Esta semana eu estava lendo algo a respeito das representações sociais. Um debate interessante sobre as heranças culturais que são assimiladas inconscientemente. Repetições de hábitos e comportamentos, sem pensar exatamente no porquê se está fazendo isto. Não se pensa, apenas se repete. “Passar por debaixo da escada dá azar”, “comer melancia com leite é fatal”, “sexta-feira 13 é dia de azar”. Eis aí belos exemplos de heranças culturais que, às vezes, são impensadas, apenas repetidas de geração em geração. E, muitas vezes, sem fundamento.
Um grande perigo é quando essa repetição impensada invade a área do crer. Ao invés de apegar-se ao conteúdo, apega-se às formas. Ao invés do conteúdo do crer ser Jesus, com sua morte e ressurreição para perdão dos pecados, perigosamente pode apegar-se apenas às meras repetições de hábitos e costumes de uma congregação, de uma igreja. Grande perigo é esquecer-se do conteúdo e apegar-se apenas ao formato. Há uma frase que convém lembrar, do teólogo americano Jaroslav Pelikan: “tradição é a fé viva daqueles que já morreram, tradicionalismo é a fé morta dos que ainda vivem”. Tradição é conteúdo, é Jesus, é a Palavra de Deus. Tradicionalismo é costumes e hábitos vazios em si mesmos, apenas uma casca vazia.
Jesus, quando cercado de vidas que apenas repetiam hábitos religiosos, usa as palavras do profeta Isaías para dizer que “este povo com a sua boca diz que me respeita, mas na verdade o seu coração está longe de mim” (Mc 7.6). Viver apegado apenas a hábitos religiosos é continuar com o coração vazio. A maravilhosa graça de Deus quebra a repetição de hábitos impensados. Mexe com o coração. Faz pensar. Muda o viver. Transforma o ser. Cria vontade de louvar, cantar, orar, agradecer, viver, servir. Não é algo frio e mecânico, de repetição. É fé viva, cheia do Espírito Santo. É fé criativa e pensante, atuante. É totalmente dependente da bondade e misericórdia de Deus. Brota do perdão que Jesus oferece a todos.
Então fica a dica: a repetição de hábitos religiosos é vazia em si mesma se Jesus não estiver presente. A fé cristã não é apenas de boca, mas de coração.