Aos meus avós, em tempos de isolamento social

Quando eu era pequena, minha avó Carmem Huf me deu de presente uma xícara, tão pequena quanto eu era na época, que dizia: “Ser feliz é… mesmo à distância, continuar ligado”, acima de um desenho de uma menina ao telefone. Aquela xícara sempre fez sentido, porque moramos longe até hoje. Anos depois de ganhar o presente, a situação está um pouco diferente: eu agora uso canecas com tamanho normal (mas a xícara parece ser ainda menor), “continuar ligado” é mais profundo do que fazer uma ligação e “Ser feliz é…” não é uma frase tão simples de se completar. Vó Carmem, muito sábia, parece que sempre soube como… A casa dos meus avós sempre teve cheiro de pão caseiro, som de música antiga (que para mim soa como nova), e um sentimento geral de que vai ficar tudo bem.

Podemos dizer que não estamos felizes, porque neste período de quarentena, nos preocupamos mais. Sentimos mais falta e não podemos nos abraçar, apenas acenar por uma tela que não é o suficiente para matar a saudade. Mesmo assim, há algo em meu coração que me deixa feliz. A felicidade da minha avó sempre esteve baseada no amor de Deus e sua esperança sempre esteve à mostra. Hoje, posso dizer que temos a felicidade mesmo se nos sentirmos os menores seres do mundo, do tamanho da xícara que ela me deu há muitos anos, e percebermos que, na verdade, somos. “Ser feliz é…” disse minha avó, “continuar ligado”. Estamos ligados ao amor de Deus e uns aos outros pela nossa fé, a que meus avós espelham em suas ações. A xícara era do tamanho ideal para uma criança que só a usava para tomar achocolatado e lembrar da avó. Hoje, é de apertar o coração para me lembrar (ou nos lembrar, eu e minha irmã, Muriel Huf) de que nossa “vozinha” e nossos avós nos amam e continuam ligados por nós. Afinal, sem família, o que somos? Menos que poeira de um grão… Agradeço aos meus avós pela esperança!

Tábata Huf

São Paulo, SP

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