Artur Charczuk
pastor e psicanalista
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Este artigo propõe-se a fazer um aprofundamento teórico sobre a experiência de desamparo na atualidade. Primeiramente, quando falamos sobre o assunto desamparo, é válido lembrar sobre o recém-nascido. Ele precisa de ajuda para sobreviver. A ação de terceiros é vital para a subsistência do bebê. A ajuda essencial está na figura do adulto, isto é, ele responderá aos sinais de apelo do nenê. Essa comunicação que acontece e que se estabelece entre a criança e a sua mãe é sumamente importante para o desenvolvimento psíquico. Sendo assim, o sentimento de desamparo já está existente nas primeiras experiências de vida. É o resultado, digamos assim, de uma incompletude do organismo. Da necessidade de realizar permutas com a realidade e da grande dependência do auxílio dos outros. Com isso, também já mencionado em linhas anteriores, é necessário frisar: a figura da mãe tem um importante papel para o desenvolvimento emocional do recém-nascido.
A mãe é como uma intérprete do bebê, ela decodifica seus medos e ansiedades. A figura da mãe capta as informações que aparecem nas manifestações da criança. Com uma boa relação e comunicação, o nenê se sente amparado. A mãe é fonte de amor e proteção, mas caso isso não ocorra, quando a empatia materna não se realiza diante das demandas do recém-nascido, ele pode desenvolver um psíquico frágil. Os pais organizam a teia emocional da criança através de ensinamentos que expressam situações de sins e nãos. Eles ensinam o certo e o errado, o que deve fazer e o que não deve fazer. E os mesmos ensinamentos serão os fundamentos para a criança, futuro adulto, viver e conviver em sociedade.
O SUJEITO DESAMPARADO NA CONTEMPORANEIDADE
Assim como os pais oferecem o suporte emocional necessário para o desenvolvimento da criança, ou seja, a segurança, o amparo, a orientação, a necessidade da subsistência psíquica, não cessa com o término do tempo da infância; em outros termos, estando na fase adulta, o indivíduo ainda precisará suprir suas necessidades psíquicas. A pessoa necessita do objeto protetor; o adulto, mesmo com todas as faculdades em saudável ordem e com um bom acesso à realidade, carregará o sentimento do desamparo. Sim, o homem moderno, descobridor das mais variadas orbes celestiais através da razão, sente insegurança. Rastro da infância em corpo adulto, assim caminha o ser humano em sociedade.
Como muitos estudiosos afirmam, o ser humano perpassa pela época chamada pós-modernidade. Período convidativo para o questionamento dos paradigmas que são os condutores de sentido para o homem que vive em sociedade. Portanto, tudo deve ser colocado em dúvida, tudo é passível de questionamento, nada mais assegura um significado concreto da realidade. Consequentemente, com o apogeu da dúvida, o homem caminha sobre um chão sem alicerce. Ele não tem onde se segurar, ele não tem onde se abrigar, isto é, o indivíduo não encontra um sentido confiável para depositar seu psicológico, dado que tudo está aleatório. A criança que não encontra algum lugar para se segurar, sente medo; o adulto que não encontra algum sentido para depositar seu psiquismo, sente medo. O ciclo chamado pós-modernidade tenciona em constituir um ser humano desamparado.
Com o advento do discurso da dúvida, determinadas instituições que tinham o papel de assegurar o indivíduo ficaram enfraquecidas. Suas exposições, antes tidas como norteadoras e asseguradas pela luz da aceitação, foram abaladas pelas forças da incerteza. Toda instituição é produtora de significado para o ambiente social, o significado auxilia o ser humano a se relacionar com si próprio, com o outro e com a realidade. Como a dúvida corrompeu o desenvolvimento do sentido, o vazio se apresenta como condição do indivíduo contemporâneo. Visto que o indivíduo, além de não experienciar o que é oferecido pelas instituições, termina não significando algo palpável para si, o sujeito não se apropria emocionalmente e tomba na ausência, no que está suspenso, na dessimbolização, no desamparo.
O indivíduo, sem um repertório de significados, não consegue atribuir algum sentido à realidade. Com uma insuficiência simbólica, o sentimento de angústia emerge com grande força. Além do discurso da dúvida, o contexto da superficialidade das informações, o consumismo exacerbado e a aceleração da vida são adições para a formação do sujeito contemporâneo e desamparado. Destarte, o sujeito busca por, pensemos assim, próteses para suprir o desamparo: vícios, compulsões, satisfações e assim por diante.
SOLIDÃO NA MULTIDÃO
Estamos no tempo da fragilidade das instituições e da transitoriedade. A sociedade presente possui teias relacionais efêmeras, ocasionando uma transformação na temporalidade do contato entre as pessoas. Tudo está determinado por uma quantidade de tempo, o tempo mecânico, estipulado pela ordem social e suas prescrições consumistas; anula o tempo pessoal, ou seja, o que é do indivíduo, natural, seu próprio tempo. Com uma comunicação cronometrada, vínculos mais concretos são cada vez mais raros. Um ser humano impermanente, cronometrado, condicionado pelo virtual é tencionado para o individualismo. De fato, para uma boa singularidade é essencial uma saudável vivência na coletividade.
É PRECISO AMPARO
A sociedade precisa mudar, sem dúvida. Existe uma grande necessidade de paradigmas mais sólidos, mais fundamentados e que supram o grande vazio que se alastra cada vez mais por entre os seres humanos. Que os mesmos deem orientações que assegurem o bem-estar do indivíduo, assim, os dilemas do desamparo contemporâneo poderão ser elaborados. Com os laços emocionais mais fortalecidos, o homem atual poderá mirar para um futuro com mais amparo.
NOSSA ALMA ESPERA NO SENHOR
De fato, em um mundo cada vez mais desamparado, o povo de Deus é convidado a colocar sua confiança unicamente no Senhor. Eu gosto muito do salmo 33, especialmente do versículo 20: “Nossa alma espera no SENHOR, nosso auxílio e escudo”. O mundo corre de um lado para o outro, fugindo desesperadamente do sentimento de vazio. Através da fé, o cristão é chamado para a misericórdia em Cristo Jesus. Jesus supre qualquer espécie de vazio, esperançando os corações humanos. Nosso amparo está na cruz. Estamos no período da Quaresma, época convidativa para encontrarmos o tão necessário descanso nas feridas do Filho do Deus. Jesus abraçou o amargor da morte para conceder o precioso evangelho e sua doçura para a humanidade pecadora. Leitor: Jesus é o nosso auxílio, escudo para os desamparos da vida. “Nossa alma espera no SENHOR”; sim, espere, descanse no Senhor, um amparo que não vem do tempo dos homens, mas da eternidade de Deus, de Jesus Cristo.