Quem está nas trincheiras ao seu lado?

Quando a gente casa, traz uma bagagem para a vida a dois. Nessa bagagem, estão os valores aprendidos em casa, as experiências de relacionamentos anteriores, nossa profissão talvez, sonhos e desejos.

Daniela von Mühlen
Psicóloga Relacional Sistêmica – Terapeuta de Casal e Família
https://danielavonmuhlen.com/ ou @danielavonm

Junho é o mês dos namorados. Vemos vários encontros de casais acontecendo, programações especiais, fotos nas redes sociais e incentivo do comércio em presentear a pessoa amada. Tudo isso é bom, e esse artigo também será sobre esse tema.

Ao escritor norte-americano Ernest Hemingway é atribuída a seguinte reflexão: “Quem está nas trincheiras ao seu lado? E isso importa? Mais do que a própria guerra!”

O casamento é uma guerra? Não. A vida é uma guerra. São batalhas e mais batalhas. O casamento é a nossa trincheira. É uma aliança feita em amor, sem ser obrigado. Foi desejado pelo casal. É melhor serem dois do que um.

Nesse sentido, deixamos as piadinhas de lado, memes sobre família, casamento ou integrantes da família. Isso deve ser evitado, pois não acrescenta em nada e machuca quem está nas trincheiras ao seu lado. Observe suas palavras e comportamentos em relação ao seu companheiro ou companheira.

Mas o que significa casar? Podemos utilizar a linguagem das forças armadas, por exemplo: Como um soldado se prepara para o “front”? Com treinamento intenso e contínuo. Alguns princípios são muito valorizados, como o companheirismo. Soldados são treinados para se protegerem, se for necessário, um deve morrer pelo outro, ninguém fica para trás, e por aí vai…

No casamento, também devemos cultivar valores como responsabilidade, companheirismo, respeito, confiança. Esses e outros valores devem ser aprimorados, lembrados e colocados em prática diariamente, sempre.

Quando a gente casa, traz uma bagagem para a vida a dois. Nessa bagagem, estão os valores aprendidos em casa, as experiências de relacionamentos anteriores, nossa profissão, talvez, sonhos e desejos. Nosso cônjuge também traz a bagagem dele. Cabe a esse casal abrir suas bagagens e conversar sobre elas, fazer acordos do que fica e do que não nos pertence mais. Cada um terá que abandonar alguma prática da vida de solteiro para viver agora a vida de casado, e isso não deve ser motivo de sofrimento, mas, sim, de acordos, para conseguirem viver intensamente e plenamente as maravilhas da vida de casados.

Toda escolha gera uma renúncia. Toda renúncia pode gerar expectativas, cobranças e frustrações. Então conhecer bem a sua bagagem antes de casar é essencial. O autoconhecimento é algo precioso também na vida de casado, pois somos pessoas inteiras que se relacionam, não somos a metade da laranja de alguém, somos inteiros que se somam.

Procurar algo que nos falta no outro ou acreditar que podemos mudar o outro em benefício próprio são expectativas fadadas ao fracasso. Somos inteiros, com qualidades e defeitos.

A cantora Marcela Taís, em sua música “Vai passar rápido”, fala o seguinte: “Não foi para essa vida que fomos feitos. Não podemos nos completar aqui. Pois, dentro de nós, há uma alma pulsando sem fim”. Isso é muito significativo e verdadeiro, sempre vamos ter uma sensação de vazio nesta vida, mas não cabe ao outro a missão de preencher este vazio, você deve aprender a lidar com isso.

Então, como fazer um casamento dar certo? Qual a receita da felicidade na vida de casado?

Podemos destacar três pilares da vida conjugal:

  • Comunicação e sexualidade
  • Carreira e finanças
  • Saúde física, mental e espiritual

Esses são fatores que implicam diretamente no dia a dia de um casal e precisa ser observado sempre. Lembrando também que, na vida conjugal, assim como em qualquer relação, a responsabilidade é compartilhada, 50% para cada um. A busca da felicidade, a construção do amor, da vida conjugal, da família, passa por esses pilares.

Freud dizia: “Qual é a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?” Pois bem, construir uma relação, “fazer um casamento dar certo”, é responsabilidade sua também, é uma via de mão dupla. Os acordos devem ser renovados e as responsabilidades revisitadas para que não sobrecarreguem um, para que não anulem um, para que cultivem o amor e sejam felizes para sempre.

Sonhem juntos, façam planos juntos, tomem decisões juntos, lembrando que vocês decidiram casar, e manter essa decisão exige dedicação diária.

Cremos em Jesus como nosso Salvador e, através dele, na certeza da vida eterna. Não sabemos se vamos conhecer nossos pares lá no céu, mas sabemos que nosso par é um pedacinho do céu aqui na terra, ele que está nas trincheiras da vida ao nosso lado e nos ajuda a manter a fé e a lutar as batalhas da vida enquanto estivermos por aqui.

Valorize seu casamento! É um presente de Deus.

Mas se seu casamento não estiver sendo fonte de alegria, procure ajuda. Aconselhamento pastoral ou terapia de casal. É possível se reconectar, reajustar, quando há interesse e disponibilidade das duas partes. Sempre é tempo de mudar, de melhorar, de reconstruir.

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