estarem juntos era Jesus. Além de doentes, Jesus era procurado por pessoas aflitas, desesperançadas, gente que andava no mundo sem saber por quê. O Criador tinha entregue o cuidado do jardim ao primeiro casal Adão e Eva; a tarefa de Jesus, Deus e homem, era cuidar do mundo. Jesus via o mundo aglomerar-se em torno dele.
Entre pessoas que procuravam ajuda, levantou-se a voz de adversários, representantes de grupos religiosos que o acusavam de príncipe dos demônios. Jesus os chamou à parte para esclarecê-los. Ele tinha vindo para combater o mal, para afastar causadores de males. Como poderia ser confundido com malfeitores? A presença de Jesus era urgente. Se ele se retirasse por alguns momentos para descansar, outros tratariam de destruir o que ele construía. Os discípulos estavam longe de entender o que acontecia. Viam na dedicação do Mestre empenho preocupante. Pediram o auxílio dos parentes mais próximos (a mãe, irmãos) para chamá-lo à ordem. Na opinião deles, Jesus estava fora de si.
Jesus rompe fronteiras, a familiar é uma delas; convidado a se recolher, recorda vínculos universais estabelecidos pelo Criador. A voz divina tinha garantido a Abraão que os descendentes seriam numerosos como as areias do mar e as estrelas do céu. A multidão que dirigia apelos a Jesus representava a humanidade. Deus cria vínculos onde vínculos se romperam. A aproximação dos povos é dificultada pelos demônios da violência, da opressão, da exclusão, da guerra. Daquele que é completamente Outro, esperamos tudo. Deus, autor de impossíveis, incarnou-se em Cristo para restaurar elos rompidos.
Natal, festa que amplia laços familiares, reúne multidões em todas as partes do Globo. Não nos assombrem ruídos, profanação, demônios a serem removidos. No centro das multidões brilha o rosto de uma criança, o Prometido para renovar vidas, para inaugurar novos tempo. A semente cai sobre rochas, sobre superfícies cobertas de espinhos. Grãos minúsculos geram árvores frondosas. Desde o primeiro Natal, o berço do Redentor localiza-se longe dos centros em que se decidem assuntos relevantes. Somos fragmentos perdidos num mar de desorientados. Nossa confiança não repousa em nada que proceda da terra: o vigor do território nacional, ou a representatividade da sociedade em que atuamos. A Palavra que se fez carne reúne os que se dispersaram, chama-os pelo nome para inscrevê-los no livro da vida.
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