Sentimentalismo e a pregação da Palavra

Imersos em uma cultura religiosa popular, não raras vezes, somos levados a confundir fé cristã com sentimentalismo. Nessa mistura, que pode ser catastrófica, podemos balizar a existência da fé cristã (talvez até a presença do Espírito Santo) apenas se os sentimentos vierem à tona, em uma verdadeira epopeia de emoções.

Pensando assim, o sermão bom é aquele que faz chorar. O louvor genuíno é aquele que faz fechar os olhos, bater palmas. Estar cheio do Espírito Santo é sentir o peito queimar. Se isso não acontece, a igreja é morna. Tem algo de errado. A pregação não é eficaz. O louvor não é genuíno. As pessoas não têm o Espírito Santo. A igreja não é viva. Será mesmo?

Claro, Deus nos criou com sentimentos e emoções. Elas não são antagônicas à fé cristã. Sentimos tristeza pelo pecado. Paz pelo perdão. Esperança para a vida eterna. Alegria pela salvação. Até mesmo o emocionar-se diante de uma canção ou de uma mensagem pode acontecer. O perigo é condicionar esses sentimentos à presença do Espírito Santo, na ideia de que quanto maior for o espetáculo das emoções, maior está sendo a ação do Espírito do SENHOR. Será mesmo?

Correndo os olhos pelas Escrituras, vamos observar os profetas do SENHOR. Qual era a função deles? Explorar os sentimentos do povo? Não. “Assim diz o SENHOR”. A tarefa era replicar a vontade de Deus. Condenar o erro. Alertar para os perigos. Comunicar a sentença do juízo. Anunciar a misericórdia e o perdão. Moisés, servo do SENHOR, tão pesado de língua e de boca (Êx 4.10) poderia hoje não estar nos holofotes das ondas dos coachings espirituais que vemos aqui e acolá. E a mensagem de Jonas, que transformou toda uma enorme cidade (que nem mesmo o profeta esperava que acontecesse), era cercada de apelos emocionais ou um “daqui a 40 dias Nínive será destruída?”.

Ah, e o dia de Pentecostes? Pedro, cheio do Espírito Santo fez seu sermão com um forte apelo emocional, fazendo malabarismos com os sentimentos da multidão em Jerusalém? Ou foi algo bem racional, lógico, fundamentando-se nas Escrituras, com argumentos sólidos a respeito do envio do Messias, citando profetas, aplicando o cumprimento das profecias em Jesus e colocando sua morte e ressurreição como fundamento da fé e da salvação? Aprecie Atos, capítulo 2, sob este olhar. E apreciemos a consequência. Que sim, teve sentimentos. De pesar. “Compungiu-se-lhes o coração” ao reconhecer o tamanho de sua culpa, diz a Escritura. E foram perdoados, salvos!

A Palavra pode, sim, despertar em nós sentimentos variados. O livro dos Salmos é testemunha disso. Alegria, aflição, gratidão, lágrimas. Porém, não são núcleo ou termômetro da fé. São consequências. Que, por vezes, podem florescer. Vez por outra, não.

A pregação da Palavra, quando cristocêntrica, é eficaz. Mesmo que ela não arranque de mim um sorriso ou uma lágrima. O louvor, quando tem por conteúdo a salvação pela fé em Cristo, é genuíno – até mesmo quando o cantamos sem palmas ou um pouco fora do tom. Estar com o peito ardendo em fogo, infelizmente, não está na lista dos frutos do Espírito Santo de Gálatas, capítulo 5. Aliás, seria melhor ir a um cardiologista, logo.

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