O termo Epifania vem da lingua grega: ?????????: que significa “manifestação, aparição”. Este termo é próprio do calendário da igreja cristã e raramente é usado fora dele, pois ele sempre lembra a manifestação do nosso Senhor. Há um dia específico para comemorar a Epifania, dia 6 de janeiro. Nesse dia, é lembrada a visita dos magos, por isso também chamado de “Natal dos gentios”, ou seja, Natal dos não judeus (Mt 2.1-12). Pois as primeiras manifestações se deram para judeus, só depois para não judeus. É o Filho de Deus dando-se a conhecer ao mundo. E é a primeira demonstração de que Cristo veio para todos.
O dia da Epifania cai num domingo somente a cada sete anos. E como este dia não é um feriado, ele pode passar despercebido, e sua mensagem causar pouco impacto.
O batismo de Jesus
Dentro do espírito de manifestação, o domingo seguinte ao dia da Epifania é lembrado o batismo de Jesus. Ele é considerado tão importante que os quatro evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João, dão destaque a ele. E, para acentuar essa importância, os evangelhos mostram que o céu se abriu, e o Espírito de Deus desceu em forma de pomba, e se ouviu a voz do Pai falando do céu. Jesus sendo batizado, o Espírito Santo descendo em forma de pomba e o Pai falando. É a Santa Trindade unida no batismo. Esse grande destaque, dado ao batismo de Jesus, nos convida a refletirmos sobre o valor do batismo para a nossa vida. É uma oportunidade para falar e pregar sobre a importância do batismo.
A época da Epifania
Além do dia da Epifania, comemora-se também a Época de Epifania. É o período que vai desde o dia 6 de janeiro até o dia da Transfiguração do Senhor, domingo anterior ao início da Quaresma. A Epifania culmina com a Transfiguração de Jesus, dia que nos dá uma visão antecipada da glória no céu. Assim, a ênfase desta época é a manifestação de Jesus Cristo como verdadeiro Deus ao mundo.
O ponto de partida da Epifania é a visita dos magos ao menino Jesus. Mas quem eram eles? De onde e quando vieram? Para que vieram? A respeito deles temos poucas certezas e muitas suposições.
A tradição diz que eles eram reis, mas a Bíblia não diz isso. Sabemos que eram magos. E magos eram homens sábios que estudavam as estrelas e eram pesquisadores de outras ciências. A tradição também diz que eles eram em número de três, porque foram entregues três presentes. Mas também não se tem certeza disso, podem ter sido mais. Em se tratando de estudiosos, a comitiva não dever ter sida pequena. É possível que tenha vindo uma escolta de segurança.
Diz o evangelista Mateus (Mt 2.1) que eles vieram do Oriente, mas não diz o lugar exato. É possível que tenha sido da antiga Babilônia, onde hoje fica o Irã e o Iraque. Eles viram uma estrela diferente e a seguiram. Sabiam que ela indicava o lugar do nascimento de um rei e de ser ele o Messias prometido. Mas como sabiam disso? Acontece que, 500 anos antes, o povo de Israel viveu durante 70 anos no cativeiro babilônico. Ali cultivaram sua religião. Entre eles estavam Daniel e outros profetas. Daniel era um homem muito sábio. Ele até foi nomeado chefe dos sábios da Babilônia. Foi conselheiro de reis na Babilônia. Foi testemunha fiel de Deus no palácio destes reis que dominavam o mundo na época. É possível que ele tenha falado de uma estrela que indicaria o nascimento de um novo Rei. Assim, de alguma forma, eles tinham o conhecimento da profecia a respeito do Messias ser o Salvador da humanidade. A estrela especial lhes deu a convicção de que o tempo tinha se cumprido. Porém, nisso há muita suposição. De verdade, sabemos que eles eram estrangeiros e que viram a estrela do Messias. A estrela é um símbolo forte da Epifania.
A Epifania nos ensina que temos de anunciar a Palavra sempre, sem esperar que os frutos sejam colhidos de imediato.
