A missão é um elemento central da vida cristã, mas muitas vezes é vista como uma responsabilidade exclusiva de pastores ou somente com projetos e ações da própria denominação. Porém, a missão, em sua essência, é a participação ativa de todos os cristãos na obra de Deus. Este artigo busca explicar como a Missão Compartilhada, baseada no conceito da missio Dei (missão de Deus), pode ser uma abordagem inspiradora e acessível para cristãos de várias denominações, sem deixar de lado nossa profundidade confessional luterana.
Missão de Deus: o pilar da Missão Compartilhada
Antes de tudo, é essencial entender que a missão não é nossa, mas de Deus. A missio Dei, ou “missão de Deus”, nos ensina que toda obra missionária é conduzida por meio do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A igreja, como corpo de Cristo, é um instrumento dessa missão, e não a fonte dela.
Essa compreensão nos liberta de uma visão limitada e institucional da missão. Quando entendemos que a missão de Deus acontece em diferentes espaços, podemos enxergar outras denominações e projetos como parte do mesmo trabalho que Deus está fazendo no mundo. Em vez de nos isolarmos, somos chamados a unir esforços e conhecimento, levando a contribuição da doutrina luterana como uma ferramenta valiosa nesse contexto mais amplo.
Missão Compartilhada: trabalhando com outras denominações
Em São José dos Campos – SP, onde servi como pastor até dezembro de 2024, tive a oportunidade de vivenciar a Missão Compartilhada em ações conjuntas com outras denominações. Por exemplo, participamos de projetos como capelanias hospitalares e trabalhos em casas de recuperação de dependentes químicos, jogadores anônimos, Steiger (evangelismo com jovens), Christian Vision (evangelismo digital), CTPI (Centro de Treinamento para Plantadores de Igreja), Renovar Nosso Mundo, IMU (Imersão na Missão Urbana), Hora Luterana e MPC (Mocidade Para Cristo). Esses ambientes reúnem cristãos de diferentes tradições, mas com um propósito comum: levar a mensagem de Cristo às pessoas que precisam de consolo e esperança.
Nesse contexto, a doutrina luterana não é apenas um diferencial, mas uma contribuição essencial. Nossa ênfase na graça de Deus, nos sacramentos e na centralidade da Palavra, oferece equilíbrio e clareza em meio a perspectivas diversas. Muitas vezes, nosso papel é ajudar a trazer coerência teológica e prática para questões que surgem nesses ambientes. Isso nos mostra que trabalhar junto com outras denominações não enfraquece nossa identidade; pelo contrário, a fortalece, ao mesmo tempo em que enriquece a missão de Deus.
Missão nas Redes Sociais
Outro espaço onde a Missão Compartilhada tem se mostrado essencial é o ambiente digital. As redes sociais abriram possibilidades inéditas para alcançar pessoas que antes pareciam distantes. Congregações de várias denominações têm utilizado essas plataformas para transmitir cultos, compartilhar mensagens bíblicas e oferecer conteúdo evangelístico.
Nesse cenário, nossa doutrina pode ser uma grande aliada para esclarecer dúvidas e oferecer respostas bíblicas fundamentadas. Trabalhar em conjunto com outras denominações no ambiente digital é uma forma de maximizar o alcance da mensagem de Cristo. Projetos como podcasts, programas de rádio e transmissões conjuntas são oportunidades valiosas para mostrar ao mundo que, apesar de nossas diferenças, somos unidos pela fé em Jesus.
O papel da congregação local
Embora a Missão Compartilhada envolva esforços com outras denominações e projetos, ela não substitui o trabalho da congregação local. Pelo contrário, a fortalece. Quando membros da igreja participam de ações conjuntas na cidade ou nas redes sociais, eles retornam à congregação mais motivados e inspirados. O trabalho local e o colaborativo se complementam, formando um ciclo saudável de crescimento e aprendizado.
Por exemplo, na congregação Cristo Vive, incentivamos os membros a se envolverem em projetos missionários fora do ambiente congregacional. Alguns participam de grupos de pedal, outros de clubes de leitura ou atividades comunitárias. Esses espaços são oportunidades para viver e compartilhar a fé de maneira natural. O testemunho pessoal, aliado ao suporte teológico da doutrina luterana, torna esses encontros verdadeiros momentos de missão.
Reflexões e desafios
A Missão Compartilhada nos desafia a abandonar uma mentalidade isolacionista. Trabalhar com outras denominações exige humildade, respeito e uma disposição para aprender. Mas também oferece a oportunidade de mostrar como a nossa tradição pode contribuir para a missão de forma única e enriquecedora.
Esse modelo também nos lembra que Deus está agindo em todos os lugares, muitas vezes de maneiras que não enxergamos imediatamente. Ao nos abrirmos para colaborar com outras denominações e explorar novos territórios, como as redes sociais, estamos nos unindo ao que Deus já está fazendo.
Conclusão
A Epifania, que celebra a manifestação de Cristo ao mundo, nos convida a refletir sobre o papel da igreja como luz que aponta para Jesus. Assim como os magos foram guiados por uma estrela, a Missão Compartilhada nos chama a sermos sinais de esperança e fé em nossos contextos. Essa missão é uma maneira de vivermos a missio Dei em sua plenitude, alcançando pessoas onde quer que estejam e levando o evangelho a “todas as nações”.
Ao unir forças com outras denominações e atuar em diferentes espaços, estamos participando de algo maior do que nós mesmos. Nossa doutrina luterana, com sua ênfase na graça e na Palavra, contribui de forma única para iluminar o caminho de muitos que ainda não conhecem Cristo. Trabalhar em parceria não enfraquece nossa identidade; pelo contrário, fortalece nossa fé e amplia o alcance do evangelho, refletindo o amor divino que une o corpo de Cristo em sua missão no mundo.
Lucas Pinz Graffunder
Pastor da IELB em São José dos Campos, SP, até dezembro de 2024
A partir de 2025, vai pastorear a Congregação Rei Jesus, Novo Hamburgo, RS