Pastor Artur Charczuk
pastor e psicanalista
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O que você, leitor, mais vê quando acessa o Facebook ou Instagram? Ilustrações, né! Pessoas, pets, objetos, casas, viagens, sorrisos, momentos e por aí vai. As novas culturas da imagem não priorizam preservar o passado, como aconteciam nos antigos álbuns de família. Com o advento das imagens virtuais, os likes postados nas fotos são fontes de instantes eternos. Explico: o like, também conhecido como legalzinho, é como um mantenedor da ilustração, ou seja, para ela não cair no esquecimento. Enquanto ela estiver recebendo as curtidas, a imagem será mantida no presente, não ficará na lembrança, é um instante eternizado. Sendo assim, a ilustração não é mais algo voltado somente para o passado, mas é um instante que almeja permanecer no presente. É como um retrato projetado. Sua característica predominante é ser melhor que o original – não é à toa que existem os aplicativos para editar rugas, sinais, linhas de expressão, bigode chinês, etc.
Vamos ser sinceros: tais aplicativos visam construir uma espécie de casca virtual sobre a imagem da pessoa. Com a casca pronta, a foto é oferecida para os outros navegadores verem e clicarem um legalzinho na imagem fabricada, isto é, eternizar o instante. A imagem deseja, em princípio, mostrar uma pessoa diferente do que se é. Mas funciona como um espelho distorcido, tentando valorizar o que tem de melhor e escamoteando aquilo que não é tão admirável. Apresenta o que supõe que os outros esperam.
Milhões de pessoas nutrem essa fantasia. O empenho é absoluto e suas maneiras encaixam-se dentro de algo criado para agradar os outros. Deixam de se vestir, de se comportar e até pensar coisas que acreditam não combinar com sua imagem. Por consequência, o ser humano acaba se sentindo desvinculado de si próprio, como se sua personalidade não existisse. Seja qual for a forma de convivência com a imagem ideal construída, pode ser algo bem perigoso. A partir do momento em que ela é instalada, o verdadeiro jeito de ser do sujeito é anulado, sua individualidade é descartada. Com a individualidade desprezada, a pessoa concorda com o jogo e torna o seu viver uma constante atuação.
Viver uma imagem significa, na verdade, organizar um jogo com as outras pessoas, consigo mesmo e com a vida. Quem vive uma imagem tem sempre medo de não corresponder à expectativa dos outros. Representar é um desgaste emocional e de grande frustração. Viver no faz de conta é uma renúncia e uma agressão que o indivíduo faz a si próprio, representando que ele não gosta o suficiente de si mesmo. O mundo das imagens perfeitas é um caminho solitário por entre os desertos das aprovações dos outros. É não descobrir sua própria verdade, mas a verdade que o outro deseja.
As imagens moldadas pelos aplicativos nada mais são do que montantes de medos e inseguranças que o indivíduo carrega dentro de si. O grande medo de perder o afeto do outro, de ser reprovado pelo outro. Refletir sobre a imagem que está sob a ditadura do perfeccionismo é perceber que o irreal quer dominar o real. Likes e aplicativos querem moldar o real através do virtual. As pessoas estão cada vez mais negando os efeitos da idade, não querendo aceitar os pés de galinha, rugas e outras coisas. Negam, simplesmente negam e preferem o irreal.
As inversões podem causar sofrimentos: depressão, angústia, ansiedade, medo, incerteza e outras situações psíquicas. O homem não é um ritual estético, forjado pelo desejo do outro, pelas considerações dos demais. Ele é um ser com sua individualidade, com suas características particulares, únicas. O homem é uma criação de Deus, ele é a coroa da criação, obra amorosa do Criador. A dependência do ser humano não deve ser horizontal, isto é, o ser humano com o ser humano, mas na vertical, ou seja, o ser humano com Deus. E o instante eternizado? Deixe para o mundo horizontal, estejamos firmados, leitor, no vertical, na verdadeira eternidade, na verdadeira imagem, Jesus Cristo.