Artur Charczuk
pastor e psicanalista
Você já ouviu falar em René Descartes? Nascido lá pelos idos de 1596, ele foi filósofo, físico e matemático francês. Certa vez, ele disse: “Penso, logo existo”. Essa foi uma declaração central do raciocínio de Descartes, isto é, o duvidar é a prova cabal da existência. Para ele, a razão é fundamental para o ser humano. Mas não quero me aprofundar em René Descartes, quero apenas aproximar o raciocínio dele, com a realidade que os seres humanos passam hoje. Quero começar com a palavra hiperexposição, que está em alta.
Na atualidade, aparecer é ser, é sentido, é identidade. Quanto mais o ser humano aparece, mais ele encontra um porquê para sua vida. Do jeito que as coisas estão indo, o ser humano pode ser entendido como aparecer humano, ou seja, ser é aparecer.
Mas afinal, qual a necessidade da imagem na vida do homem moderno? A hiperexposição é a exposição excessiva que o sujeito realiza. Ela distancia o indivíduo do que ele realmente é, ou seja, a hiperexposição é uma espécie de afunilamento psicológico, dado que, no ambiente digital, hiperexposição rima com felicidade permanente.
A tal da felicidade permanente abafa o subjetivo do indivíduo tal como ele é: dramas, desafios, frustrações e assim por diante. Hoje, público e privado estão fundidos, sem limites ou características próprias. É muito comum achar nas redes sociais, situações de todos os tipos: exposição de intimidade, amores descartáveis, pessoas mostrando suas vidas com glamour, brigas, surtos, etc. Tudo é para prender a atenção do outro e gerar likes ou curtidas. A pessoa percebe o outro como um porto seguro para sua existência.
O século 21 traz complexas questões acerca do silenciamento da dor, pois o sofrimento não fica bem em uma foto ou uma selfie. Na esteira de disseminação da supressão da dor, os caminhos aparecem e não são poucos: coachings, programas de lifestyle, estética e por aí vai.
O “penso, logo existo”, na contemporaneidade, poderia ser “apareço, logo existo”. Pensar sobre a afirmação de Descartes hoje é perceber que o pensar foi substituído pelo programar. O objetivo é aparecer, e aparecer cada vez mais, para assim, a pessoa encontra seu ser, sentido e identidade. É o tripé do apareço, logo existo.
POR ACASO, NÃO CLAMA A SABEDORIA?
A sabedoria está lá no capítulo 8 de Provérbios. Em uma contemporaneidade tão superficial, tão atrelada ao aparecer, Provérbios nos faz um grande chamamento. O Senhor é a nossa sabedoria; sabedoria que precisa ser ouvida. Jesus Cristo é a sabedoria máxima, saber provindo de sua obra expiatória, isto é, um saber que traz vida e vida em abundância. Busque a sabedoria autêntica, genuína e ofertada para os seres humanos, busque a Jesus Cristo, suficiente Deus e Senhor. Hiperexposição? Não, mas arrependimento e perdão através do Salvador. Apareço, logo existo? Também não, o ser humano existe a partir do perdão e reconciliação com Deus, por meio de Jesus, ou seja, o homem existe em Cristo. Ao invés de “apareço, logo existo”, pensemos “Jesus Cristo, sou perdoado e existo”.