Uma nova rosa no caminho da vida

Porque a Verdade que nos liberta não é uma miudeza deste mundo, que, com muito esforço, nosso entendimento possa logo abarcar. É o próprio Cristo Todo-poderoso, que revela por suas cicatrizes de Crucificado o amor eterno com que o Senhor da Vida nos atrai para si.

Cesar M. Rios
Pastor em
Miguel Pereira, RJ

A rosa de Lutero – também chamada de brasão ou selo – é conhecida por resumir em uma imagem a mensagem da Reforma. Quem já conhece pode saltar o parágrafo seguinte. Quem não conhece encontrará ali uma explicação básica:

A cruz preta no coração lembra a necessidade da fé no Crucificado para a salvação. Ela deixa o coração na sua cor natural, porque “o justo viverá pela fé”. O coração está em uma rosa branca para lembrar que a fé concede paz e alegria. A rosa é branca e não como a mais comum, vermelha, para lembrar que a paz e a alegria nos são concedidas não da mesma forma comum o mundo se propõe a concedê-las. O azul do entorno lembra a esperança da alegria celestial. Por fim, o anel de ouro lembra que a preciosa bem-aventurança celeste não tem fim.

É um símbolo singelo da fé viva e da vida cristã! É uma lembrança de nossa caminhada esperançosa! Neste dia 31 de outubro, quando celebramos os 507 anos do início da Reforma de Wittenberg, quero destacar essa mensagem, esse sentido, porque faz parte e muda a vida de muita gente.

Falo por mim: Desde muito cedo, eu soube da salvação que há em Jesus. Graças a Deus, sempre entendi que era pelo sacrifício de Cristo que eu podia ser aceito por Deus. Contudo, nem sempre esteve tão claro para mim como os benefícios da obra de Cristo podiam realmente me alcançar. Afinal, como a realidade dessa Cruz podia estar no meu coração, me conceder aquela paz e alegria, mantendo em mim a esperança que não se frustra e me conduzir à eterna bem-aventurança, mesmo com todas as minhas limitações e todos os percalços do caminho? Eu vivia momentos de fé e confiança com grande alegria, mas atravessava a duras penas os momentos de provação, os vales sombrios da vida. Algumas vezes, parecia-me que, por qualquer escorregão em uma pedra com lodo, eu poderia cair e ficar por ali longo tempo. Isso seria terrível. Outras vezes, eu me iludia, convencendo-me de que estaria tudo bem, como que por decreto, mesmo que lá ficasse, inerte, afastado. Independente da saída da vez, a verdade é que os vales me afligiam e me desgastavam. No fundo, muitas vezes, eu não sabia bem a que me agarrar.

Conheço muitas (e cada vez mais) pessoas com experiências parecidas. São pessoas que eram já cristãs, mas que, em certo momento, compreenderam melhor a mensagem. Reconheceram a bênção concedida a elas de graça desde o Batismo! (Ah, que enorme diferença saber que fomos desde aquele dia revestidos de Cristo, como diz o apóstolo Paulo!) Reconheceram o poder do Evangelho proclamado! (Como é bom ouvir sempre de novo a Boa Nova quando nos damos conta disso!) Puderam se dar conta da Comunhão que temos na Santa Ceia instituída pela Palavra de Cristo! (O mesmo Corpo e o mesmo Sangue daquele que por mim morreu na Cruz! Que maravilha poder receber em mim, pequeno e precário mortal, a comunhão com o meu Senhor que ressuscitou e vive para todo o sempre!)

Como eu, esses muitos aprenderam a olhar para esses meios que Deus nos ofereceu, tanto nos momentos de trilha aberta, quanto nos trechos mais nebulosos da travessia. Como eu, descobriram que não era preciso simular força e valentia. Abandonaram aquela aparência de espiritualidade inabalável, porque se viram acolhidos na verdadeira espiritualidade, que não precisa confiar no próprio coração, emoções ou opiniões.

Por tudo isso, neste Dia da Reforma, queria dizer mais que tudo: “Obrigado, Senhor!” E sei que se unem a mim nessa expressão de agradecimento todos esses irmãos do Caminho que, um dia, não eram luteranos. E sei que nos acompanham com a mesma convicção aqueles que, mesmo sendo luteranos desde sempre, um dia, se deram conta e disseram: “Nó! Eu sabia que isso que aprendi desde criança era bom, mas vejo hoje que é melhor do que eu podia imaginar!” Espero, no fundo, que todos vivam uma experiência parecida, não uma vez somente, porque é assim ainda hoje para mim, mesmo depois de muito ler e reler, meditar e voltar a meditar. É assim, sim, porque a Verdade que nos liberta não é uma miudeza deste mundo, que, com muito esforço, nosso entendimento possa logo abarcar. É o próprio Cristo Todo-poderoso, que revela por suas cicatrizes de Crucificado o amor eterno com que o Senhor da Vida nos atrai para si.

Feliz dia da Reforma!

Se você não entende ainda como isso pode ser tão bom, dê uma olhada melhor pelos caminhos da vida, pelos vales e colinas. Tem uma rosa muito especial por aí. Vale a pena você reparar melhor nessa nova rosa, que é a mesma de antigamente, e que pode falar ao seu coração. Escrevo com certo otimismo, como se vê, porque algo que fica muito claro para mim neste dia é que Deus é bom! E é bom mesmo!

Para saber mais sobre a Rosa de Lutero, sugiro essa conversa de outros tempos:

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