A casa em que moramos

Quem ouve minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha (Mt 7.24).

Donaldo Schüler

Professor e escritor

[email protected]

  Le Corbusier, arquiteto revolucionado, simplificou a moradia, destacou a cor branca, removeu ornamentos, projetou espaços funcionais, ideou prédios imensos compostos de grande número de unidades adaptadas à circulação de veículos, adequadas ao desenvolvimento industrial e comercial, declarou a casa uma máquina de morar.  A casa é mais do que máquina. O Criador nos colocou numa casa, a atmosfera é o teto que nos protege do bombardeio de corpos estranhos, o sol e a lua iluminam o dia e a noite. Solo fértil, correntes líquidas, ares moventes preservam e renovam a vida. Encantam-nos noites enluaradas, delicia-nos a brisa da tarde à sombra de árvores, espantam-nos montanhas que se levantam de vales profundos, adormecemos ao murmúrio de regatos. Se agredimos as rochas, os minérios, o solo, a água, o ar, agredimos a casa que Deus nos deu como morada.

          A casa universal divide-se em unidades que abrigam grupos. Orientados pela casa que recebemos, erguemos abrigos para nós mesmos e para os que nos são próximos: pais, cônjuges, filhos. Morada é o lugar em que se guardam recursos, lugar de planejamento, projetos. Mundos particulares são feitos de relações vividas, assumidas. Em convívio com outros conheço e me reconheço. A morada é lugar em que nos recolhemos dentro de nós mesmos. O habitar sabe ser silencioso, habitar é conversar com o Criador. Desertos alargam-se dentro nós. O deserto ameaça a vida. Aconselhamo-nos com o Criador para dinamizar o espaço habitável. Dádivas compreendem compromissos. Tive fome e me destes de comer, declara Cristo.

          Participamos da construção do corpo em que moramos. O corpo é morada em construção, nunca concluída. Estar no mundo não se limita a estarmos juntos. Quem habita cultiva, produz, cuida. A esperança nos conduz, o que ainda não é poderá ser. A construção começa quando somos concebidos. Longos anos de aprendizado nos preparam para realizar tarefas que garantam a subsistência. Morar é construir, é construir-se, é aperfeiçoar as paredes que nos protegem. Estabelecemos vínculos afetivos com o lugar em que moramos, elaboramos redes afetivas com outros grupos. Participamos do esforço de oferecer casa para todos, saúde e alimentos para todos. Ameaçam-nos adversidades. Fora da casa nos sentimos desprotegidos; longe de casa, vem-nos o desejo de voltar.

           Cristo recomenda cuidar de não levantar a casa sobre areia. Areais se movem, a areia ameaça a segurança dos que a elegeram como fundamento. A casa é espaço ameaçado: terremoto, enchente, incêndio, arrombamento, inquietações, dúvidas. Ideias, ideologias movem-se como dunas sopradas pelo vento. Deus nos ampara em solicitações superiores às nossas forças, Deus é o lugar de possibilidades infinitas.

          Temos dificuldade em desprender-nos do que construímos. Todas as casas são provisórias. Acumular é prender-se, propriedades são algemas. Conduzidos por Cristo, caminhamos. Cristo nos promete morada mais segura do que as conhecidas, vivemos na esperança. A comunidade é o lugar em que nos reunimos para exprimir dúvidas, para refletir sobre o sentido da vida, para cantar, para agradecer, para louvar. Na comunidade caminhos convergem. As coisas podem ser diferentes.

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias Relacionadas

Paz em meio à guerra

Dependendo exclusivamente da graça de Jesus!

Veja também

Paz em meio à guerra

Dependendo exclusivamente da graça de Jesus!

A verdadeira história precisa ser contada

O nosso salvador Jesus nasceu! É preciso falar ao mundo esta notícia maravilhosa

Novos mestres e pastores são diplomados

Foi concedido o grau de Mestre em Teologia Livre para oito formandos e habilitados dez novos pastores para servir à Igreja