O ministério de Jesus e os seus chamados
Na Epifania também é lembrado o início do ministério de Jesus. As leituras dos evangelhos para a época falam dele. É muito forte para esta época o milagre da transformação da água para o vinho no casamento de Caná. Com este milagre “ele manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo.2.11). Este relato não tem a intenção de falar do casamento em si, mas mostrar que a obra salvadora de Jesus estava iniciando.
É impressionante também como o trabalho de João Batista apontou para Jesus como “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”(Jo 1.29).
Quais as oportunidades que a Epifania nos fornece?
Ou, perguntando de outra forma, como aproveitar melhor a riqueza da Epifania? O contexto das leituras bíblicas do Lecionário Trienal para a Epifania é extremamente rico. São essas leituras a melhor resposta e nos dão várias orientações.
1. As leituras do Antigo Testamento para a época enfatizam o chamado dos profetas. As leituras dos evangelhos mostram Jesus chamando seus discípulos para serem pescadores de gente. E as leituras das epístolas enfatizam o chamado e o ministério dos apóstolos.
A Epifania é uma excelente ocasião para falar da vocação para a formação teológica e para falar do chamado e do ministério pastoral.
2. Tendo ênfase na manifestação, a Epifania é uma boa oportunidade para destacar a missão de Deus no mundo. O espírito missionário está muito forte nos relatos das diferentes pessoas pelas quais Jesus se deu a conhecer, a começar pelos magos do oriente. Nessas abordagens, fica evidente que Jesus é a única possibilidade de o ser humano ter acesso a Deus e à vida eterna. E a salvação do pecador só acontece por causa da Epifania do Senhor. Epifania é a manifestação do amor de Deus em Cristo Jesus. Cristo continua se manifestando através da sua Palavra e dos sacramentos. E, firmados na ação de Deus em Cristo Jesus, todos os cristãos são chamados a manifestar o evangelho em palavras e ações. A longa viagem em lombo de camelos, mostra que os magos não mediram esforços para adorar o menino. Eles saíram do silêncio, contrariando talvez os que os desaconselhavam. Eles tinham um grande propósito em mente: “Nós vimos a estrela dele no Oriente e viemos adorá-lo”(Mt 2.2). A Epifania nos conclama a sair do silêncio da fé e a manifestar ao mundo que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
3. Os cultos da Epifania deveriam ter a linguagem da manifestação do Senhor e do espírito missionário. Os hinos para esta época, principalmente do Hinário Luterano, tem uma linguagem muito rica da Epifania. Eventualmente, em lugar de cantá-los, podem ser recitados como poemas ou em forma de oração. Na oração geral da igreja, de cada culto da Epifania, pode-se orar pelos pastores da IELB espalhados pelo mundo e pelo despertar de novas vocações.
4. Epifania é o tempo para reafirmar o “Cristo para todos”, lema da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Dos nossos púlpitos, isso devia ser dito com coragem e ouvido com clareza. O “Rei dos judeus” veio para ser Salvador de todos.
5. Lembrando a presença dos magos que vieram adorar o menino, o dia da Epifania é um momento próprio para falar do fundamento bíblico da adoração. Há uma brilhante culminância desse tema no dia da Transfiguração, que encerra a Epifania. Lá o assunto pode ser retomado com o propósito do Pai falando de seu Filho: “Escutem o que ele diz” (Lc 9.35). É a oportunidade para mostrar que o enfoque principal do culto não está no dar, mas no receber de Cristo. E ele se manifesta no culto através da proclamação da Palavra e da administração dos sacramentos batismo e santa ceia.
6. No gesto de abrirem seus tesouros e ofertarem generosamente seus presentes, o dia da Epifania pode ser oportunidade para falar da oferta cristã que nasce do amor de Deus. Quem crê em Cristo como seu Salvador, não há de ficar passivo diante do amor de Deus e há de se prostrar e adorar ao seu Criador e lhe ofertar o melhor da sua vida.
Em todas as suas manifestações, Jesus mostrou ao povo que era o Filho de Deus, o Cordeiro de Deus que veio ao mundo trazer salvação a todos. Que o amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus, nos encha de alegria para adorar, ofertar e testemunhar.
BIBLIOGRAFIA
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David Karnopp
Pastor
Vacaria, RS